Por estarem submetidos à excessiva carga de trabalho e terem que lidar com uma nova doença, além da preocupação em se contaminar como o coronavírus, os médicos estão mais suscetíveis a terem depressão e transtorno de ansiedade. O esgotamento físico e mental decorrente de um exercício laboral inadequado pode ainda desencadear a Síndrome de Burnout, muito comum entre os médicos.

Na entrevista a seguir, o psiquiatra José Brasileiro Dourado Júnior, professor do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê) e atuando na Penitenciária de Psiquiatria Forense da Paraíba e no Hospital das Clínicas de Pernambuco, fala sobre a importância da saúde mental dos médicos, a necessidade de se ter também atividades de lazer com amigos e familiares e sobre as reflexões decorrentes da pandemia.

“A percepção de estar com uma doença psiquiátrica se dá através de uma mudança de comportamento e alterações nas emoções, que promovem um sofrimento significativo a ponto de incomodar”, afirma o médico formado pela Famene, em João Pessoa, e com residência médica em Psiquiatria pela Universidade Federal da Paraíba e Psiquiatria Forense pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

Os médicos que estão na linha de frente no combate à Covid-19 lidam diariamente com estresse, pressão e o medo de adoecer. Isso pode causar problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão?
Sim. A sobrecarga de trabalho associada à preocupação em se contaminar com a Covid-19 e ter um desfecho ruim traz pensamentos e perspectivas que refletem em sintomas como angústia, ansiedade, tristeza profunda, entre outros. Estes sintomas podem acabar culminando em uma depressão ou transtorno de ansiedade generalizada.

A Síndrome de Burnout é muito comum em pessoas que permanecem longas horas em locais de trabalho. Diante da pandemia, o sr acredita que os médicos estão mais suscetíveis a desenvolver essa síndrome?
O Burnout se caracteriza por um esgotamento físico e mental decorrente de um exercício laboral inadequado, onde há uma sobrecarga importante associada a condições negativas relativas ao trabalho. Assim, a população médica tem sim possibilidades de desenvolver com maior frequência tal condição. Vale a pena ressaltar que já há estudos que demonstram isso nessa população e outros estão em curso relacionados à Covid-19.

Nem todos os problemas psicológicos, comuns à situação atual, são doenças de fato. Quando podemos perceber que estamos realmente ficando doentes emocionalmente?
A percepção de estar com uma doença psiquiátrica se dá através de uma mudança de comportamento e alterações nas expressões das emoções que se tornam perceptíveis e que promovem um sofrimento clinicamente significativo ao ponto de incomodar.

Apesar do trabalho importante que o profissional de saúde tem exercido durante a pandemia, é importante que ele e a sociedade percebam que ele é tão humano e vulnerável quanto às demais pessoas. O que o sr pode falar sobre isso?
É importante ressaltar que nós, enquanto humanos, não podemos nos restringir à esfera do trabalho. Temos que ter atividades de lazer, relacionamentos com família e amigos, relacionamentos íntimos. Enfim, não podemos nos restringir ao trabalho como função de vida.

Como o sr avalia o “novo normal”? Acredita que as pessoas estão preparadas para mudanças nos hábitos cotidianos?
O conceito de “novo normal”, a meu ver, não é algo palpável, até porque ou se está normal, ou não. Todavia, entendo que o “novo normal” na condição de buscar medidas sanitárias de precaução para retornar gradualmente à condição normal é interessante. A pandemia nos fez refletir sobre algumas coisas importantes. Dentre elas, um cuidado maior do ponto de vista sanitário e uma preocupação com a saúde pública.

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