entrevista-gualterramalhoNo dia 28 de março de 2020 o médico anestesiologista Gualter Ramalho foi eleito presidente do Conselho de Administração da Unimed João Pessoa. Havia poucos dias que a Paraíba tinha registrado o primeiro caso de covid-19 no estado e, com isso, uma longa e responsável missão estava apenas iniciando na vida profissional do médico. O Hospital Alberto Urquiza Wanderley, da rede Unimed, é a maior unidade particular do estado referência para pacientes acometidos pelo novo coronavírus. Atualmente, vem registrando recordes quase diários em atendimentos a pessoas com síndromes gripais e internações de pacientes com a covid-19.

“Acredito que estamos em uma missão. E em missão não há espaço nem para descanso, nem para a covardia. Estamos fazendo a nossa parte, mas precisamos do apoio da população”, desabafa Gualter na entrevista a seguir. Ele também fala dos desafios enfrentados e gargalos da pandemia, do crescente número de atendimentos e internações, além da exaustão dos médicos e equipes de saúde. “O atual momento é crítico”, completa.

Formado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Gualter tem pós-graduações em anestesiologia pela Universidade de Brasília (UnB), em acupuntura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutorado em anestesiologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp/SP). Além de presidir o conselho da Unimed, é professor da UFPB.

Como tem sido para o senhor estar à frente da maior Cooperativa Médica da Paraíba em tempos de pandemia? Quais os principais desafios?
Acredito que é uma missão. E missão se cumpre. Os principais desafios são os gargalos da pandemia: espaço, por isso estamos expandindo interna e externamente, para termos mais tranquilidade; equipe, temos tido grande dificuldade porque elas estão exauridas, às vezes se afastando por motivos de saúde, desde a doença covid até as doenças mentais, que fazem parte do estresse que acomete o mundo inteiro; equipamentos, que não é só ventilador, mas monitor, bomba de infusão, insumos; e por fim os equipamentos de proteção individual, que estamos tranquilos. Destes todos, a equipe é o grande gargalo hoje.

Como tem sido a sua rotina de trabalho?
(risos…) 36 horas por dia…

Qual análise o senhor faz do atual momento da pandemia de Covid-19?
O atual momento é crítico. Nas últimas 24 horas (terça, dia 23) tivemos o maior pico de atendimento de síndromes gripais no hospital. Foram 230 atendimentos, dos quais 16 foram internados. Ou seja, estamos correndo e atendendo a todos, dando assistência de excelência. Mas precisamos da cooperação da população com as medidas preventivas. Estamos caminhando para uma situação mais crítica e acho que nem atingimos o pico ainda. No final de semana teremos a expressão da exposição do período de carnaval.

Estamos em uma situação mais grave que o pico da doença em maio/junho do ano passado?
Sob o ponto de vista de expressão de internações, com certeza. E também com mais agressividade da cepa de vírus. Sob o aspecto de conhecimento da doença, a gente avançou bastante.

Os profissionais de saúde já estão exaustos em quase um ano de trabalho árduo na pandemia. Qual mensagem o senhor pode passar para eles?
Estamos em missão. Em missão não há espaço nem para descanso, nem para a covardia. Por isso que estamos todos nós imbuídos nesse propósito. Mas precisamos da cooperação da população. Estamos dando o máximo que a gente pode, com ajuda psicológica, com ações de humanização, de descompressão dentro da própria equipe, de maneira ativa. Mas a gente entende que é humanamente impossível não estar sob forte stress nesse momento. Mas aí é que faz a diferença. Como dizia o provérbio chinês: tempos difíceis atraem fortes, que tornam os tempos fáceis, que atraem homens fracos; e os homens fracos fazem retornar aos tempos difíceis. Então estamos em um momento de tempo difícil e temos de encarar desta forma. Temos tido uma resposta muito positiva, tanto dos colaboradores, quanto dos médicos cooperados e dos não cooperados que também participam do projeto. Apesar da exaustão, apesar do forte estresse, todos estão com brilhos nos olhos cumprindo sua missão. Estamos fazendo nossa parte, mas precisamos do apoio da população.

O que senhor pode dizer à população que ainda promove aglomerações e não segue as medidas sanitárias?
Primeiro, eu entendo. Nós somos latinos e não afeitos a esse isolamento social. Somos festivos, um povo ordeiro, anfitrião. É um cenário muito fora do normal e temos que compreender de maneira tranquila que há uma necessidade de extravasamento. As pessoas saem, as pessoas precisam respirar, se abraçar, isso é um fato natural. Contudo, com o aumento expressivo do número de casos, a gente precisa rever esses conceitos e, pelo menos por um período, enquanto a imunização avança e a vacinação se torna realmente expressiva no Brasil, a gente precisa evitar. Já estamos passando do ponto e esse é um risco que trazemos a nós mesmos e a nossos familiares. Então precisamos rever essa nossa necessidade de extravasar e conter um pouco, se inspirar nos anglo-saxões e orientais que são mais disciplinados nesse aspecto. A gente não pode reeditar o que temos visto de forma reiterada nas redes sociais, que é uma certa negligência da população nas medidas básicas de prevenção.

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