0921-drcharlesCRM-PB Entrevista: Charlles Jean Lucena de Oliveira

Desde 2015, quando foi criada a campanha “Setembro Amarelo”, diversas entidades vêm ressaltando a necessidade de se discutir o suicídio. Dados do DataSUS mostram que o número de pessoas que tiram a própria vida vem aumentando no Brasil nos últimos anos, mas falar sobre o assunto ainda é um tabu. Segundo a cartilha “Suicídio: informando para prevenir”, elaborada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), “falar com alguém sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão” que pensamentos suicidas costumam trazer.

Na entrevista a seguir, o presidente da Sociedade Paraibana de Psiquiatria, Charlles Lucena, destaca que “diante do elevado número de casos de fatalidades, não podemos nos omitir como sociedade, num debate sério e técnico”. Ele ressalta ainda que o número de suicídios de médicos e estudantes de Medicina tem crescido de forma preocupante. “A pandemia tornou ainda mais evidente o quanto a classe médica sofre de forma direta os impactos e reveses sociais e isso precisa ser debatido”, afirma.

Formado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e com residência em Psiquiatria pelo Hospital São Vicente de Paulo da Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), Charlles Lucena, além de ser o atual presidente da Sociedade Paraibana de Psiquiatria, atua na clínica Psiq, em João Pessoa.

 

Ainda há muitos mitos envolvendo o suicídio? Há alguns anos, acreditava-se que não se deveria falar sobre o assunto, mas é preciso conversar sobre o suicídio?

O assunto ainda é cercado por muitos mitos e tabus e as pessoas ainda se sentem desconfortáveis em abordar a séria problemática que envolve o suicídio. Diante do elevado número de casos de fatalidades, não podemos nos omitir como sociedade num debate sério e técnico, através de campanhas como o Setembro Amarelo, por exemplo. O evento, uma parceria da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com o Conselho Federal de Medicina (CFM), que ocorre no mês homônimo, traz a possibilidade de conscientizar a sociedade acerca da importância do tema, evitando abordagens negativas.


A depressão é a maior causa dos suicídios? Quais são as outras?

Além da depressão, outros transtornos psíquicos estão relacionados ao suicídio, como a esquizofrenia, o transtorno bipolar do humor, os transtornos de personalidade, os transtornos acusados por abuso de substâncias químicas e os transtornos alimentares. Fora do campo psiquiátrico, dores crônicas e doenças oncológicas também cursam com maior risco de suicídio.


A taxa de suicídio dos médicos é maior do que a população em geral? Por que? O que fazer para mudar essa realidade?

Infelizmente, os números de casos de suicídio relacionados a médicos e estudantes de Medicina têm crescido de forma preocupante. Importante prestarmos mais atenção nas dificuldades que nossos colegas passam, muitas vezes em demandas intensas e insalubres. A pandemia dos últimos meses tornou ainda mais evidente o quanto a classe médica sofre de forma direta os impactos e reveses sociais e isso precisa ser melhor avaliado e debatido.


Os familiares de quem tira a própria vida também precisam de apoio psicológico ou psiquiátrico?

Sim, muito. As pessoas que cercam o suicida sofrem de forma muito direta o impacto e dores da perda e esse luto tem maior propensão em evoluir para quadros depressivos ou transtornos de stress pós-traumático. Acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico é fundamental nesses casos.


A pandemia de covid-19 aumentou o número de pessoas com depressão e ansiedade?

Sim. As estatísticas de transtornos ansiosos e depressivos são preocupantes, visto que esses casos praticamente dobraram no intervalo de um ano. A pandemia trouxe junto o medo, a insegurança, as perdas, o isolamento e a incerteza, ingredientes importantes na eclosão desses casos.


Qual orientação o senhor dá a quem percebe que um parente ou amigo está com algum transtorno mental e precisa de ajuda?

Esteja próximo dele, não o deixando sozinho. Deixe-o falar e se proponha a escutar suas dores. Aconselhe-o a pedir ajuda, a procurar um psiquiatra ou psicólogo. O suicídio pode ser uma morte evitável, portanto, ao menor sinal de uma mudança de comportamento de alguém próximo, não titubeie em se manter atento e próximo.

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