Perseverança e determinação são características que fazem parte da vida de Ruan Ribeiro Pordeus Garrido há anos. Depois de três tentativas para ingressar no curso de Medicina, em 2014 o sonho foi conquistado. Seis anos depois, poucos meses antes de terminar a faculdade, o mundo se viu diante de uma pandemia que mobilizou, principalmente, os profissionais de saúde. E o menino que tinha o sonho de ser médico, agora aos 28 anos, mais uma vez se posicionou em busca de seus objetivos: antecipou a formatura e foi lidar com o coronavírus como médico da linha de frente, na cidade onde nasceu e estudou até o Ensino Médio, Coremas, no Sertão da Paraíba.

Assim que se formou, Ruan foi trabalhar no Hospital Estadual Regional Wenceslau Lopes, em Piancó, e no Centro Covid, em Coremas. “Quando recebi meu CRM, já tinha a certeza de que a minha missão era, naquele momento, me doar ao máximo para ajudar no combate à essa doença que vem matando e causando dor e sofrimento em tantas pessoas”, disse o jovem médico que se formou pela Famene (Faculdade Nova Esperança), em João Pessoa, com 100% de financiamento pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). “Sempre fiz vestibular para faculdades federais, pois não tinha condições de pagar uma faculdade particular. Em anos anteriores, passei para Direito, Odontologia e Enfermagem na UFPB e na UFCG. Mas não cursei nenhum deles. Meu sonho era Medicina”, afirmou.

Apesar das adversidades enfrentadas diariamente, como cuidar das pessoas em momentos difíceis, o distanciamento da família e dos amigos e ainda ter que lidar com a falta de informação e o menosprezo de alguns pela doença, Ruan acredita estar no caminho certo. “Tenho a certeza de que ali, cuidando das pessoas, é o meu lugar. Carrego, em meu coração, a sensação de que sairemos, juntos, vitoriosos dessa grande batalha”.


Como tem sido a experiência de trabalhar como médico da linha de frente na pandemia?
Tem sido desafiador. Nós, médicos, temos medo e receio de também adoecer, por não saber ao certo o que essa doença reserva para nós. Acima de tudo, um medo enorme de levar a doença para nossa casa, para nossa família. Mas apesar de todo pavor, há ainda um outro sentimento: o de dever a ser cumprido, o do sonho que se realiza a cada atendimento prestado. Ele transborda em nossa consciência e tenho a certeza de que ali, cuidando das pessoas, é o meu lugar e carrego, em meu coração, a sensação de que sairemos, juntos, vitoriosos dessa grande batalha.

O que o motivou a trabalhar na linha de frente logo após a formatura?
O que motivou e me motiva é o meu dever de ajudar as pessoas sempre, e jamais poderia fugir da batalha, ainda mais diante de uma crise mundial causada por um vírus que pegou todos de surpresa covardemente. Eu, logo quando recebi meu CRM, já tinha a certeza de que a minha missão era, naquele momento, me doar ao máximo para ajudar no combate a essa doença que vem matando e causando dor e sofrimento em tantas pessoas. Por isso que prontamente e sem pensar duas vezes, decidi que o meu dever era estar lutando na linha de frente nessa guerra biológica.

Quais são os principais desafios no seu trabalho?
Nesse momento que estamos vivenciando, sem dúvidas, o maior desafio é ter que me reinventar a cada dia para cuidar das pessoas que passam por mim. Além disso, me desafio a ser forte a cada dia, mesmo diante das adversidades corriqueiras que um médico passa, das tristezas vividas dentro dos hospitais. Muitas vezes as falas ficam em pausa para respirar fundo e engolir seco o que aconteceu. Mesmo assim, sigo em frente para cuidar dos que ficam com muita esperança, garra e coragem. No final de cada experiência e história vivida e compartilhada com meus colegas de profissão, sinto uma imensa alegria e paz, pois o mais gratificante, apesar de tudo, é ver os olhares de gratidão e esperança nas pessoas. Isso me fortalece!

Como tem sido sua experiência pessoal para conciliar trabalho e família?
Nesse tempo de pandemia, o contato com os familiares infelizmente (e necessariamente) foi diminuído. Quando eu decidi que iria ficar na linha de frente, eu já sabia das consequências e dos sacrifícios que a minha decisão iria exigir de mim. Portanto, em decorrência disso, não tenho contato direto com meus familiares por questão de prevenção e cuidado, tendo em vista que estou, diariamente, exposto ao vírus. Resolvi sair de casa, pois, além de lidar com a preocupação comigo, quis proteger a minha família e aqueles que convivo de qualquer possibilidade de contaminação. Apesar desse distanciamento ser doloroso, sigo com a certeza em meu coração de que tomei a decisão certa, pois meu coração transborda de alegria e gratidão a cada experiência vivida. Sorte que temos as redes sociais e a tecnologia que de alguma forma ameniza essa ausência física daqueles que amamos e não podemos ter o contato.

Qual sua avaliação sobre o enfrentamento à pandemia nas unidades públicas do interior do estado? Há uma boa assistência? Há recursos (insumos, exames, equipamentos) para esta assistência?
Irei tecer comentários tendo como base onde estou atendendo e prestando meus serviços, como o hospital do estado (Hospital Regional Wenceslau Lopes), situado na cidade de Piancó, no alto sertão da Paraíba, onde foi meu primeiro serviço de trabalho e logo de cara, apesar de ser no Sertão, me deixou muito surpreso, pois lá oferece um serviço de enfrentamento do coronavírus com leitos de enfermaria e UTI com todo aparato necessário. Além disso, o que me chamou muito atenção foi a forma da gestão do hospital ser compromissada em querer sempre o melhor na busca de recursos para ofertar e garantir a nós profissionais que lá trabalham para que possamos ofertar a população que necessita de ajuda um atendimento de qualidade, sem falar da equipe acolhedora, cooperativa e competente que presta os devidos cuidados com quem vier a precisá-los. Na cidade de Coremas-PB, minha terra natal, me sinto orgulhoso de poder também deixar minha parcela de contribuição para toda população Coremense. Aqui presto serviço no Centro Covid juntamente com toda a equipe da secretaria de saúde do município e da vigilância de saúde, que trabalha com muita sintonia, compromisso, eficiência e harmonia, dando a todos o suporte necessário para amenizar os estragos que essa doença pode causar. Portanto, graças a Deus, por onde estou dando minha parcela de contribuição estou tendo a oportunidade de, juntamente com as respectivas equipes, fazer um trabalho de confiança, qualidade e, sobretudo, de respeito a todos.

Como o sr avalia o nível de informação da população do interior? Há o isolamento social? As pessoas sabem do real perigo da doença?
Hoje em dia é fácil o acesso às diversas formas de notícia. Seja pela televisão, redes sociais e internet, a informação chega rápido nas casas das pessoas. Porém, o que ainda vejo é o menosprezo, por parte, da população pela doença. Muitos não acreditam ou então não dão o real cuidado que deveriam ter com essa pandemia. Com isso, nós da área da saúde estamos tentando nos esforçar pra tentar, além do cuidado prestado quando é necessário, fazer a conscientização da real necessidade de isolamento social e sobretudo do uso de máscaras.

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