Na última segunda-feira, 8 de março, foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. Na Paraíba, as médicas já representam 49,2% do total de profissionais do estado, uma proporção superior à média nacional. Em um ano de pandemia, completados nesta quinta-feira (11), elas têm se destacado no combate à covid-19, tanto atuando na linha de frente, nas emergências, nos consultórios e nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), como em cargos de gestão, na direção de hospitais e clínicas referência para a doença.

Laís Pinto de Almeida é uma dessas jovens médicas gestoras e da linha de frente contra a covid-19. Aos 38 anos, formada pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e com Residência Médica em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e MBE em Gestão em Saúde pelo Insper, ela é também membro do corpo gestor e do time multidisciplinar da UTI da Clínica Santa Clara, em Campina Grande.

“Tenho orgulho de trabalhar na assistência aos pacientes com Covid. É um aprendizado diário”, diz, na entrevista a seguir. Ela fala também dos desafios enfrentados há um ano, da necessidade de ajuda da população quanto a seguir as medidas sanitárias, da celeridade na vacinação, além de ressaltar o papel da mulher na sociedade e na medicina. “Preenchemos cada vez mais espaço com profissionalismo e formação de excelência. Mas sabemos que ainda há muito o que conquistar, especialmente quanto à ocupação de cargos de gestão, remuneração justa e reconhecimento”.

No dia 11 de março a pandemia de covid-19 completou 1 ano. Qual análise a sra faz deste período? O que aprendemos com a doença? O que falta aprender?

O último ano foi de grandes desafios para os serviços de saúde e todos os profissionais envolvidos na assistência aos pacientes com Covid. Foi necessário planejar, executar, ampliar com a máxima rapidez. Foi um período de grande aprendizado e cooperação. O conhecimento foi compartilhado e o acesso à informação foi democratizado como nunca se viu antes. Os serviços de saúde precisaram se ajudar e trocar informações. Aprendemos não apenas sobre a doença, mas também sobre consciência social, solidariedade, capacidade de adaptação e importância das informações baseadas em evidências. Apesar de tamanho crescimento, muito ainda há para avançarmos, tanto no entendimento e tratamento da doença, como em como podemos nos proteger em comunidade com empatia e mínimas perdas para a economia e convívio social saudável.

Como tem sido para a sra trabalhar na linha de frente da pandemia? Quais os principais desafios?

Tenho orgulho de trabalhar direta e indiretamente na assistência aos pacientes com Covid. Contribuímos diariamente não apenas no cuidado ao paciente e discussão das melhores estratégias para cada um, mas também estamos constantemente em contato com familiares e com a equipe multidisciplinar. Essa interface é extremamente enriquecedora profissional e pessoalmente. Um aprendizado diário. Os maiores desafios são: como médica acompanhar as evidências e tudo o que a literatura disponibiliza sobre o tema. E como gestora prover recursos para assistência de qualidade num contexto de escassez de materiais e medicamentos em diversos momentos, bem como manter motivada uma equipe que vem se dedicando integralmente ao longo de todo esse processo. Como instituição, prover eficiência sem perder a humanização.

Leitos com mais de 90% de ocupação, profissionais de saúde exaustos e uma parte da população ainda insiste em não seguir as medidas sanitárias. O que a sra pensa sobre isso?

Toda mudança de comportamento é difícil tanto de acontecer como de se manter. O trabalho das autoridades tem de ser incansável no sentido de educação da população, fiscalização das medidas de controle implementadas e divulgação honesta de dados. Temos trabalhado arduamente para garantir assistência de qualidade aos pacientes que confiam sua saúde à nossa equipe. No entanto temos consciência de que manter os bons números que temos e o índice de satisfação que atingimos em nosso serviço só será possível se não entrarmos em colapso. O país vive o momento mais difícil desde o início da pandemia e precisamos da ajuda da população no sentido de usarmos os dispositivos que temos para atravessarmos esse momento de maneira controlada.

Como a sra avalia o programa de imunização brasileiro contra a covid-19?

A vacina chegou em tempo recorde e isso nos encheu de esperança. Nosso desejo mais sincero é de que o máximo de pessoas seja imunizado o quanto antes. Atualmente nossa luta tem sido para que a vacinação dos profissionais de saúde ocorra em paralelo à vacinação de idosos e demais grupos prioritários, para que possamos garantir segurança para os indivíduos que cuidam, transitam nas áreas comuns e manipulam prontuários médicos de pacientes Covid no ambiente intra-hospitalar. Apenas com celeridade nesse processo diminuiremos morbimortalidade e o surgimento de cepas mutadas do Sars-Cov2.

Na última segunda-feira (8) comemoramos o Dia da Mulher. Como a sra avalia o papel da mulher na medicina paraibana?

Não apenas na medicina, onde segundo o CRM representamos pouco mais de 49% dos médicos do estado, mas em todas as áreas de atuação, a mulher é sempre desafiada a ocupar seu espaço com competência, sem deixar de trazer seu olhar sensível e humano para o dia a dia da profissão. Preenchemos, portanto, cada vez mais espaço com profissionalismo e formação de excelência. Mas sabemos que ainda há muito o que conquistar, especialmente quanto à ocupação de cargos de gestão, remuneração justa e reconhecimento. Tenho orgulho de ser médica na Paraíba e devolver ao lugar onde recebi condições para a minha formação médica, minha força de trabalho, pautada nos valores que considero fundamentais para exercer minha profissão com ética, generosidade, humanismo e constante vontade de aprender e ajudar. Características marcantes do universo feminino.

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