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Por Dr. Fernando Chagas

MÉDICO CRM-PB: 8983

Infectologia RQE: 5787

 

A Mpox, anteriormente conhecida como Monkeypox, é uma zoonose viral causada pelo vírus mpox, um ortopoxvírus pertencente à mesma família do vírus da varíola. Embora historicamente restrita a regiões da África Central e Ocidental, a Mpox tem atraído crescente atenção mundial devido a surtos fora dessas áreas endêmicas e recentemente por ter sofrido mutação, em uma variante com maiores taxas de transmissibilidade e mortalidade.

 

O vírus mpox foi identificado pela primeira vez em 1958, em um surto entre símios mantidos para pesquisa, o que levou à denominação inicial de “Monkeypox”. No entanto, a transmissão humana foi reconhecida pela primeira vez em 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, casos esporádicos têm sido relatados em humanos, geralmente associados ao contato com animais silvestres, especialmente roedores, que são considerados os reservatórios naturais do vírus.

 

A designação “Monkeypox” tornou-se inadequada ao longo do tempo, não apenas por seu potencial para estigmatizar populações específicas, mas também porque macacos não são o principal reservatório natural do vírus. Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) adotou oficialmente o nome “Mpox” para reduzir o estigma associado e refletir melhor a complexidade epidemiológica da doença.

 

O vírus mpox é dividido em dois clados principais – Clados são entidades de um ancestral comum, anteriormente conhecidos como Clado da África Central (ou Bacia do Congo) e Clado da África Ocidental, que diferem em termos de virulência e mortalidade. O Clado da Bacia do Congo é mais virulento, o qual chamamos de CLADO 1, associado a uma taxa de mortalidade que pode atingir 10%, enquanto o Clado da África Ocidental, o CLADO 2, apresenta uma taxa de mortalidade significativamente menor, geralmente abaixo de 1%. A partir de 2022 o clado 2, que é mais transmissível e com menor potencial de mortalidade, alastrou-se pelo mundo, inclusive com muitos casos registrados na Paraíba.

 

A importância da distinção entre esses clados reside no impacto direto sobre as estratégias de saúde pública e controle de surtos, considerando as diferenças no curso clínico e prognóstico dos casos. A grande problemática atual é que o CLADO 1 sofreu mutação, gerando uma variante que aparentemente manteve seu potencial alto de mortalidade, mas evoluindo com maior transmissibilidade que o vírus da CLADO 2 que chegou ao Brasil em 2022. Esta nova variante, chamada agora de CLADO 1b, tem potencial para tornar-se pandêmica. Porém devemos refletir quanto a sua letalidade, pois quando nos debruçamos mais criteriosamente por sob a mortalidade na Bacia do Congo, nos deparamos com uma população vulnerável, repleta de deficiências nutricionais e limitações de acesso à saúde. Não há evidências que sustentem que o vírus manterá alta mortalidade em outras populações, especialmente nas com acesso a serviços de saúde e com bases alimentares mínimas.

 

Transmissão e Riscos

A Mpox é transmitida principalmente através do contato direto com lesões cutâneas, fluidos corporais ou material de crostas de indivíduos ou animais infectados. A transmissão também pode ocorrer através de gotículas respiratórias em contato próximo prolongado, e, em casos mais raros, através de fômites contaminados. Com a Mpox Clado 2 a transmissão inter-humana passou a ser “mais forte”, e embora a doença não seja considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST) clássica, o contato sexual próximo tem sido uma via significativa de transmissão nestes surtos recentes – especialmente aqui no Brasil e nos Estados Unidos. Observamos maior transmissibilidade inter-humana no Clado 1b, inclusive na transmissão por objetos contaminados e por contato direto.

 

Não sabemos ainda se os antivirais existentes contra os ortopoxvírus serão efetivos contra a variante do clado 1. Estudos têm mostrado que a vacina JYNNEOS, uma vacina de terceira geração, é segura e eficaz, sendo aprovada para prevenção de Mpox. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde tem debatido quanto à necessidade de ampliar a produção, pois apenas um laboratório tem produzido vacinas de terceira geração, o que limita, e muito, a distribuição em escala global.

 

A Mpox continua a apresentar-se como desafio para a saúde pública, com potencial para causar surtos de magnitude variável, especialmente em contextos de mobilidade populacional e mudanças ecológicas. A compreensão aprofundada dos clados, desenvolvimento de antivirais mais efetivos e a maior produção e distribuição das vacinas são fundamentais para o controle eficaz da doença. Existe risco de pandemia por Mpox clado 1b, mas não com o mesmo impacto da Covid-19. Estamos mais preparados para um cenário pandêmico, embora a desigualdade social represente obstáculo no combate à disseminação e mortalidade.

 

A Mpox ainda será discutida em breve, em um contexto de combate a sua disseminação – Não tenho dúvidas. Mas também existe a esperança de que, assim como ocorreu com a varíola humana, poderemos erradicar essa enfermidade do cotidiano das populações, tornando-a mera lembrança dos anais da medicina moderna.

 

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