Por Dr. Fernando André Costa de Souza
MÉDICO CRM-PB 10731
Oncologia clínica RQE: 7525
Nos últimos anos, a Oncologia passou por uma verdadeira revolução. O que antes era tratado de forma padronizada, com quimioterapias semelhantes para diferentes pacientes, hoje dá lugar à medicina personalizada, também chamada de oncologia de precisão.
Essa nova abordagem parte de um princípio simples, mas profundamente transformador: cada doença é única, assim como cada paciente. Por meio de exames genômicos e moleculares, é possível identificar as alterações específicas que impulsionam o desenvolvimento do câncer. Com essas informações, o tratamento torna-se mais assertivo e direcionado a alvos moleculares bem definidos.
Na prática, isso significa que dois pacientes com o mesmo tipo de câncer podem receber terapias completamente diferentes, conforme o perfil genético do tumor. Essa individualização aumenta as chances de resposta, reduz efeitos colaterais e, sobretudo, respeita a singularidade de cada pessoa.
Mas a personalização em oncologia vai muito além dos exames e das terapias. Ela está, principalmente, na forma como o paciente é acolhido, ouvido e compreendido. Cuidar de alguém com câncer é um exercício diário de ciência e empatia. O contato próximo entre médico e paciente é essencial, construído sobre a escuta atenta, a confiança e o olhar humano diante da vulnerabilidade.
O tratamento oncológico não se resume a protocolos e medicamentos inovadores. Envolve também oferecer apoio emocional, reconhecer o medo e a incerteza e caminhar junto em cada etapa. O paciente deve sentir-se percebido em sua totalidade, com suas histórias, valores e expectativas, e não apenas como um diagnóstico.
Um exemplo marcante dessa integração entre tecnologia e humanidade é o uso de terapias-alvo e imunoterapias em tumores antes considerados de difícil controle. Hoje, medicamentos podem bloquear mutações específicas, como as dos genes EGFR, ALK e ROS1 no câncer de pulmão, ou BRAF no melanoma. Além disso, a imunoterapia ensina o próprio sistema imunológico a reconhecer e combater as células tumorais, mostrando o poder da ciência aliado à sensibilidade do cuidado médico.
É importante lembrar que a oncologia de precisão também amplia nossa responsabilidade ética: compreender que cada paciente traz não apenas um conjunto de genes e alterações moleculares, mas uma trajetória de vida que merece ser acolhida com respeito, dedicação e esperança.
O futuro da oncologia é, sem dúvida, a personalização. Mas o futuro da medicina continuará sendo humano. Mesmo diante dos maiores avanços científicos, nada substitui o valor de quem cuida com conhecimento, atenção e empatia.