Para trabalhar em estratégias de prevenção ao suicídio, o Conselho Federal de Medicina (CFM) promoveu o debate: Suicídio, é possível prevenir? Um olhar da sociedade, na tarde desta quarta-feira (3), em Brasília. O filme Elena – da diretora brasileira Petra Costa – embasou a discussão, com participação da plateia, com perguntas, depoimentos e comentários. ​Cerca de 120 médicos, psicólogos, antropólogos, farmacêuticos, estudantes​ e interessados no assunto​ compareceram ao auditório do CFM, em Brasília​.​ Com o avanço na discussão, a Comissão de Ações Sociais ​da autarquia​ pretende trabalhar em campanhas sobre o tema no próximo ano.

Na abertura, o presidente do CFM, Carlos Vital Tavares Corrêa Lima, alertou que o suicídio é um problema de saúde pública e que, com a participação de todos, pode ser reduzido em suas incidências. “Precisamos de uma sociedade engajada na defesa pela vida e gestores comprometidos com políticas públicas que realmente transformem esse cenário”, defendeu. Para ele, quebrar o preconceito salvará muitas vidas. “Aumentar a conscientização e quebrar o tabu é uma das chaves para alguns países progredirem na luta contra esse tipo de morte”.

A mesa debatedora do evento foi constituída por profissionais de diferentes formações. O psiquiatra, diretor do CFM e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Emmanuel Fortes Cavalcanti, apontou que diversos fatores podem impedir a detecção precoce e consequentemente a prevenção do suicídio.

Por outro lado, segundo o psiquiatra, ainda há um problema de subnotificação, que impede de ter dados e ações do Governo para prevenção. “São muitos casos que chegam às emergências como acidentes de carro, ingestão de remédios, tiros, que não são identificados como intenção de se matar”.

Respondendo questionamentos da plateia, Emmanuel Fortes também esclareceu que a genética está na base da doença depressiva, contudo também são considerados o ambiente e o perfil da família para se embasar uma abordagem médica. “O risco de suicídio aumenta entre aqueles com histórico familiar. Mas estes não ocorrem apenas em famílias com históricos de tentativas e atos consumados”.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo. O Brasil é o oitavo país em número de casos, com 11.821 mortes, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. O relatório da Organização das Nações unidas (ONU) aponta que a falta de abertura para o debate sobre o tema atrapalha o trabalho de prevenção de novos casos.

Crescimento entre jovens – Outro ponto abordado pelos debatedores foi o aumento do suicídio entre os jovens na última década. Hoje no Brasil o suicídio é a terceira principal causa de morte nessa faixa etária (14 a 25 anos). “Em um mundo onde as pessoas são estimuladas a serem competitivas com perfil de vencedoras, inclusive bem retratado nas mídias sociais, o individualismo e a solidão preponderam”, alertou o membro da Comissão de Ações Sociais do CFM e mediador do debate, Ricardo Paiva.

Representando o Conselho Federal de Psicologia, (CFP), Marcelo Tavares, se manifestou na plateia sobre os jovens não terem a tendência a ouvirem os adultos. Segundo ele, a aproximação com essa faixa etária é muito complicada, pois “se a abordagem for de forma errada, às vezes, se pode colocar uma ideia que o adolescente não tinha pensado”.

Já o debatedor Ricardo Rezende, padre, antropólogo e professor de Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apontou o aumento também do número de casos nos povos indígenas. Ele relatou a situação da tribo Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, que teve 684 casos registrados entre os jovens nos últimos dez anos. “A ausência de perspectiva de futuro levaram esses jovens a tirarem a vida”, apontou. Rezende citou a frase: “Quanto mais profunda é a noite, mais cedo é a madrugada” e pediu para que a plateia interpretasse como “a dor tem um limite e não se pode perder a fé e a esperança na vida”.

Abordagem – De acordo com os debatedores, todo paciente que fala sobre suicídio tem risco em potencial e merece investigação e atenção especial. “Só o fato de estarmos conversando com alguém que já consegue se expressar já é ótimo. Quantas são as que precisam ser estingadas a abrir uma luz no fim do túnel”, apontou Robert Gellert Paris Júnior, membro do Conselho Diretor do Centro de Valorização à Vida (CVV) e diretor do Befrienders Worldwide, organização que congrega entidades de Prevenção do Suicídio em 34 países de todos os continentes.

A cartilha “Informando para prevenir”, publicada recentemente pelo CFM em parceria com a ABP, coloca que a prevenção do suicídio não se limita à rede de saúde, mas deve ir além dela, sendo necessária a existência de medidas em diversos âmbitos na sociedade, que poderão colaborar para diminuição das taxas de suicídio. “A prevenção do suicídio deve ser também um movimento que leva em consideração o biológico, psicológico, político, social e cultural, no qual o indivíduo é considerado como um todo em sua complexidade”.

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