“O câncer de mama é um problema de saúde pública”

A cada ano, o número de casos de câncer de mama e óbitos pela doença crescem no Brasil. A campanha Outubro Rosa é um movimento de alerta às mulheres e aos profissionais de saúde sobre a importância do diagnóstico precoce para que o tratamento seja feito no início da doença e aumentem as chances de cura. Este ano, a Sociedade Brasileira de Mastologia lançou a campanha “Quanto antes melhor”, em que conta com o apoio da regional da Paraíba, que além desta ação, está envolvida em diversas atividades, não apenas no mês de outubro.

“A incidência do câncer de mama aumenta assustadoramente em nosso país”, afirma a presidente da Sociedade de Mastologia da Paraíba, Lakymê Mangueira Porto. Na entrevista a seguir, ela fala, além da importância do diagnóstico precoce e da necessidade de os profissionais de saúde também estarem informados sobre a relevância dos exames. “O rastreamento do câncer de mama não precisa ser feito por especialista, é para ser feito na unidade básica de saúde. Os profissionais de saúde devem estimular as mulheres a fazerem esse rastreamento”, afirma.

Formada em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba, com residência médica em Mastologia (Hospital de Base de Brasília) e em Ginecologia e Obstetrícia (IMIP), além de Mestrado em Tocoginecologia (UFPE), Lakymê é também professora da UFPB, supervisora da Residência Médica de Mastologia da UFPB e médica mastologista do Hospital Napoleão Laureano e da Clínica Oncovida.

A pandemia tem atrasado a realização de exames e consultas, que previnem o câncer de mama? As mulheres estão com medo de procurem os serviços de saúde para fazerem os exames preventivos?

Com certeza! Muitas mulheres estão com dificuldade de acesso à saúde no país e no nosso estado. Com a pandemia da Covid-19, muitos serviços de saúde foram direcionados para esse fim, gerando atraso no diagnóstico e tratamento de outras doenças, entre elas o câncer de mama. Muitas mulheres tiveram seu acesso dificultado aos serviços de saúde e outras ficaram com receio de exposição e de sair de casa para realizar seus exames, atrapalhando muito o rastreamento e diagnóstico do câncer de mama este ano.

A Sociedade de Mastologia da Paraíba vai fazer alguma campanha ou ação para incentivar a realização de consultas e exames durante o Outubro Rosa?
A Sociedade Brasileira de Mastologia da Paraíba (SBM-PB) realiza ações durante o ano inteiro. Nossa campanha não se resume apenas ao mês de outubro. A gente trabalha o ano inteiro em prol de mais diagnóstico precoce do câncer de mama e melhor tratamento para a doença. Outubro é apenas um mês para chamar atenção da população, dos outros profissionais de saúde, dos gestores públicos sobre a necessidade do diagnóstico precoce e do tratamento do câncer de mama. O câncer de mama tem alta incidência no nosso país e no nosso estado. O diagnóstico muitas vezes ainda chega em estágios tardios e muitas vezes, a nível de saúde pública, as pacientes têm dificuldade ao acesso. Então, outubro é para chamar esta atenção. O que estamos organizando durante este mês: junto com a Sociedade Brasileira de Mastologia, estamos lançando a campanha “Quanto antes melhor”. Esta campanha evidencia que se a gente adota medidas de hábitos saudáveis, alimentação equilibrada, atividade física e melhor qualidade de vida, nós conseguimos diminuir a obesidade e, consequentemente, diminuir o risco para câncer de mama. Quanto mais cedo a gente faz o diagnóstico da doença, mais chance de cura. A campanha vai ser lançada em todas as redes sociais, lembrando que este ano não estamos podendo fazer aglomerações, com os mutirões de atendimento. Estamos juntos também com a Secretaria de Saúde, desenvolvendo uma atividade que vai ser feita no dia 20 de outubro às 10h, para os profissionais de saúde da rede pública. Serão atividades de conscientização, demonstração, de como solicitar exames, como fazer diagnóstico, tratamento. Além disso, a SBM-PB, em parceria com o Hospital Napoleão Laureano, participará de mutirões de cirurgia para tratamento de câncer de mama, para que a fila de espera diminua. Também faremos, junto com o CRM-PB e o Hospital da Unimed, atendimento de apoio à população carente, com solicitação de exames para rastrear possíveis mulheres com câncer de mama. Aulas de conscientização para os profissionais de saúde, junto com especialistas de mastologia já estão ocorrendo desde setembro e sendo mantidas agora em outubro, para divulgação da necessidade de se fazer o diagnóstico precoce dessa doença. Porque só fazendo o diagnóstico precoce a gente consegue diminuir a morte por câncer de mama. A SBM-PB também está auxiliando e apoioando projetos sociais realizados por outras mulheres e por ONGs, como a “Amigos do Peito” e o “Projeto Ágatha”, que visam auxiliar as mulheres menos favorecidas, para que tenham melhor acesso ao diagnóstico precoce do câncer.

