“Durante a pandemia continuamos atendendo os pacientes com HIV/Aids”

A pandemia da Covid-19 diminuiu a procura dos portadores do HIV pelos serviços oferecidos pelo Hospital Clementino Fraga, em João Pessoa, unidade de referência para o tratamento da Aids. No mês de maio deste ano, a triagem deste serviço no hospital não realizou nenhum exame, apesar do atendimento e do serviço de urgência para os pacientes com HIV/Aids não ter deixado de funcionar um dia sequer.

Na entrevista a seguir, o diretor geral do Complexo Hospitalar de Doenças Infectocontagiosas Clementino Fraga, o infectologista Fernando Chagas, fala sobre a necessidade de se continuar os tratamentos, as mudanças que tiveram que fazer na unidade de saúde para atender também os pacientes com Covid-19 e sobre as ações durante o Dezembro Vermelho, a campanha de conscientização, prevenção e luta contra o estigma e o preconceito em relação ao HIV.

Formado em Farmácia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e em Medicina pela Universidade de Pernambuco (UPE), com residência médica em Infectologia pela UFPB, Fernando, além de diretor do Clementino Fraga é coordenador do CCIH da Hapvida e médico assistente do setor Covid da Unimed João Pessoa.

 

Neste ano de 2020 está havendo um aumento do número de casos de pessoas infectadas pelo HIV, na Paraíba?

Comparado ao ano de 2019, o ano de 2020 não houve aumento do número de pessoas infectadas pelo HIV, na Paraíba. Acreditamos que isso está relacionado diretamente à pandemia, porque um número menor de pessoas buscou atendimento para fazer o teste rápido. Porém, quando comparamos ao ano de 2018, mesmo ainda não tendo computados os dois últimos meses de 2020, a quantidade de casos novos de HIV na Paraíba já é maior. Então, em relação a 2018, temos um quantitativo maior, que nos deixa surpresos, tendo em vista que no período do ápice da pandemia aqui no estado houve uma queda brusca de pessoas buscando fazer exames. Fato que a gente comprovou no mês de maio, quando não tivemos um único exame sendo feito na triagem do hospital.

A pandemia tem atrapalhado o acompanhamento oferecido pelo Hospital Clementino Fraga aos pacientes que vivem com o HIV?

A pandemia atrapalhou o fluxo interno de serviços porque foi preciso separar setores do hospital para o atendimento e internação de pacientes com a Covid-19. Então, o hospital precisou ter o fluxo dividido, onde um lado do hospital ficou atendendo os pacientes com urgência e emergência, pacientes com HIV e Aids, que precisavam de atendimento de urgência, pronto atendimento. E do outro lado os pacientes com Covid-19. Então, realmente, houve um trabalho que precisou ser repensado, precisamos nos reinventar. Neste período, houve uma diminuição da busca dos pacientes com HIV pelo serviço, embora em momento algum o hospital fechou o pronto atendimento ou o hospital dia, que é o serviço de urgência para o paciente HIV. Durante todo o período de pandemia, continuamos ainda a atender os pacientes com HIV/Aids.

O Hospital Clementino Fraga está promovendo ações de conscientização e prevenção em relação ao HIV para divulgar a campanha Dezembro Vermelho?

Nos anos anteriores, o hospital Clementino Fraga sempre preparava trabalhos externos, de conscientização, em diversos pontos da cidade, oferecendo testagens, panfletos. Desta vez, por conta da pandemia, estamos realizando trabalhos de conscientização online, apresentando lives pelo instagram do hospital, assim como oferecendo a testagem no serviço de triagem do próprio hospital.

O senhor avalia que as pessoas estão mais informadas sobre a Aids, formas de contágio e de prevenção? Ainda há preconceito?

A gente tinha essa sensação de que as pessoas estavam mais informadas sobre a Aids, até porque hoje em dia o acesso à internet se tornou popular, o que, em teoria, ajuda bastante o processo de informação e, consequentemente, diminuiu o preconceito. Porém, na pratica, a gente tem observado que ainda há muita desinformação. Então, as pessoas ainda têm medo de beijar e abraçar os portadores de HIV, o que hoje é algo impensável. As pessoas ainda não conhecem o tratamento, os anti-retrovirais disponibilizados pelo SUS para os pacientes. Ainda há uma rotulação dos pacientes, que ainda sofrem muito preconceito. Tanto que as pessoas não têm medo de dizer que são portadoras de diabetes melitus ou até mesmo de vírus da hepatite C, por exemplo, mas têm vergonha e medo de expor que são soropositivos para HIV.

Como o senhor vê o atual momento que estamos vivendo com relação à pandemia de Covid-19? Já estamos em uma segunda onda da doença?

Durante o ápice da pandemia por covid 19, o nosso índice de transmissibilidade chegou a níveis muito altos. Usamos como índice base o número 1, quando esse índice está acima de 1, significa que a transmissão está maior do que o número de curados, enquanto que abaixo de 1 é porque está transmitindo menos. Por exemplo, quando ele estava 0,87, significava que se 100 pessoas estivessem infectadas, elas transmitiriam para 87 pessoas. Agora, estamos em um índice de 1,3, o que significa que estamos sim em uma subida. De cada 100 pessoas infectadas hoje, outras 130 serão contaminadas. Provavelmente, nós estamos subindo a curva de transmissibilidade o que pode significar uma nova onda da doença.

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