Dra. Maria do Socorro F. Martins
MÉDICA CRM-PB: 3588
PEDIATRIA RQE: 3767
Infecções do trato respiratório inferior, causadas pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), são uma das principais causas de morbidade e mortalidade em crianças abaixo de 5 anos em todo o mundo, sendo responsável por 80% dos casos de bronquiolite. Dependendo da localidade e do período do ano, pode também ser o agente infeccioso de 60% das pneumonias virais em crianças abaixo de 2 anos. Apesar de conhecermos os maiores grupos de vulnerabilidade para evoluir com formas graves da doença, hospitalizações e óbitos, que são os prematuros extremos, cardiopatas com repercussões hemodinâmicas e os pneumopatas crônicos, os estudos evidenciam que nos últimos dois anos, 80% das crianças que evoluíram com esses desfechos desfavoráveis eram saudáveis e que nasceram a termo. Sendo que mais de 50% das hospitalizações ocorreram nos primeiros 3 meses de vida e 75% nos primeiros 6 meses. Aquelas que vivem em países de baixa renda e expostos a ambientes socioeconômicos desfavoráveis, são os mais susceptíveis.
O VSR tem um pico de sazonalidade nos meses do outono e inverno coincidindo muitas vezes com as estações chuvosas, podendo causar verdadeiras epidemias. O Brasil por ser de dimensões continentais, apresenta sazonalidades diferentes entre as suas regiões. Também observamos surtos em outras estações do ano e observamos circulação do vírus o ano inteiro, principalmente em regiões de clima tropical como o nosso país.
Após décadas de pesquisa, a ciência consegue desenvolver uma vacina RSVpreF (ABRYSVO), bivalente, recombinante, em dose única, para ser aplicada na gestante, entre 24 a 36 semanas, que protege o bebê até 6 meses de idade, através da passagem de anticorpos transplacentários da classe IgG. Os estudos pivotais para licenciamento da vacina, demonstraram uma eficácia para as formas graves da doença do trato respiratório inferior, nos primeiros 90 dias de vida da criança é de 81,8% e de 64,4% 180 dias após o nascimento.
A vacina também apresentou um excelente perfil de segurança apresentando como eventos adversos locais os mesmos observados para as demais vacinas licenciadas e utilizadas de rotina, como também os eventos adversos sistêmicos sem diferenças estatísticas para o grupo placebo. Os estudos também não observaram aumento de prematuridade, baixo peso e icterícia neonatal nas crianças de mães vacinadas contra o VSR. A ANVISA também licenciou no início de 2025 a vacina RSVpreF (ABRYSVO) para adultos de 18 a 59 anos com comorbidades. Ela já estava licenciada no momento que foi liberada para gestantes, para pessoas acima de 60 anos, onde temos uma letalidade pelo vírus maior de 20% nesse grupo.
Outra estratégia importantíssima no enfrentamento do VSR é o NIRSEVIMABE (BEYFORTUS), um novo anticorpo monoclonal recombinante humano, com meia vida de 150 dias (5 meses). A sua aprovação pela ANVISA foi baseada nos estudos pivotais para os desfechos de eficácia para hospitalizações em torno de 86,5%. Sendo indicado:
- Recém-nascidos e lactentes entrando ou durante sua primeira temporada do VSR.
- Crianças de até 24 meses de idade que permaneçam vulneráveis à doença grave causada pelo VSR, como:
- Doença pulmonar crônica da prematuridade (DPC)
- Doença cardíaca congênita hemodinamicamente significativa (DCC)
- Imunocomprometidos
- Síndrome de Down
- Fibrose cística
- Doença neuromuscular
- Anomalias congênitas das vias aéreas
No Rol da ANS, todos os convênios são obrigados a fornecer o NIRSEVIMABE (BEYFORTUS) para:
- Prematuros com idade gestacional < 37 semanas e com idade inferior a 1 ano, entrando ou durante sua primeira temporada do VSR.
- Crianças com idade inferior a 2 anos, com a presença de doença pulmonar crônica da prematuridade ou doença cardíaca congênita com repercussão hemodinâmica.
O Brasil adotou a estratégia combinada da vacinação da gestante e o anticorpo monoclonal. Esperamos em um futuro breve que estejam disponíveis através do PNI para os grupos elegíveis e possamos enfrentar a sazonalidade do VSR com mais tranquilidade, sem as superlotações das UTIs neonatais e pediátricas, emergências cheias. Acreditamos que com essas duas ferramentas resolveremos a pressão sobre todos os serviços de saúde, que anualmente temos nos picos da sazonalidade do VSR.