“Seguimos sem vacina, sem cura e todos os dias temos novos pacientes. Isso é prova de que a pandemia não acabou”
Dra Irla Andrade Dantas
Em 2019, Irla Dantas se formou em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) de João pessoa. Em março de 2020 iria para Nova York (EUA) fazer um estágio em Obstetrícia. Com a pandemia de Covid-19, o curso foi cancelado e seus planos mudaram. Irla foi trabalhar na linha de frente contra a Covid-19, no Hospital Pedro I, referência para o atendimento a pacientes acometidos pelo novo coronavírus, em Campina Grande, sua cidade natal.
Em junho, ela foi diagnosticada com a Covid-19, a doença evolui para uma forma grave e ficou três dias internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Depois de recuperada, voltou a atender seus pacientes no Hospital Pedro I. “Vivemos um misto de tristeza, com a perda de pacientes e membros da família, mas com a satisfação de poder ajudar, de segurar na mão do paciente e conseguir orar por ele”, disse Irla.
Aos 27 anos, ela foi umas das médicas jovens, homenageadas pelo CRM-PB, durante a Semana do Médico 2020. Na ocasião, o presidente do CRM-PB, Roberto Magliano de Morais, agradeceu aos profissionais, ressaltando que eles dignificam a Medicina paraibana e que são exemplos para a classe médica. Na entrevista a seguir, Irla fala sobre sua experiência como médica e paciente da Covid-19, sua motivação em continuar trabalhando e que, apesar do medo do desconhecido inicial ter passado, a pandemia ainda não acabou.
Como tem sido a experiência de trabalhar como médica da linha de frente na pandemia?
Tem sido uma experiência revigorante. Estamos tendo a oportunidade de trabalhar com vários profissionais e vivenciando a humildade de outros médicos, de diversas especialidades. Temos toda uma equipe se deparando com o desconhecido, crescendo junto e constantemente.
O que a motivou a trabalhar com pacientes com Covid-19?
Devido à minha faixa etária, eu sabia que minha disponibilidade era importante. Já sentíamos a falta de médicos, já que muitos tinham que se afastar pela idade ou por estarem adoecendo. Eu acredito muito nos planos de Deus para a minha vida. E acredito na promessa dEle.
Como foi a sua experiência pessoal com a Covid-19? Passou quanto tempo afastada do trabalho para o tratamento?
Eu estou trabalhando apenas com a Covid desde abril. Até agora está sendo uma montanha russa de emoções. Infelizmente eu perdi um membro da minha família, assim como vários pacientes. Então é um misto de tristeza, com a satisfação de poder ajudar, de segurar na mão do paciente e conseguir orar por ele, apesar da solidão da Covid. Eu também tive a Covid e fiquei três dias internada na UTI. Como tenho asma, meu quadro se agravou. Fui para a UTI no mesmo dia que a dra Ana Cantalice (pediatra de Campina Grande que acabou falecendo de Covid). É muito triste esta doença. Depois de 20 dias, recuperada, voltei a atender meus pacientes no Hospital Pedro I. Voltei bem melhor do que antes, porque eu podia dizer “já tive, está tudo bem”.
Como a sra avalia a volta à rotina, ao “novo normal”?
Acredito que o trabalho na área de saúde vai ser mais valorizado a partir do momento que a sociedade consegue entender a dedicação da equipe e valoriza o tempo de entrega dos mesmos.
Muitas pessoas, inclusive profissionais de saúde, já falam que estamos na “pós pandemia”. O que a sra acha sobre isso? A pior fase da pandemia, na Paraíba, já passou?
Acredito que a fase do despreparo, da falta de conhecimento e do medo do desconhecido já passou, e isso faz muitos acreditarem em uma pós pandemia. Entretanto, seguimos sem uma vacina, sem uma cura, e todos os dias temos novos pacientes. Isso é prova de que a pandemia não acabou e, como não acabou, não podemos dizer qual foi a pior parte.