Por Dr. Bruno Leandro de Souza
MÉDICO CRM-PB: 6312
Pediatria RQE: 3910
Administração em Saúde RQE: 7910
O exercício da medicina, embora nobre e essencial à sociedade, impõe elevada carga emocional, física e moral. O médico convive diariamente com o sofrimento humano, a pressão por decisões rápidas e assertivas, a escassez de recursos assistenciais e, muitas vezes, a falta de reconhecimento social. Esse conjunto de fatores, repetido em diferentes níveis de atenção à saúde, configura um ambiente de risco para o desenvolvimento de transtornos psíquicos, como o burnout, e, em situações extremas, o suicídio.
Burnout: síndrome do esgotamento profissional
O burnout é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como uma síndrome ocupacional, caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e sensação de baixa realização profissional. Entre médicos, sua prevalência é significativamente superior à observada na população geral. Essa condição impacta não apenas a saúde do profissional, mas também a qualidade e a segurança da assistência oferecida ao paciente. A sobrecarga de plantões, jornadas prolongadas, precarização das condições de trabalho e excesso de burocracia constituem fatores determinantes para esse adoecimento silencioso.
Suicídio na medicina: uma realidade dramática
O suicídio entre médicos é uma realidade grave e ainda pouco debatida. Estudos demonstram que as taxas nesse grupo profissional são consistentemente mais altas do que na população geral. Esse fenômeno decorre de múltiplos fatores: acesso facilitado a meios letais, conhecimento farmacológico, sofrimento psíquico não tratado, estigmas em torno da busca por ajuda e uma cultura que, por vezes, nega a vulnerabilidade do médico. Cada vida perdida representa não apenas dor pessoal e familiar, mas também uma ruptura social e institucional.
O papel institucional dos Conselhos de Medicina
Nesse contexto, os Conselhos Regionais de Medicina assumem papel estratégico. Embora não lhes caiba a oferta direta de psicoterapia ou consultas médicas, é sua responsabilidade promover uma ambiência ética, normativa e protetiva em defesa da saúde mental dos profissionais. Essa atuação pode se expressar em diferentes frentes:
* Defesa de condições dignas de trabalho, por meio da fiscalização de estruturas hospitalares, combate a jornadas abusivas e enfrentamento de práticas que coloquem em risco a saúde do médico e do paciente.
* Produção de campanhas educativas e institucionais, que valorizem o médico como ser humano, rompendo o mito da invulnerabilidade e fomentando uma cultura de cuidado mútuo entre colegas de profissão.
* Articulação interinstitucional, com sindicatos, associações e entidades de classe, a fim de fortalecer políticas públicas que previnam a violência contra médicos, assegurem descanso adequado e promovam a valorização da carreira no sistema público e privado.
Considerações finais
O enfrentamento do burnout e do suicídio entre médicos não pode se restringir a abordagens individuais: requer políticas institucionais consistentes, respaldo normativo e compromisso ético. Cabe aos Conselhos de Medicina exercerem sua função de guardiões da dignidade profissional, garantindo que a prática médica ocorra em condições humanas e seguras. Cuidar de quem cuida é requisito indispensável para a qualidade da assistência em saúde.