A Paraíba conta hoje com cinco cursos de medicina, dois públicos, A Universidade Federal da Paraíba e a Universidade Federal de Campina Grande, e três privados, a Faculdade de Medicina (Famene), a Faculdade de Ciências Médicas e a faculdade de medicina da Facisa. Entretanto, há a previsão que, ainda em 2007, sejam abertos mais duas faculdades de medicina, uma federal, em Cajazeiras, e outra particular em João Pessoa, na Unipê. A previsão é que, até 2010, mais de 500 médicos sejam formados por ano no Estado. A situação vem inquietando os representantes da classe, que questionam a necessidade do surgimento de novas vagas com as faculdades. De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM) na Paraíba, Dalvélio de Paiva Madruga, a criação de novas faculdades em nada melhora a saúde na região. \”Não há necessidade de implantação de cursos de medicina na Paraíba, no Nordeste e no Brasil. Os atuais já são mais do que suficientes. Temos é que qualificar os existentes, principalmente os públicos. Não há justificativa que não a econômica para abrir cursos e isso não vai beneficiar a Paraíba\”, asseverou o médico. \”A implantação destes cursos não vai melhorar em nada a assistência à população. Pelo contrário. Preocupa-me o número excessivo de profissionais, que pode aumentar a incidência de denúncias no regional, como ocorre em São Paulo, cidade com maior número de faculdades no país\”, complementa. Compartilha do raciocínio o presidente da Associação Médica da Paraíba (AMPB), Evandro Pinheiro do Egypto, mas culpa os órgãos reguladores do ensino superior por um aumento de cursos. \”Esta é uma situação de irresponsabilidade por parte de todos os órgãos que permitem esta proliferação indiscriminada. Não se está criando cursos para formar e sim para mercantilizar o ensino superior no Brasil. Quantitativamente, só perdemos no montante de cursos de medicina no mundo inteiro para a Índia. Juntando a Europa inteira não há o total de escolas que há aqui no Brasil\”, assegurou. SAIBA MAIS Egypto ressalta sua preocupação com a confiabilidade do profissional na área. \”O receio é gerar um descrédito da classe médica. Não se pode saber onde se encontrar o bom médico. A perspectiva não é das melhores. Estaremos enfrentando uma situação das mais graves possíveis, que porão em risco o papel assistencial e informativo que teria de existir na medicina. É o curso com maior comprometimento humano e social, a partir do momento que aumentar o número de médicos, esse papel assistencial irá sumir e será substituído pelo mercantil\”. O presidente da AMP destacou que diversas entidades médicas já alertaram para o perigo da situação. \”Já encaminhamos denúncias para o Governo Federal. Em todos os países as entidades representativas são consultadas para a pertinência da criação de um curso, o que não ocorre aqui\”, declarou. Hospitais utilizados por estudantes são precários O presidente da Comissão de Ensino Médico do CRM da Paraíba, Eurípedes Sebastião, assegurou que o problema não está relacionado ao número de médicos atuando e sim na distribuição destes no Estado. \”Há uma concentração nas cidades maiores e uma carência ou mesmo inexistência nas menores. proximadamente 87% dos médicos atuando no Estado trabalham em Campina Grande e João Pessoa. Os outros 221 municípios da Paraíba têm que dividir 13% restante\”, afirmou. \”Graduar mais médicos não fará com que eles partam para estas cidades e sim que aumentem ainda mais a concentração na Capital. O que resolveria seria a estruturação de hospitais e laboratórios nos municípios, o que daria um suporte mínimo para o profissional trabalhar com qualidade\”, acrescentou Eurípedes. Em julho o CRM enviou uma representação ao Ministério Público Federal pedindo a adoção de medidas, administrativas ou judiciais, para coibir a abertura intensificada de cursos de Medicina no Estado. \”Somos o Estado do Nordeste com maior número de faculdades de Medicina. A nossa preocupação é com a formação desses médicos, com a qualidade dessas escolas e com o futuro da Medicina. Estamos tomando as providências agora para um problema que poderá se refletir apenas daqui a alguns anos\”, ressaltou Dalvélio Madruga. \”A preocupação do CRM é com a qualidade da prestação de atendimento, que deve ser ética e qualificada, e não com reserva de mercado. Com muito médico e pouco mercado, cai a qualidade do serviço\”, declarou o médico. A representação enviada pelo CRM/PB ao Ministério Público Federal também foi encaminhada ao Conselho Estadual de Educação, à Secretaria de Ensino Superior (Sesu) do Ministério da Educação e à Comissão de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina. Dalvélio Madruga enfatiza a imprescindibilidade de um Hospital Escola para a abertura de um curso de Medicina para dar suporte ao aprendizado \”Na Paraíba, os hospitais utilizados pelos estudantes não são próprios e os conveniados, em sua maioria, não têm condições de funcionamento\”, explica. Hospital-escola é essencial para capacitar O médico Evandro do Egypto, professor há 33 anos do curso de medicina na UFPB, diz que o hospital-escola é essencial para capacitar o residente. \”O hospital-escola é onde os médicos terão sua aprendizagem prática e deve possuir atendimento em áreas como a pediatria, maternidade, cirurgia e clínica médica\”. “As universidades públicas estão passando por sérios problemas estruturais. No Hospital Universitário o que podemos encontrar são equipamentos quebrados e elevadores com baixo nível de segurança. Desde que foi inaugurado, não recebe novos investimentos para uma reforma satisfatória. E em Campina Grande a situação não difere muito”, declarou Eurípedes Sebastião, que ensina há 23 anos na UFPB. \”A questão é que o ensino provado conta com problemas nos hospitais de ensino, o que é uma situação ruim, imagine as faculdades que estão surgindo agora e nem têm hospital para seus alunos\”, argumentou. Em resposta ao apelo das entidades, o Ministério da Educação publicou a portaria de nº 147, em fevereiro deste ano, elencando uma série de restrições para a autorização de cursos, com ênfase na relevância social e demanda da região, como também a disponibilidade de um hospital de ensino próprio ou conveniado, além de um corpo docente capacitado e uma integração com a gestão local e regional do Sistema Único de Saúde (Sus). As entidades representativas em âmbito nacional, como a Associação dos Médicos no Brasil (AMB), estão buscando soluções judiciais como forma de obstacular o reconhecimento das faculdades. \”As escolas que não tiverem sido aprovadas até o início do ano poderão ficar sem receber a certificação dos órgãos competentes, o que invalidaria, na prática, o ensino sem estrutura das novas escolas. Temos que proteger a sociedade da industrialização do ensino. As escolas públicas se restringem hoje a 6% do mercado. Vamos chegar a um ponto que só se forma quem tiver recursos financeiros\”, afirmou Evandro do Egypto, presidente da AMP. Proprietário de uma das faculdades recentemente implantadas no Estado, Eitel Santiago, diz também ser contra a proliferação de cursos de medicina. \”Não adianta estruturar um curso na área de saúde sem seriedade. Temos hoje uma estrutura que se encontram, segundo última avaliação do MEC, entre as melhores do país, contando inclusive com hospitais escola e conceito 5 de avaliação, o máximo possível. Não adianta ser contra por ser contra, o CRM, ao invés de ficar no balcão, deveria conhecer as faculdades que critica para avaliar, por si próprio, a capacidade destas\”, responde Eitel Santiago.

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