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A Jornada

Guilherme Travassos Sarinho


O pensamento voa. É como diz o provérbio. E voa mesmo. Não só de um lugar para outro ou de uma pessoa para outra que nos deixaram lembranças, porém, voa também para o futuro e com mais facilidade, ao passado. Principalmente naqueles dias em que estamos sorumbáticos como hoje. Talvez porque o dia esteja meio escuro, chuvoso e o bater da chuva no vidro da janela nos traga esse langor nostálgico, ou, quem sabe seja a idade a causadora, porque, quando passamos de uma certa estação da existência, já vemos o fim da estrada, depois de um longo viajar por muito tempo por caminhos difíceis, ásperos, pedregosos às vezes, e, às vezes, por regiões mais amenas, mais calmas e mais bonitas.
No entanto, de uma coisa temos certeza: estamos perto do fim dessa jornada, cansados, exauridos, todavia cônscios do dever cumprido, de haver vencido todas as etapas dessa andança ignota, algumas com mais dificuldades, mais sofridas, outras nem tanto. No epílogo dessa árdua tirada, olhando para trás, tudo é visto com uma clareza incrível, dá para se ver todo o trajeto percorrido ao longo de todos esses anos a despeito da tortuosidade e dos altos e baixos dos caminhos. Há que se perguntar: será que compensou? Será que valeu a pena? A resposta é sim, valeu, porque se vivenciamos sofrimentos vários, também tivemos bons momentos, vimos muita coisa boa, conhecemos lugares bonitos e pessoas especiais. Somos sortudos, pessoas exclusivas, espíritos inteligentes e esforçados, mormente, quando olhamos para trás e vemos caídos tantos companheiros que não conseguiram concluir a jornada, alguns tombando no caminho logo na saída, outrem, já perto da chegada. A trabalheira que deu para chegar foi grande e grandiosa, no entanto, tudo somado, foi uma viagem arrebatadora, magnífica, fantástica. Eu faria todo o trajeto de novo. E, metafisicamente falando, quem sabe se não voltarei a realizar uma caminhada semelhante? É como diz o pensamento shakespeariano: “há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar a vossa vã filosofia”. Claro que só estou filosofando, pois ao bom entendedor, meia palavra basta. Os pensamentos agora não são mais conflitantes, todavia, claros, lúcidos, embora emblemáticos e algumas vezes taciturnos, no entanto, continuam a jorrar em torvelinhos na mente e na alma, talvez, por conta da chuva que continua a cair e se chocar contra a vidraça da janela ou, quem sabe a culpa seja do dia que está invernoso e tristonho e da jornada que está chegando ao fim.

Guilherme Travassos Sarinho
João Pessoa, 28 de maio de 2023.
Academia Paraibana de Medicina

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