Superlotação, falta de manutenção de aparelhos, medicamentos e insumos insuficientes, baixa remuneração dos profissionais, carência de leitos e indícios de que o hospital vem passando por uma crise financeira, que está ocasionando deterioração predial e dos equipamentos. Estes foram alguns dos problemas identificados pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) no Hospital de Emergência e Trauma da Paraíba. A entidade realizou fiscalização na unidade hospitalar no dia 1º deste mês e constatou que o local vem oferecendo risco à população e para o exercício da Medicina. O chefe do setor de fiscalização do CRM, João Alberto Pessoa, contou que o órgão realizou inspeção no hospital atendendo a solicitação da Cooperativa dos Ortopedistas (Coort-PB), que denunciou dificuldades para realizar procedimentos cirúrgicos na unidade. Contudo, durante a avaliação, vários outros problemas foram percebidos que, segundo ele, comprometem a saúde e integridade dos pacientes e o exercício profissional dos funcionários. O relatório apontou uma superlotação de todos os setores. Na urgência, pacientes permanecem internos em macas, muitas vezes, localizadas nos corredores. Algumas delas sequer pertencem à unidade, recebendo a identificação de ambulâncias e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O local tem capacidade para oito pacientes, mas no momento da inspeção, havia 11 pessoas internas. Adulto deitado em berço Durante a fiscalização, um dos pacientes da enfermaria masculina estava deitado em um dos berços da pediatria. João Alberto explicou que o setor destinado à observação das crianças é improvisado. Com a superlotação, os adultos são levados para o corredor.O médico ressaltou que há pacientes em excesso também na emergência. Além de receberem atendimentos nos corredores, pela falta de leitos, o local também tem que abrigar pacientes que deveriam estar na UTI. As enfermarias não contam com médicos plantonistas. O atendimento aos pacientes do local é feito pelos profissionais que estão na emergência, quando estes dispõem de tempo. Espera para atendimento chega a 30 dias O Hospital de Emergência e Trauma não possui equipamentos essenciais para o atendimento das urgências cardíacas, segundo João Alberto, a exemplo do exame de arteriografia, necessário também para as cirurgias neurológicas. Além disso, no momento da inspeção um dos quatro equipamentos de raio X estava quebrado e o aparelho de ultra-sonografia sem papel para impressão do diagnóstico. Problema maior foi detectado na parte de ortopedia. \”Quando fomos ao local, todas as cirurgias estavam suspensas pela falta de prótese e órtese. Haviam 32 pacientes aguardando para se submeter ao procedimento. Alguns já estavam esperando há 20, 30 dias\”, contou. CRM encaminhou relatório ao MP Para o chefe do setor de fiscalização do CRM João Alberto, a maior parte das irregularidades encontradas no hospital são fruto do pouco investimento financeiro percebido pelos indícios de crise econômica que a unidade vem enfrentando. \”O hospital certamente está passando por problemas financeiros. Percebe-se pela falta de manutenção dos equipamentos e gradativa deterioração do prédio\”, afirmou. Além disso, ele comentou a baixa remuneração dada aos profissionais de saúde. Conforme disse, um auxiliar de enfermagem recebe um salário de R$ 210, para trabalhar 102 horas por mês. Já um técnico em enfermagem ganha R$ 240, para executar os serviços com a mesma carga horária. Diante de tantos problemas, o CRM encaminhou relatório, na tarde da última segunda-feira, para o Ministério Público, Secretária de Saúde do Estado, direção do Hospital e Procuradoria Regional do Trabalho, para que soluções possam ser tomadas em regime de urgência. João Alberto descartou a possibilidade de interdição, visto que, caso isso aconteça, centenas de paraibanos ficarão sem assistência à saúde, já que o hospital de Emergência e Trauma é o único que oferece o serviço público especializado. Próteses Outro grave problema encontrado pela equipe do CRM foi a presença de funcionários da empresa que fornece material de órtese e prótese ao hospital, atuando no bloco cirúrgico. \”Eles ficam no local e entregam o material necessário para a cirurgia direto ao médico, só depois que a direção do hospital vai pagar à empresa. Isso não pode acontecer. A venda dos materiais não pode ser por ‘consignação’. O hospital precisa se programar\”, informou. \”Não faltam medicamentos\” O diretor geral do Hospital de Emergência e Trauma, Jomar Paulo Neto, informou ontem, que não está faltando medicamentos e nem materiais na unidade. \”O que faltam, às vezes, são parafusos, próteses, órteses e fios usados em cirurgias ortopédicas. Mas quando falta, mandamos logo comprar, ou seja, fabricar. Isso acontece pela alta demanda de pacientes. Pois, todo mês, o Trauma faz 15 mil atendimentos, 5 mil a mais do que a sua capacidade, sendo cerca de 300 atendimentos a pacientes de outros Estados\”, afirmou. Na tarde de ontem, o governador em exercício, José Lacerda, fez uma visita ao Trauma. O secretário estadual de Saúde, Geraldo Almeida, disse que o Hospital de Trauma poderá passar a atender apenas casos de emergência. \”Uma reunião será marcada para discutir o assunto com a secretária de Saúde, Roseana Meira\”, informou.

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