A casa do médico paraibano
Exemplar discreto da Arquitetura Moderna, o imóvel, com 1.900 m2 de área, abrigava as instalações desativadas do tradicional clube recreativo da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), estando inserido em um terreno de 4.937 m2. O arquiteto Gilberto Guedes promoveu uma metamorfose em um prédio desativado, no Centro de João Pessoa, para projetar a nova sede do Conselho Regional de Medicina da Paraíba. Foram aproveitados a estrutura e os amplos espaços e descartado o que não se adequava aos novos usuários da edificação, e não era representativo no conjunto.
“Em uma intervenção, é preciso que o Arquiteto conheça bem os aspectos físicos, arquitetônicos e históricos do imóvel, sua representatividade para sociedade, e o valor como patrimônio edificado que pode ser aproveitado. Isto não significa limitações para a criatividade, mas uma forma mais rica de trabalhar, conjugando o existente, suas transformações e o novo”, afirma Gilberto Guedes.
O imóvel apresentava dois blocos principais separados por circulação, correspondentes ao salão do bar e jogos e o salão do dancing. Este último medindo 17m x 23m, com dupla altura, inspirou a ideia de reabilitar e ampliar a estrutura do conjunto para abrigar o novo uso, evitando uma solução radical de demolição. “Queríamos manter os espaços que fossem necessários, mas sem prejuízo pelo fato de estar aproveitando”, explica o arquiteto.
O pátio da fachada sul tem entrada de veículos eventual e controlada, funcionando como “sala aberta”, uma praça, onde se estendem no verão eventos do centro cultural, auditório e saguão principal.
A planta em forma de “L” é reforçada para preservar o pátio frontal formado pelos dois blocos originais. No primeiro, o centro cultural e o auditório ocupam e ampliam a área do salão de jogos, onde uma marquise metálica leve percorre toda a sua extensão, desde o acesso principal (sul) de pedestres na avenida Dom Pedro II, até encontrar-se com o segundo bloco, havendo uma transição de escala para um pórtico que filtra a luz e se eleva na fachada, marcando o acesso às dependências próprias do conselho.
Houve uma transformação completa nas fachadas e volumetria da edificação, em função das necessidades de ampliação para atender o novo uso, mas mantiveram-se as escalas dos principais ambientes internos, como o salão de jogos e o salão do dancing. Eram espaços flexíveis com amplas dimensões. Foram integrados a esse conjunto, obras de arte de escultura, pintura e mural de cerâmica.
Onde antes funcionava o tradicional dancing, passa a funcionar como um generoso saguão denominado Espaço Arte Hipócrates, em torno do qual se articulam as demais atividades em dois pavimentos na forma de mezanino com amplas esquadrias de vidro, que permitem uma controlada visibilidade.
Todos os ambientes são acessíveis de maneira clara, por um sistema de rampas, circulações e escadas, destacando no saguão de acesso, a rampa que leva ao mezanino, calculada para ter seu patamar intermediário na cota do foyer do auditório, permitindo o escalonamento decrescente dos assentos até o nível da circulação externa do acesso sul.
O acesso de veículos pela avenida Camilo de Holanda (Fachada Norte) for viabilizado por terreno anexado à área original, que permitiu a execução de um amplo estacionamento arborizado com espécies típicas das áreas públicas centrais, como o ipê roxo e acássia, que marcam a imagem da cidade, na floração. Esta área, originalmente, era ocupada pela piscina quadras esportivas e possuía uma construção linear de apoio logístico.
Na materialização, as alvenarias e estruturas metálicas têm cor branca, havendo a interferência de diferentes matizes aportadas por materiais naturais utilizados na construção, como a pedra Itacolomy do norte, o mármore Travertino fosco, as Pedras Portuguesas nas cores branca e preta e a madeira Ipê, presente nas esquadrias internas e brizes do pórtico.
Matéria de capa publicada no periódico Artestudio. Ano V. Nº19. Novembro de 2007
Texto: Luciana Oliveira (adaptado)