Depois de muitos esforços, ideias, reuniões e vontade de qualificar o atendimento às gestantes paraibanas, no dia 27 de novembro, foi lançado o “Protocolo de Assistência Obstétrica – Rede Cegonha”, uma publicação que irá nortear as boas práticas da obstetrícia e implantar normas de conduta unificadas nas maternidades públicas do estado. Elaborado por um grupo de dez médicas, o livro teve o apoio do CRM-PB, da Sociedade de Ginecologistas e Obstetras da Paraíba (Sogopa), da Rede Cegonha e da Rede Cuidar, e está disponível no site www.crmpb.org.br.

“Formamos um grupo que agregou fortaleza, dedicação incansável e muita determinação para criarmos um protocolo único para todas as nossas maternidades”, destacou a ginecologista e obstetra, Tatiana Fragoso, uma das autoras do protocolo. Além dela, fazem parte da equipe as médicas Alba Rejane Wanderley Espínola, Aureliana Barboza da Silva Nóbrega, Eva Betania Pires Martins Oliveira, Juliana Silveira de Mello Lula Ayres, Maria Neirismar Dias de Morais Souto, Renata de Medeiros Wanderley Gadelha, Sabina Santos Maia, Sandra Albuquerque Farias e Viviane Meneghetti Ugulino Azevedo Isidro.

Na entrevista a seguir, além de contar como foi a elaboração do livro, Tatiana destaca a necessidade de atendimento às gestantes mesmo durante a pandemia, fala sobre as mudanças na sua rotina de trabalho após a Covid-19, sobre a evolução na humanização do parto, dentre outros assuntos. Tatiana formou-se em Medicina e fez Residência na Universidade Federal da Paraíba. Atualmente, é plantonista da Maternidade Cândida Vargas e da Clinepa, professora e supervisora do Internato de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, coordenadora do programa de Residência Médica de Ginecologia e Obstetrícia do Instituto Cândida Vargas, além de trabalhar em seu consultório particular.

Como surgiu a ideia de publicar o “Protocolo de Assistência Obstétrica-Rede Cegonha”? Como ele poderá ajudar aos profissionais da área? 
 O desejo de um protocolo atualizado surgiu há muito tempo, no âmago dos plantonistas obstetras, da maternidade Cândida Vargas, com o intuito de qualificar o atendimento às nossas gestantes, melhorando os nossos resultados na assistência obstétrica. Durante muitos anos, várias foram as tentativas, mas sem obter o devido sucesso, por várias vertentes. Porém em meados de julho de 2019, formou-se um grupo composto por obstetras, que trabalham nas diversas maternidades de João Pessoa. Este grupo agregou fortaleza, dedicação incansável e muita determinação para este fim, despertando o desejo de um protocolo único para todas as nossas maternidades. Foram vários encontros, todas as quartas feiras à tarde, na sala do centro de estudos do ICV, debatendo cada capítulo elaborado, revisando e atualizando as informações dos melhores centros obstétricos do Brasil e internacionais. Muito trabalho com amor à nossa especialidade. Obtivemos muito apoio da diretoria atual da Cândida Vargas, aliados à Rede Cegonha e à Rede Cuidar. Assim, um grande passo foi dado com esta unificação e somamos ainda todo o suporte e apoio do nosso CRM-PB, na pessoa do nosso Presidente, Roberto Magliano de Morais e sua equipe, que facilitou e promoveu a nossa publicação. Também estivemos sempre apoiados por nossa Sociedade de Ginecologistas e Obstetras da Paraíba (SOGOPA), entidade científica, que nos orienta sob os cuidados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologistas e Obstetras (FEBRASGO). Este protocolo muito vai ajudar aos profissionais de todas as maternidades, no que tange a conter informações atualizadíssimas e qualificadas, norteando a boa assistência obstétrica, defesa profissional, ética nas condutas, orientações pedagógicas às nossas residências em Ginecologia e Obstetrícia, além de servir para as avaliações e julgamentos em nossa Câmara Técnica da especialidade, junto ao CRM-PB. Estamos recebendo algumas solicitações para autorização de implantação deste protocolo, em serviços privados de nossa cidade e de cidades do interior da Paraíba, o que muito nos orgulha. Acreditamos que este trabalho servirá de um “divisor de águas” em nosso Estado, entre uma obstetrícia individualizada e uma nova era de Boas Práticas Obstétricas às nossas gestantes, pólo central de nossa especialidade.

