Os médicos do Hospital Napoleão Laureano convivem diariamente com uma situação dramática: a cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS) só é suficiente para atender 1,1 mil pacientes. A questão é que, em maio passado, o número de pacientes na quimioterapia foi igual a exatos 1.423. Um dos resultados dessa diferença é que desde o início do ano, o déficit entre serviços prestados pelo Laureano e os valores pagos pelo SUS ao hospital chegou a R$ 300 mil. E este não é um caso isolado. A situação está sendo gerada lá no início do processo: a distribuição dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) está acontecendo de forma diferenciada no atendimento hospitalar brasileiro. Enquanto para cada paraibano o sistema envia R$ 72,27, cada paulista vale R$ 100,66 e ninguém consegue explicar a diferença. O resultado se vê na ponta. Lidando com o teto financeiro imposto pelo governo federal, o Laureano viu serem registrados mais 2.656 novos casos de câncer no ano passado e, mesmo com uma expectativa de redução para este ano, a estimativa é de outros 2.635 novos casos ao longo de 2007. E o hospital não sabe como vai fazer para dar conta desta demanda. A dívida só foi reduzida, porque um convênio com o governo do Estado para o repasse de R$ 90 mil por mês foi renovado. Até agora, no entanto, só foram pagas duas parcelas, deixando a diferença em R$ 120 mil. Este recurso estadual está saindo do Fundo Estadual de Combate à Pobreza e o convênio está sendo renovado a cada seis meses. “Se perdermos este recurso, não sei como vamos fazer. Para onde vou encaminhar estes pacientes?”, questiona o diretor do hospital, João Simões. O problema é que a quase totalidade destes pacientes a que Simões se refere é dependente do SUS e não teria como ter acesso ao tratamento de outra forma. E o que torna a situação ainda mais insustentável é exatamente a pequena quantidade de usuários dos planos privados de saúde, já que menos de 10% dos paraibanos tem acesso a esses serviços, enquanto em São Paulo, quase metade da população tem. Isso significa dizer que, enquanto 90% da Paraíba depende exclusivamente do SUS, em São Paulo, este índice cai para 53%. Ou seja, o bolo, que já é maior, é dividido proporcionalmente por menos gente. Pelo menos 90% dos pacientes do Laureano procuram atendimento através do SUS e umas destas pessoas é a comerciante Fátima Ribeiro, de 50 anos, que há um ano retirou um câncer da mama e já enfrenta o segundo ciclo de quimioterapia, depois de ter passado também pela radioterapia. Apesar da espera para ser atendida, ela diz que não reclama, porque, afinal, “melhor isso do que ficar sem assistência médica”. Levando em consideração apenas a população nesta situação, a diferença entre os valores per capita pagos pelo SUS fica ainda mais gritante: cada paraibano recebe R$ 78,32 e cada paulista recebe R$ 172,82, um valor 120% maior, segundo cálculos do Conselho Estadual de Saúde. Em números globais, isso significa que, se a Paraíba recebesse o mesmo volume de recursos que cada usuário do SUS em São Paulo recebe, a saúde do Estado contaria com R$ 339,8 milhões a mais. Este valor seria suficiente para atender, por exemplo, outra população do tamanho da Paraíba com os valores que são pagos atualmente. “As diferenças regionais estão levando nosso sistema hospitalar à beira do caos”, alerta o presidente da Associação dos Hospitais da Paraíba, Francisco Santiago Pereira. Todos esses dados fazem parte de um relatório, publicado ano passado, da Organização Mundial de Saúde (OMS). * Sem dinheiro, atendimento é prejudicado Pelo menos 70% dos hospitais da Paraíba não têm resolutividade, ou seja, não conseguem fazer diagnósticos nem tratamento de pacientes de média e alta complexidade. Este foi um dos resultados de uma fiscalização feita pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) do Estado no ano passado. A explicação para este quadro está exatamente no desequilíbrio entre os serviços oferecidos e os valores repassados para pagá-los. “É como se diz por aí: um hospital que só tem como colocar soro na veia de um paciente não é um hospital, é um posto de saúde”, avalia o conselheiro corregedor do CRM, Eurípedes Tavares. O grande entrave apontado por Eurípedes para uma melhoria no sistema é a complexidade da forma de funcionamento do Sistema Único de Súde (SUS), já que as formas de gestão dos recursos varia muito de acordo com o tamanho do município. “A maioria dos municípios acaba focando na assistência básica e é um pouco por isso que se vê este desvio de pacientes de uma cidade para outra”, analisa. Fonte: Jornal da Paraíba

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