Por Dr. Ana Isabel Vieira Fernandes
CRM-PB 4033
INFECTOLOGIA – RQE Nº: 6165
Presidente da Sociedade de Infectologia da Paraíba

Entre os dias 18 e 24 de novembro celebra-se a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (Resistência microbiana aos antimicrobianos), estabelecida pela Organização Mundial de Saúde, juntamente com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Estas entidades discutem o conceito de “Saúde Única”, demostrando o impacto que o uso inadequado e excessivo dos antimicrobianos podem causar aos seres humanos, animais, plantas e meio ambiente.

A Resistência microbiana consiste na adaptação do microrganismo ao meio ambiente, podendo ser intrínseca, natural ou adquirida através de mutações capazes de tornar a bactéria produtora de enzimas que clivam as moléculas de antimicrobianos, alteram o sítio de ligação do antibiótico na bactéria, entre outros mecanismos.

Sabe-se que o uso de antibióticos na agropecuária interfere na microbiota humana, selecionando germes resistentes, assim como o mau uso e descarte inadequado de antimicrobianos, contamina o solo e afeta animais que também serão consumidos pelo homem.
O mau uso de antimicrobianos como sua utilização em quadros virais, auto prescrições, uso empírico sem a obediência a protocolos, tempo e doses erradas, impactam diretamente na produção de resistência.

Desse modo, discutir e conscientizar a população médica e a população geral sobre a resistência aos antimicrobianos, torna-se fundamental para minimizarmos esse grave problema de saúde pública que está entre as 10 prioridades de saúde da OMS.
Há uma previsão de que até 2050 ocorrerão 10 milhões de mortes por ano, causadas por germes multirresistentes que não são mais sensíveis aos antimicrobianos. A partir desta previsão, um relatório foi elaborado com 10 medidas que podem minimizar esse impacto:

1- Campanha global de conscientização do problema da resistência bacteriana
2- Melhorar condições de higiene e prevenir a propagação de infecções
3- Reduzir o uso de antibióticos na agricultura e pecuária e sua disseminação no meio ambiente
4- Melhorar a vigilância global do uso de antibióticos em humanos e na veterinária
5- Testes rápidos para diagnóstico dando suporte às decisões médicas para reduzir prescrições desnecessárias de antibióticos
6- Desenvolvimento e estímulo ao uso de vacinas como estratégia de reduzir infecções e consequente uso de antibiótico
7- Aumentar o número de especialistas em doenças infecciosas, seu reconhecimento e remuneração
8- Estabelecer um fundo global destinado a pesquisa não comercial
9- Incentivar investimento na produção de novos antibióticos e aprimorar os existentes
10- Construir uma coligação global através do G20 e da ONU.

O Infectologista exerce um papel de grande importância neste cenário de RAM, principalmente atuando no gerenciamento hospitalar do uso de antimicrobianos, o que pode reduzir custos, efeitos adversos e maior segurança para o paciente. Para isso, é necessário que gestores sejam sensibilizados para a importância de um programa de Stewarship, ou melhor estabelecido pela ANVISA, como “Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos”.

Além do Infectologista, a participação do farmacêutico clínico e enfermagem com experiência no preparo e administração dos antibióticos, além de microbiologista capacitado e com boas ferramentas de diagnóstico microbiológico, completam um time de excelência, que irá diferenciar os diversos serviços de saúde.

Inspirando-nos no tema da campanha mundial de combate a RAM de 2023: “Prevenindo juntos a resistência antimicrobiana”, trouxemos este texto para reflexão e entendimento de que a resistência é de responsabilidade de todos e como podemos ser agentes transformadores dessa preocupante realidade.

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