Por Dr. Leonardo de Lima Leite
CRM: 8182-PB
Imaginem um Hospital, referência de trauma em uma grande capital, com o seguinte cenário: Sala vermelha dimensionada para 4 leitos, sala amarela para 19 leitos, sala laranja para 10 leitos e uma sala verde com 15 pontos de cuidados. São 48 pontos de cuidado possíveis nesta unidade de emergência. Existem 60 leitos de enfermaria, 12 leitos de UTI e bloco cirúrgico com 4 salas e 5 leitos de sala de recuperação pós anestésica (SRPA).
Para aqueles que vivenciam a realidade hospitalar é impossível não imaginar a superlotação destas salas descritas e os corredores lotados. A demanda superando a capacidade instalada todos os 365 dias do ano e a sensação de enxugar gelo após o termino do plantão. Um ambiente hostil e insalubre onde somos consumidos fisicamente e psicologicamente.
Então fica a dúvida: Aprendemos a conviver com este cenário e aceitamos que não há o que fazer ou buscamos alternativas para resolução do problema?
Uma das soluções para esta problemática veio de um setor que nunca poderíamos pensar, a indústria.
Em 1948, após a segunda guerra mundial e com a economia japonesa devastada, os engenheiros industriais Taiichi Ohno e Eiji Toyoda começaram a desenvolver o que hoje é conhecido como Toyota Production System (Sistema Toyota de Produção), ou TPS. Originalmente nomeado Lean Manufacturing (Produção Enxuta), esta metodologia de gestão se baseia na redução de desperdícios e na máxima agregação de valor das atividades.
São considerados desperdícios todas atividades que não agregam valor algum para o cliente. Excessos de transporte, estoque, movimentação, espera, superprodução e processamento. Além de retrabalho e desperdício de intelecto.
Foi observando o cenário da saúde e analisando os desafios para sua gestão que entre a década de 90 e os anos 2000 surgiu o Lean Healthcare.
O método Lean Healthcare é um conjunto de conceitos e ferramentas do Lean aplicados na área da saúde, com o objetivo de melhorar o atendimento dos pacientes e ainda promover o engajamento integral de funcionários e médicos na melhoria contínua, tudo isso procurando eliminar desperdícios que não agregam valor aos usuários.
O foco não é eliminar custos e nem atividades intrínsecas ao atendimento, mas sim organizar os fluxos e os processos para que aconteçam de forma “puxada” (a próxima fase buscando a anterior).
O LEAN NA SAÚDE deve olhar de forma cronológica para o paciente, desde o momento que ele é encaminhado para um médico para realizar uma consulta, o momento exato do atendimento realizado, até a sua saída com resolução das necessidades. Deve-se conhecer toda a passagem do usuário pela unidade de saúde e mapear todos os possíveis entraves (gargalos) do atendimento.
Conhecendo os gargalos, devemos gerar planos de ação, e definir contramedidas, para combater os desperdícios e tornar fluida (enxuta) a passagem do usuário pelo serviço. Impedindo, ou diminuindo, as barreiras e filas geradas.
A metodologia é realidade no Brasil e já foi implementada em mais de 150 unidades através do Projeto Lean nas Emergências (um projeto colaborativo do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS).