Por Dra. Isabella Wanderley de Queiroga Evangelista
MÉDICA CRM-PB 4535
Oftalmologia RQE: 2062
O glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo, sendo estimado que mais de 76 milhões de pessoas sejam afetadas globalmente pela doença, número que pode ultrapassar 111 milhões até 2040, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde de 2019. Caracteriza-se por uma neuropatia óptica progressiva, geralmente associada ao aumento da pressão intraocular (PIO), que leva à perda de fibras do nervo óptico e, consequentemente, a defeitos no campo visual. O termo “inimigo silencioso” não é por acaso: em suas fases iniciais, o glaucoma é, em grande parte, assintomático, o que retarda o diagnóstico e dificulta o tratamento precoce.
A forma mais comum é o glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), representando aproximadamente 90% dos casos. Seu curso é insidioso, com destruição progressiva do campo visual periférico, o que frequentemente leva o paciente a procurar ajuda somente em fases avançadas da doença. De acordo com a American Academy of Ophthalmology (AAO), cerca de 50% dos indivíduos com glaucoma não sabem que têm a condição.
A detecção precoce é essencial para evitar danos irreversíveis. A aferição da PIO, a avaliação da papila óptica e exames complementares como a tomografia de coerência óptica (OCT) e a campimetria são ferramentas indispensáveis no rastreamento e acompanhamento dos pacientes. Apesar de a PIO ser o principal fator de risco modificável, nem todos os pacientes com PIO elevada desenvolvem glaucoma, e muitos com PIO dentro da normalidade podem evoluir com a doença – o chamado glaucoma de pressão normal.
O tratamento visa reduzir a PIO e pode incluir colírios hipotensores, procedimentos a laser e, em casos refratários, cirurgia filtrante. A escolha terapêutica deve considerar a progressão da doença, o perfil do paciente e os possíveis efeitos adversos. Mais recentemente, dispositivos minimamente invasivos para glaucoma (MIGS) têm se mostrado promissores no manejo precoce.
Dado o caráter irreversível da lesão glaucomatosa, é fundamental que médicos de todas as especialidades estejam atentos aos fatores de risco – idade acima de 40 anos, histórico familiar, etnia negra ou asiática, miopia, diabetes e uso prolongado de corticosteroides – e incentivem a avaliação oftalmológica regular. O glaucoma pode ser silencioso, mas a medicina não pode ser omissa diante dele.