Dr. João Modesto Filho
CRM 973/PB
Endocrinologia e metabologia – RQE Nº: 1026
Em fevereiro, no dia 4, é comemorado o Dia Mundial de Combate ao Câncer, e no dia 15, o Dia Internacional do Câncer Infantil. Ambas as datas têm como objetivos aumentar a conscientização da doença, tornar possível o seu tratamento e reduzir as mortes por ela causadas. A Organização Mundial da Saúde divulgou recentemente dados importantes sobre essa afecção, que é caracterizada pela proliferação de células malignas, afeta os cinco continentes e todas as categorias populacionais. A agência da OMS especializada nessa doença é a IARC (Agência Internacional de Investigação sobre o Câncer) que estimou que foram diagnosticados em 2022 quase vinte milhões de novos casos em todo o mundo, sendo os idosos os mais afetados. Pelos dados obtidos de 185 países, a IARC prevê um aumento de 50% no número anual de novos casos entre 2022 e 2040 (cerca de 30 milhões) e de 77% entre 2022 e 2050 (35 milhões). Em média, uma em cada cinco pessoas desenvolverá câncer durante a vida e esse rápido aumento reflete tanto o envelhecimento e o crescimento da população, mas também a exposição a fatores de risco. O câncer infantil é a primeira causa de morte por doença em crianças.
Tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade e fatores ambientais (alimentação incorreta, exposições ambientais, radiação ultravioleta, poluição atmosférica) são fatores importantes no aumento dessa incidência, sendo menos de 10% dos casos determinados geneticamente. A Ásia concentra quase metade dos casos detectados em 2022 (9,8 milhões), algo compreensível se considerarmos que mais da metade da população mundial vive nessa região. Por outro lado, a Europa, no seu sentido mais amplo, ou seja, incluindo a Rússia, concentrou quase um quarto dos diagnósticos (4.5 milhões). Esse fato talvez tenha como uma das explicações o grande aumento da incidência de alguns tipos de câncer, como o de próstata e de mama em muitos países europeus. No outro extremo, menos de 6% dos casos foram detectados na África, que concentra quase 20% da população mundial, sendo uma região onde a população é mais jovem e as taxas de ocorrência de câncer são mais baixas, exceto o câncer ginecológico.
Uma coisa ficou evidente: o câncer realmente afeta mais os idosos, pois, três quartos dos casos ocorreram em pessoas com mais de 55 anos de idade. Já aqueles com menos de 29 anos foram pouco mais de 3%, embora representem quase 50% da população mundial. De toda forma, o câncer pode surgir em qualquer idade, mas o risco aumenta acentuadamente com o envelhecimento devido as alterações celulares, moleculares e fisiológicas relacionada com a idade, particularmente o acumulo de mutações no DNA favoráveis à doença. O número de mortes foi estimado em 9,74 milhões em 2022, estando previsto um aumento de quase 90% até 2050. O câncer é a segunda causa de morte no mundo, atrás apenas das doenças cardiovasculares, embora em alguns países europeus, como a França, seja a principal causa de mortalidade. O continente asiático tem o maior número de mortes (56%), à frente da Europa (Rússia incluída – 36%), seguido pela América Latina, África e América do Norte (cerca de 7%). Do ponto de vista de gênero, o câncer mata mais homens do que mulheres, pois, em média, de cada 100 mortes 56 são de homens e 44 de mulheres.
É possível que o câncer de pulmão, o que mais vitima (1,8 milhões de mortes em 2022), acometa mais os homens, pois, historicamente, eles são mais afeitos ao tabagismo. Por fim, viu-se que os três canceres mais frequentemente detectados no mundo foram os de pulmão (2.5 milhões – 12.4%), o de mama (2.3 milhões – 11.6%) e o colorretal (1.9 milhões – 9.6%). Quanto à mortalidade, o tabagismo predomina com 18.7% dos óbitos, à frente do colorretal (9.3%), do fígado (7.8%) e de mama (6.9%). Avanços importantes no diagnóstico e tratamento estão sendo conseguidos, mas num ritmo proporcionalmente menor do que o aumento da incidência de novos casos. A prevenção primária é um dos grandes desafios das políticas de saúde e da estratégia de combate ao câncer. Mudanças de estilo de vida, controle ambiental (ex. poluição) e alimentação menos industrializada e mais sadia são fatores importantíssimos para controlar o aumento do número de casos de câncer.