Por Dr. João Modesto Filho
MÉDICO CRM-PB: 973
Endocrinologista RQE 1026
A tirzepatida é um novo medicamento injetável que foi introduzido recentemente para o tratamento do diabetes tipo 2. Faz parte de uma classe terapêutica que atua nos chamados receptores dos hormônios GLP-1 (glucose-like peptídeo 1) e GIP (Glucose-dependent Insulinotropic Polypeptide). A dupla ação exercida permite um melhor controle glicêmico, minimizando o risco de hipoglicemia (queda do açúcar no sangue). O GIP e o GLP-1 são hormônios intestinais que são liberados em resposta à ingestão alimentar. Eles estimulam a secreção de insulina, exercendo uma ação que é referida como «efeito incretinico».
É um efeito que mostra que a secreção de insulina é maior quando se utiliza a glicose por via oral do que por via intravenosa. Dessa forma, esses hormônios são secretados pelas células intestinais endócrinas após a ingestão alimentar, e potencializam a resposta à insulina induzida pelo consumo de glicose.
A tirzepatida, por seu turno, exerce sua ação nos receptores do GIP e do GLP-1, sendo capaz de se ligar seletivamente a eles e ativá-los e, por isso, é chamada de agonista dupla polaridade dos receptores GIP e GLP-1. Esses receptores estão presentes em muitos tecidos do corpo, como pâncreas, estômago, tecido adiposo, etc. e em particular no cérebro. Dentre as inúmeras ações, o GLP-1 aumenta a saciedade e reduz o esvaziamento gástrico, e o GIP exerce atividade no tecido adiposo, diminui a gordura hepática e atua no sistema nervoso central. Nesse sentido, poderíamos ter um enorme benefício direcionando essas duas vias dependentes da ingestão de alimentos, que imitam os efeitos desses hormônios digestivas, no sentido de ganhar eficácia no controle da glicemia e na perda de peso, algo entendido por muitos como uma verdadeira revolução no tratamento conjunto da obesidade e do diabetes.
Mais recentemente, o FDA, nos Estados Unidos e a Comissão Europeia para uso de medicamentos deram um passo importante liberando em novembro e dezembro de 2023, respectivamente, a tirzepatida para o controle de peso em adultos com obesidade, ou com excesso de peso, e com pelo menos um fator de comorbidade relacionado ao peso. Esta homologação tornou indicado seu uso para complementar o tratamento com uma dieta de baixa caloria e aumento da atividade física, especialmente para perda e manutenção de peso em adultos com índice de massa corporal (IMCI) inicial ≥ 30 kg/m2 (obesidade) ou ≥ 27 kg/m2 e < 30 kg/m2 (sobrepeso) na presença de pelo menos um fator de comorbidade relacionado ao peso (hipertensão arterial, dislipidemia, síndrome da apneia obstrutiva do sono, doença cardiovascular, pré-diabetes ou diabetes tipo2). Sua administração é feita em injeções subcutâneas semanais e a dose deve ser ajustada ao longo de 4 a 20 semanas, até atingir um objetivo de 5 mg, 10 mg ou 15 mg/semana.
A eficácia da tirzepatida para a redução de peso foi avaliada em vários estudos que incluíram adultos com obesidade ou sobrepeso, com e sem diabetes. Nestes trabalhos, foi demonstrada uma redução de peso que variou entre 12 e 20% em comparação com o placebo. O perfil geral de segurança da tirzepatida foi semelhante ao da classe de agonistas do receptor GLP-1, sendo os efeitos colaterais gastrointestinais os eventos adversos mais frequentemente relatados. As taxas de desistência do tratamento devido a efeitos adversos são baixas, inferiores a 7%. Evento ocorrido na última semana em SP (Lilly Conection), que reuniu centenas de endocrinologistas, discutiu as aplicações clínicas da tirzepatida, pois espera-se que, muito em breve, deverá estar a disposição dos pacientes, o que será de enorme valia no tratamento do Diabetes e da Obesidade.No Brasil, o medicamento já foi aprovado para o tratamento do Diabetes.