Como a sra avalia a assistência à saúde da mulher na Paraíba?
Sempre costumo dizer que nada está tão bom e perfeito que não precise melhorar. Então, na Paraíba tem melhorado muito a assistência à saúde da mulher, com acesso ao serviço de saúde e uma melhor abrangência no rastreamento mamográfico. No entanto, ainda estamos engatinhando neste processo, ainda precisamos melhorar. O rastreamento mamográfico na Paraíba ainda é baixo e a gente só consegue impacto na mortalidade se rastrear melhor a doença e fazer um diagnóstico precoce. A gente precisa melhorar ainda muito esse rastreamento mamográfico para diagnosticar a doença em estágios iniciais. Infelizmente, no nosso estado, o rastreamento mamográfico ainda é baixo, precisa melhorar. Fazemos diagnósticos tardios da doença e isso impacta a mortalidade. Precisamos melhorar também o acesso dessas mulheres aos serviços de saúde, melhorar a conscientização dessas mulheres para a realização dos exames, agilizar o início do tratamento. Quando falamos em câncer de mama, falamos em tempo. Quanto mais a gente faz o diagnóstico tardio e atrasa o início do tratamento, estamos perdendo tempo de vida.

Ainda há falta de informação sobre o câncer de mama, tratamentos e exames? A população precisa ser melhor informada sobre a doença?
Sim. Ainda precisamos informar mais a nossa população e os próprios profissionais de saúde. O rastreamento do câncer de mama não precisa ser feito por especialista, é para ser feito na unidade básica de saúde. A gente tem que informar às nossas mulheres da necessidade de fazer o rastreamento, principalmente a partir dos 40 anos e mantido anualmente. Os profissionais de saúde devem estimular as mulheres a fazerem esse rastreamento. O autoexame da mama, hoje, funciona para autoconhecimento da mulher com relação a seu corpo. O grande objetivo é que a gente faça o diagnóstico de lesões subclínicas, aquelas que nem desenvolveram sintomas ainda de forma que as mulheres percebam. E esses diagnósticos de lesões subclínicas só podem ser feitos com a mamografia.

As fake news atrapalham o diagnóstico precoce da doença? O medo afasta algumas mulheres da mamografia por conta de notícias inverídicas sobre o exame?
Sim, atrapalham muito. A internet é uma grande arma, que pode ser um grande aliado a favor da saúde, mas também pode ser um grande vilão. Então, na verdade, há muitas notícias falsas, disseminadas na internet, como as que dizem que a mamografia tem uma radiação que vai piorar o câncer de mama ou que a biópsia vai espalhar o câncer de mama. Isso não é verdade. A radiação da mamografia é muito pequena e não gera sequela nenhuma para as pacientes. Existem lesões para o câncer de mama e outras alterações que só aparecem na mamografia. Então, a nossa grande arma contra o câncer de mama é o diagnóstico precoce. A gente só consegue esse diagnóstico se a gente faz o rastreamento anual com a mamografia.

O número de casos de câncer de mama aumenta a cada ano, no Brasil. Qual a avaliação da sra sobre isso?
A incidência do câncer de mama aumenta assustadoramente em nosso país. Hoje, o câncer de mama é um problema de saúde pública. Ele tem alta incidência e, infelizmente, ainda tem alta taxa de mortalidade. E por que isso? Claro que hoje fazemos mais diagnóstico. Então, antes muitas mulheres morriam por metástase em outros órgãos e nem sabiam que a origem era de um câncer de mama. Como fazemos mais diagnóstico, aumenta o número de incidência. Além disso, hoje a notificação é maior. No entanto, o principal fator são as mudanças de hábitos de vida. Hoje as mulheres menstruam mais cedo, entram na menopausa mais tarde, fazem uso de terapia hormonal, têm poucos filhos ou não tem filhos, às vezes não amamentam, além das mudanças na alimentação, o ganho de peso, a obesidade. Tudo isso funciona como fator de risco para o câncer de mama.

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