Por João Modesto Filho
Presidente do CRM-PB | CRM-PB 973
Endocrinologia e Metabologia RQE 1026

A humanidade está sendo marcada, nesse início de século, pela pandemia da COVID-19, a qual, pela sua heterogeneidade, continua sendo um grande desafio para a Ciência, apesar das enormes conquistas até aqui alcançadas. A maioria das pessoas que contrai esse vírus apresenta recuperação satisfatória dentro de 2 a 3 semanas e, excetuando-se os dolorosos casos fatais, alguns sintomas podem persistir por mais de quatro semanas. A comunidade científica tem chamado a persistência de pelo menos um sintoma além de quatro semanas após a fase aguda da doença de Covid Longa, isso na ausência de diagnóstico alternativo que possa explicar os sintomas. A apresentação clínica desta entidade é polimórfica com mais de 150 sintomas persistentes descritos na literatura. Além da anosmia, a maioria desses sintomas é inespecífica, como dispneia, problemas de concentração, dor de cabeça e dores musculares, que são os mais relatados.

Especificamente, os sintomas respiratórios são relativamente comuns com tosse seca e dor ou aperto no peito. Em nível reumatológico temos artralgias, mialgias e dores neuropáticas. Quanto aos distúrbios psicológicos, que são detectáveis em mais de um terço dos casos, encontramos alterações do sono, síndromes de ansiedade ou depressão e estados de estresse do tipo pós-traumático. A Covid Longa poderia ser explicada por sequelas de órgãos após a infecção inicial. Lesões pulmonares intersticiais e fibrose miocárdica foram encontradas particularmente no caso da forma inflamatória. As sequelas também podem ser tromboembólicas ou específicas de um órgão, como insuficiência renal. A persistência do vírus em determinados reservatórios do organismo, como sistema nervoso central e trato digestivo, pode ser responsável por uma resposta inflamatória local. Nesse sentido, já foram descritas presenças de Sar-Cov-2 e RNA no epitélio neuro-olfatório de alguns pacientes com anosmia pós Covid prolongada.

Assim, os principais objetivos no manejo diagnóstico são eliminar o envolvimento ativo de órgãos e, particularmente, buscar a presença de um diagnóstico diferencial que possa justificar a abordagem específica. Essa abordagem deve ser multiprofissional com a coordenação do médico assistente. A empatia e o tratamento sintomático das queixas deve ter papel relevante. A reabilitação é recomendada através de exercícios progressivos e adaptados para cada caso. O grande problema da dor, que pode tornar-se crônica, será o cuidado especial com o uso de opioides, que devem ser evitados. Por fim, o apoio psicológico ou mesmo psiquiátrico é essencial no caso de sintomas que levem a uma deterioração significativa da qualidade de vida. Resta aguardar os contínuos avanços científicos para melhores abordagens diagnósticas e terapêutica.

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