No mesmo ritmo em que cresce a procura por cirurgias plásticas estéticas, aumenta também o índice de intervenções mal-sucedidas que tiveram como principal motivo a inexistência de qualificação adequada do médico. As seqüelas vão desde pequenas cicatrizes até mesmo a morte. O Conselho Regional de Medicina na Paraíba (CRM-PB) está investigando cinco casos de erros médicos relacionados à cirurgia plástica, de um total de 120 sindicâncias em tramitação. Apesar de não ser considerada uma prática ilegal, médicos que realizam cirurgias plásticas sem especialização na área estão indo de encontro ao Código de Ética da Medicina. Na Paraíba, existem apenas 37 médicos registrados como especialistas em cirurgia plástica no CRM-PB, de um total de 4.424 profissionais em atividade. No entanto, o número de profissionais realizando intervenções cirúrgicas pode ser maior. O presidente do CRM da Paraíba, Dalvélio de Paiva, lamenta que muitos médicos realizem procedimentos cirúrgicos sem o conhecimento adequado das técnicas necessárias. São especialistas em áreas como clínica geral e endocrinologia que fazem as intervenções estéticas nos pacientes, mas não passaram pelo processo de qualificação. Ele lembra que apesar de causar sérios riscos para o paciente, o graduado em Medicina está apto, de acordo com a lei, a realizar todo tipo de procedimento médico. “Mas é uma atitude completamente antiética, pois entendemos que não basta ter a graduação em Medicina. A cirurgia plástica, assim como a cardiologia ou a obstetrícia, é uma especialidade que requer um preparo específico do médico”, dispara. Além dos anos na graduação, o futuro cirurgião plástico terá que fazer dois anos de residência em cirurgia geral e passar pelo menos três anos em um curso de especialização. Só assim, ele poderá ser considerado um profissional habilitado para fazer cirurgias plásticas. No entanto, não é assim que acontece. O cirurgião plástico Roberto Dino, há 19 anos atuando na área, diz que atualmente algumas instituições oferecem cursos rápidos, de menos de um ano, e liberam o diploma de cirurgião plástico. “Qual a garantia que esse profissional está realmente pronto?”, questiona. O médico avisou que embora esteja fora dos padrões éticos, há uma demanda grande no país de profissionais de outras especialidades que insistem em fazer cirurgias plásticas, levando inúmeros riscos para os pacientes. “Um otorrinolaringologista, por exemplo, opera o nariz para que o paciente possa respirar melhor, mas não quer dizer que ele esteja apto para fazer uma intervenção estética no local. São procedimentos diferentes e exigem capacitações diferentes”. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica regional Paraíba (SBCP) Péricles Filho, atualmente existem 34 cirurgiões plásticos vinculados à entidade. O especialista reforça que o médico está apto para realizar qualquer tipo de cirurgia, no entanto não pode se anunciar como cirurgião plástico. “Há procedimentos específicos como lipoaspiração, segundo a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que exigem do médico treinamento completo em cirurgia geral. Nossa lei necessita de muito avanço nessa área. Alguns cirurgiões que atuam em nosso Estado, fazendo cirurgias plásticas, não possuem o treinamento necessário de pelo menos cinco anos. Isso é um risco para a saúde dos pacientes”, reconhece. Sem habilitação, médicos burlam lei para pleitear título de cirurgião O médico Roberto Dino explicou que para ser membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), a pessoa deve ser um cirurgião plástico habilitado ou um estudante do curso de especialização na área, reconhecido pelo Ministério de Educação (MEC). Dino denuncia, com uma certa revolta, algumas brechas que estão sendo abertas para que médicos que atuam em cirurgia plástica há muito tempo, mesmo sem a especialização necessária, possam pleitear o título de cirurgião plástico. “As pessoas sempre tentam encontrar meios para burlar a lei, mas a SBCP tem lutado contra as práticas que vão de encontro ao Código de Ética Médica”, ressalta. Em casos de denúncia, o Conselho de Medicina instaura uma sindicância para investigar o caso. Ao concluir as investigações, o processo pode ser arquivado (se não houver procedência), ou acontecer a conciliação entre os envolvidos, e a última instância que se trata da abertura de processo ético profissional. Segue para relator e revisor e vai para julgamento, as penalidades são advertência, censura pública, suspensão de exercício profissional por 30 dias e até cassação do exercício profissional. O presidente do CRM-PB citou o caso de uma paciente que procurou o Conselho para denunciar um médico que a operou de maneira inadequada. A mulher foi operada por um profissional não habilitado para implante de silicone na região glútea, e colocada de forma incorreta a prótese estourou, causando problemas de saúde para a paciente. Existem pelo menos 59 comunidades no site de relacionamentos Orkut com centenas de participantes que viveram na pele o sofrimento de perder um familiar ou que tiveram algum parente com graves lesões por conta de erro médico. “É claro que o erro pode acontecer com qualquer um, no entanto, os riscos que as pessoas correm ao procurar um profissional não habilitado é infinitamente maior”, garante Dino. Revolta e tristeza podem ser facilmente identificados como características dos depoimentos dos membros dessas comunidades. Entidades criadas por pessoas que passaram por algum tipo de erro médico, de maneira direta ou indireta, lutam para que os culpados não fiquem impuneS e livres para prejudicar a vida de outros pacientes. Fonte: Jornal da Paraíba Data:05/10/2008

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