O estresse e o trabalho exaustivo tomaram conta da rotina dos médicos antes mesmo do primeiro caso de Covid-19 na Paraíba, em março deste ano. O decreto da pandemia fez com que os profissionais começassem a tentar estabelecer uma estrutura mínima para que fosse garantida a segurança dos pacientes e dos próprios profissionais de saúde. “Até bem recentemente enfrentamos um regime de trabalho descomunal para evitar o contágio da equipe assistencial, o que seria catastrófico para a garantia de um atendimento eficaz aos pacientes”, afirma o médico intensivista Ciro Leite Mendes, chefe da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), e médico do Hospital Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa.

Na entrevista a seguir, ele fala das dificuldades enfrentadas durante o pico da pandemia e diz que agora a situação está menos dramática. “Muitos profissionais já estão imunizados e também diminuiu consideravelmente o número de pacientes internados em UTI. Mas houve semanas em que ficamos desfalcados, em decorrência de acometimento pela Covid-19”, disse o médico formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em 1987, e com especialização em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Como tem sido a experiência de trabalhar como médico da linha de frente durante a pandemia, em hospitais referência para a Covid-19?
Antes e durante o pico da pandemia em nosso estado, todos nós trabalhamos exaustivamente e sob muitíssimo estresse. Antes, porque precisávamos nos preparar de forma minimamente aceitável para estabelecer estrutura e logística que garantissem segurança para os pacientes e também para a equipe assistencial. Durante esses últimos meses, até muito recentemente, todos enfrentamos um regime de trabalho descomunal, acredito que sem precedentes nas nossas vidas profissionais. 

Quais foram os principais desafios? 
O nosso principal desafio foi estabelecer uma estrutura que garantisse segurança aos profissionais de saúde, no sentido de evitar o contágio excessivo da equipe assistencial, já que a desintegração das equipes seria catastrófica para a garantia de um atendimento eficaz aos pacientes. 

Muitos médicos estão adoecendo com a Covid-19. Como tem sido lidar com esse afastamento de profissionais? Há uma sobrecarga para os que continuam trabalhando?
No início foi muito difícil. Houve semanas em que ficamos desfalcados em até nove médicos na nossa escala, em decorrência de acometimento pela Covid-19. Logicamente, isso implicou em sobrecarga para aqueles que continuaram trabalhando. Atualmente, a situação está menos dramática, porque muitos profissionais já estão imunizados e também porque o número de pacientes internados em UTI diminuiu consideravelmente em comparação ao pico da pandemia. 

Como tem sido sua experiência pessoal para conciliar trabalho e família? 
Nosso núcleo familiar tem três componentes na linha de frente de combate à doença. Isso de certa forma nos tem deixado mais próximos do que em outras configurações familiares. 

O sr avalia que a população, em geral, está bem informada sobre a doença? Como vê a retomada de diversas atividades com o “novo normal”?
Acredito que a população está tendo acesso às informações necessárias. Obviamente, há os que, de forma deliberada ou não, desrespeitam as regras de distanciamento e prevenção, mas não acho que sejam a maioria. 

Diante de tantas incertezas da doença, como passar segurança aos pacientes e tratá-los da melhor forma possível? 
No nosso cenário, o das UTI, tenho reiterado aos pacientes e familiares que, apesar da doença ser provocada por um novo agente etiológico, os aspectos fundamentais que regem a condução desses pacientes não mudaram: passam por vigilância rigorosa e atendimento especializado de qualidade por profissionais capacitados. 

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