“Nunca é tarde para ir em busca de um sonho”

Aos 24 anos, formada em Direito, com pós-graduação em Direito Processual Civil, aprovada no Exame da Ordem dos Advogados e com um emprego na Defensoria Pública, Thâmara Leite Carneiro resolveu mudar de profissão. Focou no sonho que tinha desde a infância e foi estudar para ingressar em uma faculdade de Medicina. Na segunda tentativa passou no vestibular da Faculdade de Medicina Nova Esperança (Famene), em João Pessoa, e, em maio deste ano, tornou-se médica.

A formatura veio em plena pandemia, sem festa ou comemoração, mas para Thâmara teve a sensação de sonho realizado e dever cumprido. Dever que está apenas iniciando, com uma nova rotina de trabalho, plantões e atividades que têm hora para começar, mas não para terminar. “Começamos a trabalhar em um cenário totalmente diferente, sob pressão ainda maior do que o normal, com medo de ser contaminado ou contaminar alguém próximo, lidando diariamente com o sofrimento de famílias”, diz a jovem médica.

Atualmente, aos 32 anos, Thâmara trabalha na estratégia de saúde da família no município de Sapé, é plantonista da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Guarabira e médica Reguladora do Estado da Paraíba. Já trabalhou também em um PSF em Areia e no Hospital Regional de Solânea. Em breve, pretende se especializar em Ginecologia e Obstetrícia. “Fazer o que se ama torna tudo mais fácil”, completa.

Antes de exercer a Medicina, a sra atuava como advogada. O que a motivou a mudar de carreira?
A Medicina sempre foi um sonho em minha vida, acompanhava o dia a dia do meu pai, que também era médico, e desde a infância já tinha em meu coração o desejo de seguir esta carreira. Quando chegou a fase do vestibular, com pouca maturidade, pois tinha apenas 16 anos, fui incentivada por alguns familiares a prestar vestibular para Direito. Alegavam que se encaixava mais com a minha personalidade, pois sempre fui muito comunicativa e nunca tive problema com falar em público. Eu, na época com o sonho de ser universitária e com o medo do fracasso de prestar um vestibular tão concorrido como o de medicina, segui as sugestões, pesquisei sobre a profissão e decidi ingressar na Faculdade de Direito. Várias vezes quis desistir do curso, porém não encontrava amparo no seio familiar, o que pra mim sempre foi importante e decidi concluir meu curso de Direito. Após o término da faculdade ainda tentei convencê-los de prestar vestibular para Medicina, porém como já havia passado no Exame da Ordem dos Advogados, achei que não tinha mais como voltar atrás e resolvi dar uma chance à profissão.

Quando foi que a sra percebeu que queria ser médica?
Passei dois anos advogando, atuei como assessora jurídica da Defensoria pública da Paraíba, mas logo percebi que não era aquilo que eu queria para minha vida, não me sentia realizada profissionalmente. Criei coragem e segui firme na decisão de ir em busca daquele sonho de criança que era o de me tornar médica. Foi quando decidi ir em busca do sonho adormecido de me tornar médica, buscava naquele momento encontrar sentido e prazer na vida profissional, já que não havia encontrado na advocacia. O mundo jurídico nunca me encantou, apesar de eu ter dado várias chances e de ter buscado me encontrar dentro das inúmeras possibilidades que o curso oferecia.

Como foi a reação dos seus familiares e amigos?
A primeira pessoa que falei que iria tentar vestibular novamente foi ao meu marido. No início ele se mostrou bastante resistente, apresentando uma reação contrária, pois acreditava que eu deveria continuar na profissão que exercia, pois como me via sempre com gosto pelos estudos, imaginava que logo eu passaria em algum concurso, o que me traria estabilidade e qualidade de vida. Meus pais também eram de acordo. Porém dessa vez não foi tão difícil a missão de convencê-los de que eu precisava me encontrar na profissão. Quando ia dizendo aos amigos, alguns não acreditaram nesse desejo, diziam que estaria jogando fora um tempo da minha vida, que era muito difícil passar em um vestibular tão concorrido e que eu estava cometendo um equívoco, ao ter que enfrentar tudo novamente. Mas ao perceber o tamanho do desafio que eu iria enfrentar , afinal jogar fora 5 anos de faculdade não seria fácil, me senti estimulada a encará-lo e ir em busca do meu sonho.

