A pandemia de Covid-19 estimulou a Ciência a procurar tratamentos e vacinas para controlar o novo coronavírus em tempo recorde. Assim, diversos estudos e investigações possibilitaram um rápido avanço na criação e produção de imunizantes. Quase 60 países, dentre eles o Brasil, já iniciaram a vacinação contra a Covid-19, após quase um ano de pandemia. Junto com a enorme produção científica, surgiram também dúvidas, questionamentos e disseminação de informações falsas, sem embasamento científico.

A médica pediatra, presidente do Comitê de Imunizações da Sociedade Paraibana de Pediatria e membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Socorro Martins, fala, na entrevista a seguir, sobre a vacinação contra a Covid-19. Formada em Medicina e com Residência em Pediatria pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Socorro é também professora da Unifacisa e médica pediatra da UFCG.

“Deveríamos estar orgulhosos e aliviados pelo que a Ciência nos proporcionou em tempo recorde”, diz a médica. Ela também fala com orgulho do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil, esclarece quem pode/deve tomar as vacinas contra a Covid-19 e alerta que as pessoas imunizadas também devem continuar mantendo as medidas protetivas. “Enquanto não alcançarmos a tão sonhada imunidade de rebanho, precisaremos continuar usando máscaras, mantendo o isolamento social e a higienização das mãos”.

Programas de vacinação em massa estão sendo implantados em todo o mundo para tentar controlar a pandemia da Covid-19. Como a senhora avalia o Programa Brasileiro?
O Brasil possui atualmente o maior programa público de imunizações do mundo, o PNI (Programa Nacional de Imunizações), reconhecido internacionalmente pelo controle e erradicação de muitas doenças infecciosas imunopreveníveis, graças ao empenho de campanhas de vacinação bem-sucedidas com altas e homogêneas coberturas vacinais e também pelo grande portfólio de vacinas oferecidas nos calendários de vacinação do Ministério da Saúde.

Como está sendo elaborada uma grande e complexa campanha de vacinação para a Covid-19 em um país de dimensões continentais como o Brasil?
A Campanha Nacional de Vacinação contra a Covid -19, foi iniciada em 18 de janeiro de 2021, e publicado o Plano de Operacionalização da Vacinação da Covid- 19 com os Informes Técnicos, embasados por discussões e decisões do PNI (Programa Nacional de Imunizações), que constituiu uma Câmara Técnica Assessora, publicada em portaria, formada por especialistas e diversas organizações governamentais e não governamentais que auxiliaram a estabelecer diretrizes e estratégias da campanha para todo o país.

Apenas a vacinação em massa traz benefícios para a população em geral. Qual a porcentagem da população precisa ser imunizada para que a transmissão do vírus seja interrompida?
Para que uma população alcance a tão desejada imunidade de rebanho é necessário que mais de 70% da população seja vacinada e dependendo da eficácia da vacina utilizada, pode ser necessário um percentual maior.

Para quais públicos as vacinas atuais contra a COVID-19 não são recomendadas?
– Hipersensibilidade ao princípio ativo ou qualquer componente da vacina
– Reação anafilática na dose anterior
– Pessoas com menos de 18 anos

As gestantes e mulheres que estão amamentando podem ser vacinadas contra a Covid-19?
A segurança e eficácia das vacinas não foram avaliadas nestes grupos. No entanto, estudos em animais não demonstraram risco de malformações. Para as mulheres pertencentes ao grupo de risco e nestas condições, a vacinação poderá ser realizada após avaliação cautelosa dos riscos e benefícios e com decisão compartilhada entre a mulher e seu médico. As sociedades científicas recomendam que devido ao risco maior de complicações apresentados pelas gestantes, elas deverão ser vacinadas. E para as mulheres questão amamentando, embora não haja estudos nesse grupo, é improvável que haja algum problema na utilização de vacinas inativadas da Covid-19. A SBP preconiza a vacinação de mulheres que estejam amamentando.

A velocidade em que as vacinas foram produzidas comprometem sua eficácia?
Não. As vacinas que foram produzidas nesse curto intervalo de tempo são eficazes e seguras. Deveríamos estar orgulhosos e aliviados pelo que a Ciência nos proporcionou em tempo recorde: o desenvolvimento e produção das vacinas. Isto foi possível pelos seguintes fatores:
– Um aproveitamento de plataformas preexistentes que foram utilizadas no surto do SARS COV1 (2002) na China e se espalhou por 29 países e o MERS (2012), Oriente Médio; ambos possuem em torno de 80% semelhança genética com o SARS COV 2, o que facilitou a adaptação dessas plataformas para o novo coronavírus.
– Houve uma grande colaboração internacional dos cientistas, universidades, laboratórios e outras diversas instituições nas pesquisas sobre as vacinas
– Houve um grande e robusto financiamento de diversos países nos investimentos das pesquisas.

Qual a avaliação da senhora quanto às prioridades estabelecidas para aplicação das vacinas contra a COVID 19?
Diante desse primeiro momento em que a produção global pelos laboratórios produtores de vacinas não tem condições de atender à demanda mundial dos diversos países , os Programas de Imunizações devem priorizar estratégias na redução da morbimortalidade causada pelo novo coronavírus e na manutenção da força de trabalho dos serviços de saúde e o funcionamento dos serviços essenciais, priorizando aqueles profissionais que são mais expostos e os grupos de pessoas mais vulneráveis a desenvolver formas graves da doença.

A senhora acredita que é preciso fazer uma campanha nacional de esclarecimentos sobre a importância das vacinas tanto para a comunidade médica como para a população em geral?
Sim. Como a pandemia surgiu em um contexto de polarização política, permeada pelos grupos antivacinistas, disseminando fake news e desinformações, a ciência precisando dar uma resposta rápida e utilizando novas tecnologias na produção das vacinas, a população ficou confusa, insegura, levando à hesitação e recusa vacinal. Através dos meios de comunicação podemos levar informações atualizadas, verdadeiras e com fundamentação científica.

Quais os cuidados que as pessoas que já foram imunizadas devem manter enquanto durar a pandemia?
As pessoas que estão sendo imunizadas não devem relaxar nas medidas protetivas recomendadas pelas autoridades sanitárias, pois ainda não conhecemos se as vacinas que estão sendo utilizadas possuem eficácia sobre a transmissão do vírus, que continua com alta circulação e sofrendo importantes mutações. As vacinas protegem o indivíduo do adoecimento para formas graves, mas ele continua sendo transmissor e permanece contaminando as pessoas. Por isso enquanto a grande maioria das pessoas não for vacinadas e não alcançarmos a tão sonhada imunidade de rebanho, precisaremos continuar usando máscaras, mantendo o isolamento social e a higienização das mãos.

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