Salários baixos, plantões de 14 horas, três empregos para ganhar no fim do mês menos de R$ 2 mil. A realidade dos médicos brasileiros foi descortinada por um estudo realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) com 14 mil médicos de todos os estados. Com base nesse diagnóstico, feito em 2004, a Federação Nacional dos Médicos está articulando paralisações de profissionais da saúde no Piauí, Acre, Sergipe, Goiás e em outros seis estados em que o piso médio do profissional que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) está abaixo de R$ 1,5 mil. O que mais chama a atenção no estudo do CFM, intitulado O médico e seu trabalho, é que apenas 17% dos profissionais têm um único emprego. “Isso mostra que o salário pago ao profissional da saúde não dá para mantê-lo. Conheço médicos que têm cinco empregos e ainda assim ganham apenas R$ 3,5 mil”, diz o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Eduardo Santana. Um levantamento da entidade revela que Sergipe é o estado que paga o salário mais baixo à categoria. Segundo o sindicato estadual, o salário médio é de R$ 750. O médico José Gonçalves Santos, de 36 anos, tem três empregos em João Pessoa. A cada semana, faz três plantões. No fim do mês, recebe exatos R$ 2.856,81. “Acordo todos os dias às 6h30, trabalho em dois hospitais públicos e numa organização não-governamental. No final do dia, estou tão cansado que não consigo estudar”, ressalta. Na Paraíba, a média salarial do médico é R$ 1.050. Para Cláudio Marinho Molle, da Associação Médica Brasileira (AMB), o maior problema dos médicos que trabalham muito e ganham pouco é a falta de tempo e dinheiro para se atualizar na especialidade. “A medicina evolui diariamente e os profissionais precisam estudar para não ficarem desatualizados. Um médico que recebe R$ 2 mil por mês e não tem tempo para estudar terá dificuldades para se tornar um bom profissional”, ressalta Molle. “Os piores salários estão no Nordeste. O nosso maior receio é que as greves que tivemos em Alagoas, Pernambuco e Ceará se estendam por outros estados em que os governantes pagam pisos salariais muito baixos”, diz o médico Roberto Tenório de Carvalho, conselheiro do CFM. Ele defende ainda que o movimento de greve dos médicos é legítimo. Segundo o presidente da AMB, José Luiz Gomes do Amaral, há possibilidade de estourarem greves em outros estados por conta da baixa remuneração. “O governo federal já foi avisado. Desde junho, os médicos das Alagoas estavam reivindicando uma alteração nos vencimentos. Ninguém é obrigado a trabalhar por um salário baixo”, justifica Amaral. O presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba, José Denir Rodrigues, diz que seu contracheque é um exemplo de vergonha. Há 20 anos trabalhando na Secretaria de Saúde do estado, ele ganha R$ 2,2 mil por mês para trabalhar 10 horas diárias. “É por isso que alguns médicos aceitam ‘jabás’ de laboratórios”, ressalta o médico. Jabá são os brindes e as viagens que os laboratórios oferecem aos médicos para que eles receitem determinados medicamentos. Evasão No Rio de Janeiro, a situação também é grave. O estado, que já foi alvo de intervenção federal, paga um salário médio de R$ 1,5 mil aos médicos da rede pública. Segundo Jorge Darze, presidente do Sindicato dos Médicos do estado, 4 mil profissionais abandonaram o sistema de saúde nos últimos seis anos. “Enquanto no Nordeste se fala em demissão coletiva, aqui temos uma evasão assustadora”, diz. Segundo ele, o atual colapso nos hospitais públicos do país é uma tragédia anunciada. “Mostra a falência da política de recursos humanos no setor”, critica. Em Rondônia, a categoria luta na Justiça por uma reformulação no plano de cargos e salários. O médico Otino José de Araújo Freitas, que preside o sindicato regional, explica que há três anos houve uma mudança prejudicial no sistema. “O vencimento básico, sem as incorporações, era de R$ 3 mil, aí nivelaram por baixo, instituindo o valor em R$ 630, aproximadamente. Nós questionamos na Justiça as mudanças.” Otino explica que o salário médio, atualmente, na rede pública de Rondônia, fica entre R$ 3,3 mil e R$ 3,9 mil, com os valores que são incorporados ao vencimento básico, inferior a R$ 700. “Um auditor fiscal aqui ganha R$ 14 mil. E um médico, que lida com vida humana, R$ 3,5 mil”, compara. De acordo com o CFM, atualmente, os médicos estaduais de Santa Catarina, Goiás e Minas Gerais estão negociando reajuste no salário-base. No Distrito Federal, onde o salário médio do médico é R$ 2,8 mil, um dos maiores do país, os acordos para reajustá-lo estão programados só para o ano que vem. Em Fortaleza, onde o piso salarial pago pela prefeitura é R$ 726, os médicos exigem um aumento de 100%. Da Assessoria de Comunicação do Cremepe. Fonte: Correio Braziliense – 27/08/2007.

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