Foi difícil mudar? Abrir mão das conquistas que já tinha como advogada?
Mudança é sempre muito difícil, naturalmente eu me encontrava em uma zona de conforto, já tinha cumprido o que meus pais desejam, minha formação, exercendo minha profissão e estava construindo minha família com o meu marido, mas mesmo assim decidi enfrentar a mudança. Já estava sedimentando meu caminho como advogada, adquirindo experiência, fui aprovada no primeiro concurso que prestei do Exame da Ordem. Mas isso não bastava, faltava o principal, eu queria ser feliz na profissão. Afirmo que desde meu primeiro dia no curso pré-vestibular, eu nunca mais cogitei a possibilidade de desistir.

Como foi se tornar médica em plena pandemia?
É uma mistura de sentimento. Devido à profissão que escolhi, a prioridade no momento realmente era contribuir para amenizar tanto sofrimento gerado por esta nova doença. Trabalhamos em um cenário totalmente diferente, sob pressão ainda maior do que o normal, com medo de ser contaminado ou contaminar alguém próximo, lidando diariamente com o sofrimento de famílias que não sabiam como é o desenrolar da doença, é tudo muito novo, desafiador. Acrescido a isso tem o fato de não podermos comemorar esse momento tão importante, colar grau distante de todos que nos ajudaram nessa caminhada, sem sequer nos abraçar. Tudo se tornou mais difícil. Só temos que lembrar que a Medicina é isso, é uma verdadeira missão, todos os dias somos e seremos desafiados, passaremos por momentos difíceis, mas seguiremos firmes na nossa missão.

Atualmente, como é o seu dia a dia no trabalho? Como era antes?
Antigamente na advocacia era tudo muito previsível, trabalhava de segunda a sexta, tinha direito a feriado e finais de semana, tinha hora de entrar e sair do trabalho. Atualmente na profissão de médica tudo é diferente, os plantões sempre podem nos reservar surpresas, tenho hora para entrar, mas não tenho para sair. Passo dias sem retornar para casa, noites em claro, e conto nos dedos os dias de folga que tenho no mês. Mas posso afirmar que hoje o meu dia a dia é prazeroso, fazer o que se ama torna tudo fácil.

Quais conselhos e sugestões a sra dá para quem pretende mudar de carreira?
Nunca é tarde para ir em busca de um sonho. Esse se tornou um lema da minha vida. Eu não sou melhor do que ninguém, sofri, chorei, me desesperei na hora de tomar decisões importantes na vida como foi essa. Pode parecer que tudo é muito difícil, que o dia de nosso sonho se tornar realidade nunca vai chegar, mas vai. Para isso é preciso perseverança, coragem, uma boa dose de paciência e muita determinação. É preciso não desistir, é necessário acreditar em si e seguir confiante. Lembre-se que a profissão que você escolheu não é o rótulo que vai definir a sua vida. Se imagine daqui a alguns anos, como você gostaria de estar. Pense nisso todos os dias e o principal: corra atrás dos seus sonhos, lute bravamente todos os dias por isso. Você pode até tentar fugir, se esconder, sufocar seus sonhos, mas eles nunca adormecerão em seu coração. Não se prenda às amarras sociais e às expectativas que os outros colocam em você. Você pode ser o que quiser, em qualquer lugar e em qualquer momento.

Spotify Flickr Facebook Youtube Instagram
Aviso de Privacidade
Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar o Portal Médico, você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Política de cookies. Se você concorda, clique em ACEITO.