Dra. Marina Barbosa de Oliveira
MÉDICA CRM-PB: 12072
Psiquiatria RQE7: 679
Há 10 anos a campanha Setembro Amarelo compõe o calendário nacional de ações voltadas à prevenção do suicídio. Em parceira com o Conselho Federal de Medicina (CFM) a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) tem dado visibilidade ao grave problema de saúde pública responsável por mais de 700 mil óbitos em todo o mundo no ano de 2019 segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Tendo em vista que a maioria dos casos de suicídio são relacionados à transtornos mentais tornar a população consciente da importância dos temas relativos à saúde mental e reduzir o estigma tem sido norteadora da campanha.
Em oposição ao observado no cenário mundial que obteve uma redução de 36% no número de suicídios entre 2000 e 2019, no Brasil houve aumento de 43% no número de casos. Outro dado alarmante diz respeito à taxa de suicídio entre jovens que cresceu cerca de 6% ao ano no Brasil entre os anos de 2011 e 2022; o suicídio foi identificado como a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos globalmente em 2019. Ademais, se faz necessário destacar que o índice de suicídio entre médicos é cinco vezes maior que na população em geral. Além dos motivos já conhecidos como o acesso a meios mais eficazes de letalidade, isolamento social (desde a faculdade), situação conjugal insatisfatória e precária situação de emprego.
O slogan da campanha 2024 diz: “se precisar, peça ajuda”. Informar e reduzir o estigma faz com que a população se torne consciente e busque ajuda. Neste contexto, por que o Brasil ainda não conseguiu se juntar à tendência mundial no declínio de casos de suicídio? O desafio da Saúde Mental na era digital não reside apenas no surgimento de novos transtornos relacionados ao uso das tecnologias, passa também pela falta de qualidade do conteúdo consumido neste ambiente. Seguindo esta lógica durante o mês de setembro as redes sociais são bombardeadas por informações e notícias sobre suicídio sem nenhuma regulação. Quem propaga informações acerca do suicídio é capaz de direcionar os indivíduos que se sensibilizem com elas? Os serviços de saúde estão preparados para atender ao aumento da demanda gerada pela campanha? Os serviços de emergência e atenção básica estão preparados para receber o indivíduo em uma crise suicida? Todos terão acesso à avaliação psiquiátrica?
O suicídio é um fenômeno complexo, multifatorial com fatores de riscos modificáveis e não modificáveis. Dentre os fatores passíveis de serem modificados está a presença de transtorno psiquiátrico e pesquisas apontam que 96,8% das pessoas que morreram por suicídio possuíam histórico de doença mental diagnosticada ou não, frequentemente não tratada ou tratada inadequadamente. Portanto, a maioria dos casos poderia ter sido evitada se esses pacientes tivessem acesso ao tratamento psiquiátrico e informações de qualidade, tornando Amarelo o ano todo.