29 de agosto de 2011

A população de 214 municípios paraibanos é obrigada a sair do lugar onde mora quando precisa de atendimento em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), estrutura fundamental para a recuperação de pacientes em estado grave. Faltam leitos nos hospitais do interior do Estado e apenas nove cidades possuem hospitais equipados com UTI. O problema provoca superlotação e “inchaço” em João Pessoa e Campina Grande, que concentram 90% dos leitos de terapia intensiva disponíveis na Paraíba. As demais vagas de UTI estão distribuídas em Santa Rita, Guarabira, Remígio, Massaranduba, Patos, Sousa e Cajazeiras.

Dados do Ministério da Saúde apontam que a Paraíba dispõe atualmente de 490 leitos de UTI para atender uma população atual superior a 3,7 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Deste total, 68,5% dos leitos estão disponíveis para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), que possui 336 vagas em hospitais públicos e privados.

Com mais de 850 mil moradores, a capital concentra mais da metade das vagas com 270 leitos de UTI, o que representa 55% do total. A rede de Saúde de João Pessoa dispõe de 22 unidades hospitalares públicas e privadas com UTI, entre hospitais, clínicas e maternidades.

Sobram 220 leitos para atender os demais 222 municípios, com uma população total de 2,8 milhões de pessoas. Campina Grande é o segundo maior polo de serviços de saúde do Estado e concentra outra fatia importante dos serviços de terapia intensiva com 172 leitos, ou seja, 35% do total de vagas ofertadas aos paraibanos. São 10 unidades hospitalares em Campina, atendendo também aos municípios do Sertão, Cariri e Agreste, cobrindo uma área com mais de 1,2 milhão de habitantes.

A falta de uma estrutura adequada de UTI pode colocar em risco a vida de quem sofre um grave acidente ou precisa fazer uma cirurgia de grande porte. Segundo o Conselho Regional de Medicina (CRM-PB), muitas pessoas ainda morrem na Paraíba por falta de leitos. “É um problema que ocorre muito, mas infelizmente não é registrado. O paciente é transferido para outra cidade, mas morre antes de chegar ao hospital e estes casos não são notificados porque o paciente já chega em óbito. Com certeza, muitos morrem por falta de leitos e com isso as UTIs existentes vivem cheias”, afirma Eurípedes Mendonça, chefe de fiscalização do CRM-PB.

Não há dados estatísticos sobre o número de óbitos relacionados ao número de vagas no Estado. Este levantamento só poderia ser feito, segundo o CRM, se houvesse uma integração da rede hospitalar com uma central de regulação que coordenasse a transferência de pacientes entre municípios. 

Paciente enfrenta até 175 km de estrada

Em Campina Grande, a capacidade de internação em UTIs atende à demanda do município, mas o grande fluxo de pacientes vindos de outras cidades faz com que o sistema de saúde opere constantemente no limite. “O número de vagas em UTI é suficiente para os usuários de Campina Grande, mas não há como prever a demanda temos uma rede que dá assistência a todo o interior. A demanda aumenta todo dia”, avalia o médico Norberto Silva, vice-presidente do CRM-PB.

Devido à desigualdade no mapa de distribuição dos leitos de UTI no Estado, um paraibano que sofre um grave acidente com traumatismo craniano em Monteiro, na região do Cariri, vai precisar enfrentar 175 quilômetros (km) de estrada até ter a chance de disputar uma vaga com pacientes de outras cidades que chegam diariamente ao Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande.

Na Paraíba, a proporção é de 13 leitos para cada 100 mil habitantes, número que está acima da necessidade mínima recomendada pelo Ministério da Saúde, que é de 7,3 vagas por 100 mil habitantes. O quadro se inverte quando se analisa a situação da rede hospitalar no interior do Estado e esta disparidade fica evidente quando se exclui do cálculo João Pessoa e Campina Grande. Na área que abrange as demais 221 cidades paraibanas, a proporção é de apenas dois leitos para cada 100 mil moradores. “É preciso ampliar a rede no interior para melhorar a qualidade de atendimento nestas regiões e também nos grandes polos hospitalares”, argumenta Norberto Silva, do CRM.

Uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se caracteriza pelo monitoramento 24h por dia nos sinais vitais do paciente, seja pela presença constante de uma equipe de plantonistas formada por médicos e enfermeiros ou pelo uso de equipamentos de medição do ritmo cardíaco, frequência respiratória e pressão arterial, entre outros sinais. A estrutura deve contar ainda com equipamentos de respiração artificial. 

Central de Regulação pode ser alternativa

Além da necessidade de ampliação do número de leitos na rede hospitalar do interior da Paraíba, uma das soluções para o problema seria a instalação de uma Central Estadual de Regulação de Leitos. É o que aponta o CRM, que defende a implementação de um sistema integrado para evitar que um paciente seja transferido para outra cidade sem a garantia de que vai encontrar vaga para internação.

A instalação de uma central de regulação de leitos já está prevista na Portaria 2048, publicada em setembro 2002 pelo Ministério da Saúde. “É uma norma federal que existe há quase 10 anos e não está sendo cumprida. É preciso que a sociedade e o Ministério Público exijam o cumprimento da lei e a instalação da central”, afirma Eurípedes Mendonça, chefe de fiscalização do CRM-PB.

O setor de regulação da Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou, através da assessoria de imprensa, que a responsabilidade de instalar centrais de regulação de leitos é dos municípios que possuem gestão plena em saúde. A assessoria de imprensa informou ainda que a secretaria não vai comentar os dados referentes à quantidade de leitos de UTI no interior do Estado, já que este controle também é de responsabilidade dos municípios, segundo a SES.

A reportagem entrou em contato com o presidente da Federação dos Municípios  (Famup), Rubens  (Buba) Germano, para que ele comentasse a situação dos 214 municípios que não possuem UTI. No entanto, ele não quis se pronunciar sobre o assunto. 

FILA DE ESPERA

Em Campina Grande, o Ministério Público (MP) está apurando denúncias de que pacientes com indicação de internação na UTI estariam sendo colocados em outros setores devido à superlotação no Hospital de Trauma.

Durante este mês, todos os 20 leitos da UTI adulto do Trauma permaneceram lotados e os novos internos estão sendo atendidos na UTI Infantil ou até mesmo esperando por uma vaga na Área Vermelha, espaço destinado aos primeiros socorros em casos graves. Todos os sete leitos da Área Vermelha estão ocupados por pacientes de UTI.

Para buscar soluções ao problema, o promotor da Saúde, Herbert Targino, determinou a realização de um mapeamento do número de leitos ofertados em toda a rede hospitalar do município, bem como o tempo médio de espera por uma vaga na UTI. Segundo Flawbert Cruz, diretor técnico do Trauma, mais de 60% dos pacientes vêm de outras cidades e por isso acontece a superlotação. 

Fonte: Jornal da Paraíba

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