Por João Modesto Filho*

É fato bem conhecido que depois da descoberta do Genoma Humano (conjunto de todos os genes do ser humano) muitas doenças começaram a ser melhor conhecidas e muitos tratamentos foram desenvolvidos, sejam para doenças determinadas por um único gene (monogênicas), ou por vários genes, que ocorre com a combinação de múltiplos fatores ambientais. A ciência tem identificado nesses últimos anos variações genéticas responsáveis por predisposições a inúmeras doenças infecciosas, desde a tuberculose a formas severas de gripes. Nesse sentido, aliando-se aos incontáveis esforços para controle da COVID-19 em todo o mundo, estudos genéticos também estão sendo desenvolvidos para o coronavírus, sabendo-se que existem pessoas que mais facilmente são afetadas enquanto outras parecem apresentar resistência à afecção.

Uma das hipóteses para essa diferença seriam as variações genéticas que as tornam resistentes ao vírus, conforme o Prof. Jean-Lautent Casanova, geneticista francês do Laboratório de Genética Humana e Doenças Infecciosas – Instituto Imagine (Paris) e Universidade Rockefeller (New York). Exemplos anteriores com afecções virais são conhecidos como, por exemplo, uma mutação do gene CCR5, que confere uma imunidade natural contra o HIV (vírus da imunodeficiência humana). Essa descoberta foi quem permitiu o desenvolvimento de estratégias terapêuticas: dois pacientes soropositivos foram declarados curados após um transplante de células-tronco de doadores portadores desta mutação do CCR5. O medicamento “maraviroc” foi desenvolvido tomando como base esses conhecimentos. Dessa forma, a genética é uma ferramenta para explorar a biologia, embora o tratamento possa não ser genético.

Como a grande maioria dos pacientes graves com Covid-19 é idosa e possuidora de comorbidades, geneticistas de todo o mundo têm se interessado em estudar doentes abaixo de 50 anos de idade com boa saúde e que são vítimas de formas graves da doença, sem que se tenham explicações. Teriam alguma predisposição genética? No Brasil, um em cada quatro mortos pelo Covid-19 é jovem e sem comorbidades. Uma das hipóteses é que esses pacientes tenham variações genéticas que são silenciosas até que apareça o vírus, observa o Prof. Casanova. Existem falhas genéticas do sistema imunológico específicas para o Covid-19? Seria uma imunodeficiência primária ou novas imunodeficiências? Conforme amplamente divulgado recentemente, e com o objetivo de buscar melhor entendimento do problema, o consórcio “Covid Human Genetic Effort” iniciou o recrutamento de pacientes da China, Irã, Europa, America do Norte e Japão para estudar o DNA, para análise das possíveis variações genéticas envolvidas.

Segundo os geneticistas, os avanços tecnológicos poderão contribuir para “dissecar” o genoma dessas pessoas e ver se apresentam mutações raras que possam torná-las particularmente susceptíveis ao Sars-Cov-2. Para isso, faz-se necessária a colaboração de pesquisadores de todo o mundo com o objetivo de conseguir pelo menos 10.000 pacientes e compartilhar os resultados entre os cerca de 150 centros de pesquisas envolvidos, conforme o Prof. Mark Daly, Diretor do Instituo de Medicina Molecular de Helsinque, Finlândia. Sabe-se que não é uma tarefa fácil e que deverá consumir muito tempo em longas análises para identificação de prováveis variantes genéticas. Por fim, esse trabalho poderá conduzir a possibilidades terapêuticas que orientarão para uma droga que seja efetiva e, posteriormente, para o desenvolvimento de um medicamento, assinala o Prof. Jacques Fellay, de Lausanne (Suiça). Reconhece-se que é uma longa estrada e de resultados incertos, mas com possibilidades de sucesso, pois, afinal, o futuro não tem fronteiras.

*Segundo vice-presidente do CRM-PB
Endocrinologia e Metabologia – RQE nº: 1026 
Clínica Médica – RQE nº: 2305

 

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