Como a senhora vê a questão da humanização do parto nas maternidades públicas e particulares de João Pessoa? 
Desde o início da implantação das políticas públicas de melhoria na humanização do parto, até os dias atuais, observamos uma evolução importante com a valorização da mulher, como centro de atenção durante o trabalho de parto, parto e puerpério. As maternidades públicas de João Pessoa, como Cândida Vargas, Edson Ramalho, HULW e Frei Damião têm tentado melhorias e adequações, tanto do ponto de vista do preparo de seus profissionais, com a implementação ativa do grupo multiprofissional, como da ambiência para se adequarem cada vez mais às boas práticas obstétricas e neonatológicas, participando dos diversos programas do Governo Federal. Quanto `as maternidades privadas, estamos também em constante trabalho de adequação e evoluções, cada vez maiores para este fim, dando suporte para nossas parturientes e puérperas.

O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de óbitos de gestantes e puérperas acometidas pelo novo coronavírus. Para a senhora, quais as principais causas disso?
uanto a questão das várias mortes de gestantes em nosso país, segundo importante estudo, com a participação da professora Melânia Amorim, paraibana e professora da UFCG, há a associação de outros fatores de risco, ligados a essas mortes, como comorbidades, que agravaram os quadros destas gestantes. Porém, também aconteceram mortes no grupo de gestantes saudáveis, nos remetendo aos problemas crônicos dos serviços obstétricos, como a qualidade da assistência ao pré-natal, dificuldades nas urgências, com muitas carências, grandes demandas de pacientes, maternidades superlotadas, dentre outras. Estamos com índices elevados no Brasil, mas em nossa Paraíba, podemos afirmar, uma melhor condição nos números dos casos. Novos estudos evidenciam que as gestantes não representam um maior risco para adquirirem a doença, mas representam um maior risco nas UTIs, em desenvolver as complicações e os estágios mais graves. No início, havia muita lacuna, mas estamos evoluindo nos estudos e nas práticas médicas com essas gestantes, diminuindo esta mortalidade. 

O isolamento social causado pela pandemia afetou o atendimento pré-natal das gestantes? Muitas pacientes ainda estão receosas em realizar todos os exames e consultas?
O isolamento social afetou e muito o atendimento às gestantes no início desta pandemia, tendo melhorado com a reabertura nos centros obstétricos e das unidades de Saúde da Família, além dos consultórios privados com os devidos cuidados de prevenção. Não podemos parar de atender especialmente às gestantes, que por si, já representam um grupo com fragilidades inerentes à gestação. Por isto, costumamos falar, que não existe gravidez de baixo risco, mas sim, gravidez de risco habitual. Algumas gestantes ainda temem os ambientes e se isolam, mas temos a obrigação de orientá-las para ficarem em casa, mas que devem realizar seus atendimentos e exames.

Como a pandemia mudou a sua rotina de trabalho?
Inicialmente, tive uma parada no atendimento, em meu consultório, principalmente devido ao pânico instalado pela mídia e pelo desconhecimento da doença, mas a necessidade da busca pelas orientações médicas, aliadas ao elevado índice de óbitos, fez com que voltássemos ao acolhimento às gestantes, inicialmente, e às urgências ginecológicas. Mas as cirurgias ginecológicas foram suspensas. Tudo isso, impactou também nas finanças de todos nós. Mas a prioridade está direcionada às nossas vidas e das nossas pacientes. Com relação ao atendimento no serviço público, trabalho em uma maternidade de atendimento de urgência com “portas abertas” a toda gestante que nos procura, então posso afirmar que trabalhei e estamos trabalhando muito mais do que antes, na Maternidade Cândida Vargas. Recebemos pacientes de todos os lugares da Paraíba e até de outros Estados. Tudo isso, expressa um grande aumento também, da exposição de nossos profissionais à doença. Deixo o meu apelo para os gestores públicos para que tenham um olhar mais carinhoso para as nossas maternidades, para as nossas gestantes e para os nossos profissionais destemidos. Somos um escudo para todos os serviços.

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