Por Dr Fernando Martins Selva Chagas
CRM: 8983-PB
Infectologia – RQE Nº: 5787
Neste Dezembro Vermelho, momento emblemático de conscientização sobre o HIV/AIDS, é crucial desmistificar a percepção generalizada sobre os avanços no tratamento. Apesar dos notáveis progressos, a persistência de mortes relacionadas ao HIV destaca a necessidade urgente de melhorias das estratégias de prevenção e abordagens inovadoras, assim como a necessidade de fazer com que as informações relacionadas ao vírus cheguem as populações mais expostas, no sentido de diminuir as incidências e também melhorar a adesão aos tratamentos disponíveis no país.
Os tratamentos antirretrovirais revolucionaram o cenário da AIDS, possibilitando vidas mais longas e saudáveis aos pacientes. No entanto, a realidade persistente de óbitos relacionados ao HIV e também de novos casos, que tem aumentado entre adultos jovens, revela lacunas significativas no acesso aos cuidados de saúde, assim como desafios inerentes à adesão contínua aos medicamentos ao longo da vida. Houve melhorias até mesmo dos esquemas medicamentosos, hoje com menores taxas de efeitos adversos, e com posologia de até uma ou duas drágeas diárias – o que diminui o risco da falta de adesão. E continuamos, só de uma forma mais licenciosa, assistindo aos jovens que, se hoje não morrem tanto com a AIDS, sucumbem com a depressão, suicídio e abuso de substâncias licitas e ilícitas, como que efeitos colaterais secundários ao diagnostico repleto de rótulos e preconceitos.
Em meio a este panorama, é imperativo ampliar esforços para desenvolver programas preventivos mais abrangentes e eficazes. Precisamos ampliar a educação sobre saúde sexual, acesso facilitado a preservativos e testes de HIV e demais ISTs, bem como estratégias de redução de danos, que são pilares essenciais na prevenção e na redução da transmissão do vírus. Não mais assistimos as campanhas de prevenção nos grandes meios de comunicação, como se o problema não mais existisse.
Além disso, o avanço tecnológico desempenha um papel crucial na luta contra o HIV/AIDS. Investimentos em pesquisas e inovações, como vacinas terapêuticas, terapias genéticas e métodos de prevenção não convencionais, oferecem promessas reais para um futuro livre dessa doença. Porém, por serem estratégias muito direcionadas a cada tipo de paciente, já que o vírus apresenta uma capacidade de mutação beirando o absurdo (uma das entidades de maior capacidade de mutação existentes na virologia), essas terapias apresentarão uma enorme barreira, que será o alto custo, e consequentemente, a dificuldade de acesso para a maioria dos pacientes, principalmente em países em desenvolvimento. Curar apenas parte dos pacientes pode “forçar” ainda mais novas e múltiplas mutações e reinfecções, que colocarão em risco as próprias terapêuticas modernas direcionadas. O ideal seria a terapêutica sendo oferecida da forma mais homogênea possível, em todos os portadores do vírus – Quase uma utopia, porém com maiores chances de sucesso na erradicação dessa moléstia.
Neste contexto, é fundamental reconhecer a importância da colaboração entre governos, organizações não governamentais, profissionais de saúde e comunidades para promover estratégias inclusivas e abordagens holísticas na prevenção e tratamento do HIV/AIDS. Entendo que nos parece frases prontas, um tanto quanto utópicas, mas extremamente verdadeiras e necessárias.
O Dezembro Vermelho não é apenas um lembrete de solidariedade, mas um chamado à ação coletiva para enfrentar os desafios persistentes relacionados ao HIV/AIDS. É um convite à reflexão sobre novos caminhos e estratégias inovadoras, visando a um futuro onde a prevenção seja eficaz e a cura uma realidade tangível.