17 de outubro de 2016

Médicos e estudantes de Medicina participaram, neste sábado (15), da palestra “Suicídio entre médicos: qual a realidade?”, proferida pela médica psiquiatra da USP e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Alexandrina Meleiro. O evento foi realizado no auditório do CRM-PB em alusão ao Dia do Médico, comemorado no dia 18 de outubro

Na abertura da palestra, o presidente do CRM-PB, João Medeiros, destacou a preocupação das entidades médicas, em especial do CFM, com o número de caso de suicídios e da saúde do médicos no país. “Sabemos que os médicos estão sobrecarregados, com muitos plantões e vínculos de trabalho para suprir a defasagem salarial. Na labuta diária, ele ainda se envolve com seus pacientes e situações graves, doenças crônicas, prognósticos incertos, refletindo na sua saúde física e mental que poderá culminar numa situação dramática e desastrosa que é o suicídio”, destacou João Medeiros.

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A psiquiatra Alexandrina Meleiro apresentou diversos dados em relação aos casos de suicídio, depressão e dependência química entre os médicos. Ela destacou que as características relacionadas aos médicos – ativo, ambicioso, competitivo, compulsivo, entusiasta e individualista – os tornam pessoas facilmente frustradas nas suas realizações e conhecimento. “Ao mesmo tempo que ele é corajoso e avança, ele não é preparado para lidar com as suas questões”, disse a médica.

Segundo a pesquisadora, este cenário pode produzir ansiedade, depressão, somatização, hipocondria, abuso de álcool e outras drogas, além de levar a casos de suicídio. “Em 1886, os médicos tinham mais riscos de envenenamento, cirrose e acidentes. Atualmente, os riscos envolve depressão, suicídio, alcoolismo e abuso de substâncias”, destacou.

Durante a palestra, a psiquiatra ressaltou que estudos internacionais indicam que os médicos se suicidam cinco vezes mais que a população geral. Para ela, entre os principais motivos para a alta taxa de suicídio dos profissionais médicos, estão o acesso a meios mais eficazes de letalidade, isolamento social – desde a faculdade –, situação conjugal insatisfatória e precária situação empregatícia.

Durante sua apresentação, a médica destacou que os estudos sugerem que os anestesistas, os psiquiatras, patologistas e oftalmologistas são os mais vulneráveis quando o assunto é suicídio. “Muitas vezes o trabalho nos faz adoecer. É preciso vencer o estigma e procurar ajuda o mais rápido possível”, disse.

Entre os alunos de Medicina, o grupo de alto risco se concentra naqueles que demonstram melhor performance escolar, são mais exigentes, têm pouca tolerância a falhas, sentem mais culpa pelo que não sabem, ficam paralisados pelo medo de errar, dentre outras características.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano em todo o mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, os números também impressionam: segundo o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, foram registrados 11.821 suicídios em 2012, o que representa, em média, 32 mortes por dia.

O Brasil é o quarto país latino-americano com o maior crescimento no número de suicídios entre 2000 e 2012, segundo relatório divulgado na última semana pela OMS. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes – alta de 17,8% entre mulheres e 8,2% entre os homens. Chama a atenção o fato de o número de mulheres que tiraram a própria vida ter crescido mais (17, 80%) do que o número de homens (8,20%) no período de 12 anos. A mortalidade de pessoas com idade entre 70 anos ou mais é maior, de acordo com a pesquisa.

Em setembro, por meio das redes sociais, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) lançaram a Campanha Nacional de Prevenção ao Suicídio. O objetivo da ação é chamar atenção para o tema e simbolizar o compromisso com a vida. Para a ABP e o CFM, falta uma política de atenção, com infraestrutura e recursos humanos suficientes, para ajudar quem sofre com stress, depressão e esquizofrenia, transtornos que podem levar ao desejo suicida.

FATORES ESTRESSANTES DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Sobrecarga horária
Privação de sono (plantões)
Comportamento idealizado
Contato com a dor e sofrimento
Contato com a morte e o morrer
Lidar com paciente difíceis
Intimidade corporal e emocional
Limitações do conhecimento médico
Incertezas e inseguranças
Medo do erro médico

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