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Por Dr. João Modesto Filho

MÉDICO CRM-PB: 973

Endocrinologista RQE: 1026

 

Há poucos dias, foi encerrado o Congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA 2024), em Orlando, e um tema muito discutido foi sobre as mudanças ponderais no diabético Tipo 1. Esse tipo de diabetes se caracteriza pelo início abruto, com sintomas clássicos como tomar muita água, urinar muito e apresentar importante perda de peso. Mas, foi mostrado que a incidência de obesidade, característica do diabetes Tipo 2, está aumentando rapidamente. Nesse sentido, recente estudo chinês mostrou que 20% dos diabéticos Tipo 1 estavam acima do peso ou obesos, 34% com hipertensão arterial e 16% com dislipidemia (gorduras no sangue). Observaram, ainda, que o melhor preditor da síndrome metabólica foi a gordura visceral.

 

Por seu turno, um estudo americano mostrou que a prevalência de obesidade no Tipo 1 atingiu 23% entre 2004 e 2007 contra 3,4% entre 1986 e 1988. Um outro estudo recente também no Tipo 1, mostrou variantes de um gene (TCF7L2) que é associado ao risco de diabetes Tipo 2, e que no tipo 1 correlacionou-se com uma apresentação clínica menos agressiva e uma melhor preservação da secreção endógena de insulina. Ou seja, estes dados sugerem que existem vias patogênicas semelhantes entre Tipo 1 e Tipo 2. Dessa forma, existem dados que mostram que diabetes Tipo 1 e Tipo 2 compartilham caminhos comuns, o que é apoiado pelo fato de que existem genes comuns envolvidos no desenvolvimento da obesidade e diabetes Tipo 1. Temos, ainda, alterações de um outro gene (FTO), que está envolvido na regulação do apetite e do comportamento nutricional, e está associado à obesidade e ao mau controle metabólico em crianças com Tipo 1.

 

Por todos esses fatos, surgiu a discussão do uso de tratamentos medicamentosos para combater a obesidade no Tipo 1, como os análogos de GLP1, drogas que estão revolucionando a terapêutica do Diabetes Tipo 2 e da obesidade. Os análogos do GLP1 foram testados em DT1, reduziram o peso, a hemoglobina Glicada e as doses de insulina. No entanto, o risco de cetoacidose relacionada a distúrbios intestinais mostrou-se aumentado. No caso da Tirzepatida, tem-se apenas um relatório publicado com bons resultados no peso e no equilíbrio do diabetes. Por seu turno, os inibidores de SGLT2, outro grupo recente de drogas muito importantes no tratamento do Tipo 2, têm menos efeito sobre o peso, mas por apresentarem proteção cardio-renal tornam-se atrativos para o Tipo1. Pesquisas mostram um efeito benéfico do iSGLT2 no Tipo 1 quanto a variabilidade glicêmica, as doses de insulina, o peso, mas com um risco aumentado de cetoacidose. Estudos com as gliptinas estão em andamento como moduladoras.

 

Por fim, pode-se dizer que a obesidade afeta os diabéticos Tipo 1 e está em crescimento. Além dos mecanismos já descritos, outros parâmetros aumentam o risco de obesidade: aumento da insulina periférica, uso inadequado dos análogos de insulina rápida, uso de açúcar relacionado à hipoglicemia, diminuição da atividade física relacionada às complicações do diabetes. Catalogar o Tipo 1 como autoimune e Tipo 2 como metabólico torna-se cada vez menos verdadeiro, e as terapias. do Tipo 2 com benefício no peso e na proteção cardiorrenal começam a ser avaliadas para complementação do tratamento do Diabetes Tipo 1.

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