Esta quarta-feira foi escolhida por médicos ligados ao SUS (Sistema Único de Saúde) como o Dia Nacional de Protesto da categoria. A partir do ato e pelos próximos três meses, um calendário de paralisações relâmpago será colocado em prática por todo o Brasil. Durante o dia de hoje, os médicos prometem cruzar os braços, por algumas horas, no Espírito Santo, Minas Gerais, Pará e Rio de Janeiro. As reivindicações, segundo seus organizadores, são baseadas em duas frentes: melhores condições de trabalho e remuneração. Ao final do período de três meses, uma paralisação nacional está prevista. O movimento, promovido pela Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM), Federação Nacional dos Médicos (Fenam), além de entidades estaduais, promete barulho. A intenção é provocar o debate sobre as condições a que médicos e usuários do SUS estão submetidos. De acordo com o médico mineiro Geraldo Guedes, conselheiro do CFM e coordenador da comissão nacional pró-SUS, a situação não pode permanecer da maneira que está. “Serão paralisações pontuais, de 30 minutos, uma hora, duas horas, em que explicaremos para os pacientes porque o sistema funciona tão mal atualmente. Não queremos que se estabaleça o caos na saúde”, diz. Por meio de sua assessoria, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, diz que “vê de maneira muito preocupante qualquer paralisação na área da saúde, principalmente a dos médicos”. Ele afirma que foi concedido recentemente um reajuste de 30%, em média, na tabela do SUS, que inclui a remuneração de médicos e alguns procedimentos. Leia abaixo trechos da entrevista com o médico Geraldo Guedes: Terra – Os médicos prometem um dia de protesto e pretendem lançar mão de paralisações por todo o País. Isso não pune ainda mais o usuário, que já encontra um sistema debilitado? Guedes – Não deixaremos de fazer o atendimento emergencial. O que queremos com isso é trazer para o centro do debate a questão da saúde no Brasil. Como se tem acompanhado, o SUS vive no noticiário, principalmente em períodos de crise mais aguda. Há coisas que acontecem que seriam cômicas, se não fossem trágicas. Terra – Pode citar exemplos? Guedes – Há casos de falta de itens básicos como talas, utilizadas em fraturas. Outro dia foi noticiado que estavam utilizando talas de papelão. Além disso, corredores cheios, macas no chão, urgências em que não há sequer espaço para os médicos trabalharem. Já viu estacionamento onde o manobrista tem de tirar um carro para movimentar outro? Há hospitais em que acontece o mesmo. Para se movimentar um paciente, é preciso abrir espaço entre as macas. Terra – Uma das batalhas centrais do movimento é o reajuste da tabela do SUS, pela qual os médicos são remunerados? Guedes – Sem dúvida. Hoje, para alguns procedimentos, são pagos R$ 7, R$ 10, o que não é digno. A média do investimento em saúde no Brasil é de US$ 220, isso porque a cotação do dólar tem caído. Em outros países, semelhantes ao nosso, como por exemplo, a Argentina, esse valor chega a US$ 500, US$ 600. Terra – Essa campanha pode trazer resultados práticos? As reivindicações, como salários de R$ 7 mil por 20 horas de trabalho não são um salto muito grande, para quem, em alguns casos, não recebe nem R$ 1 mil? Guedes – Resolvemos pedir pelo que foi recomendado no Encontro Nacional das Entidades Médicas, realizado recentemente. Esse é o valor que seria ideal, mas queremos negociar. Não queremos o caos na saúde brasileira. As más condições de trabalho e remuneração fazem com que a qualidade do atendimento caia. Quem sente isso na pele é a população. Terra – O governo, por meio do Ministério da Saúde, tem mostrado interesse em negociar? Guedes – O ministro (José Carlos Temporão) tem se mostrado bastante preocupado com a situação, mas é preciso deixar o discurso e tomar medidas para que as condições atuais avancem. Teremos três meses para que a negociação evolua. Terra – Caso contrário? Guedes – Vamos partir para uma paralisação nacional. Quando o caso chega à imprensa, parte do dinheiro contingenciado aparece, como foi na recente crise dos hospitais do Nordeste. O que precisamos é que aumente o valor aplicado à saúde. Será um avanço tanto para os médicos quanto para os pacientes. Haverá neste País um governo que coloque saúde, educação, de fato, entre as prioridades. Até hoje, não existiu. Fonte: Portal Terra

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