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Conselho Regional de Medicina

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Por Dr. Rodolfo Bacelar de Athayde

CRM: 7773-PB

PNEUMOLOGIA – RQE Nº: 5601

 

Os cigarros eletrônicos, também conhecidos como e-cigarettes, e-cigs, “electronic nicotine delivery systems” (ENDS) ou vapes, surgiram no mercado no início dos anos 2000 como uma alternativa aparentemente mais segura ao tabagismo convencional. Eles foram inicialmente promovidos como uma maneira de ajudar os fumantes a parar ou reduzir o consumo de cigarros, mas em pouco tempo viu-se o seu real apelo: uma penetração maior do consumo da nicotina em uma população mais jovem, cada vez mais ávida por novidades tecnológicas.

 

Basicamente, o dispositivo funciona aquecendo um líquido contendo nicotina (ou outras substâncias, já que existem os que contem derivados canabinóides, por exemplo), aromatizantes (as essências) e outros produtos químicos, transformando-o em vapor para ser inalado pelo usuário. Existem diversos tipos, desde os básicos descartáveis, até os modelos mais avançados e personalizáveis, como os mods e os pods. Estes, recarregáveis e com possibilidade da troca de essências, com sabores e cores diversas, tem forte apelo entre os jovens, sendo principal porta de entrada à nicotina.

 

Apesar de inicialmente promovidos como uma alternativa mais segura ao tabagismo, os cigarros eletrônicos não são isentos de riscos. Estudos mostram que o vapor dos cigarros eletrônicos contém as mesmas substâncias nocivas que o tabagismo tradicional, como metais pesados e compostos orgânicos voláteis, que podem causar danos à saúde pulmonar (como o desenvolvimento de DPOC) e cardiovascular (com Infarto Agudo do Miocárdio e Arritmias), além do risco aumentado de desenvolvimento de câncer – de pulmão e de diversos outros órgãos. Também, a própria nicotina presente nos cigarros eletrônicos é altamente viciante, causando dependência, e sendo promotora do adoecimento cardiovascular. Assim, quem usa o e-cig não para de fumar, mas apenas transiciona para outra forma de consumo de nicotina, uma nova roupagem do cigarro. E que pela forma de consumo (que consegue promover maior e mais rápida absorção da nicotina) e atual aceitação social, faz com que muitos usuários consumam maior carga em comparação ao cigarro tradicional.

 

Nos últimos anos, vemos debates sobre a regulamentação desses produtos. Os países que liberaram seu consumo com o intuito de reduzir o tabagismo entre os adultos, como o Reino Unido, experimentam efeito contrário – documenta-se importante aumento de jovens tabagistas que iniciam nos vapes, fazendo com que estes países voltem às medidas de restrição. Em recente reunião colegiada da ANVISA, manteve-se sua proibição dos cigarros eletrônicos no Brasil, o que é excelente notícia. A indústria do tabaco, que entre outras coisas, já divulgou o cigarro tradicional como “benéfico para a saúde”, escondeu estudos que mostravam seus males e promoveu pseudociência acerca do tema, usa das exatas mesmas armas com os cigarros eletrônicos, desta vez com o intuito de atrair jovens e renovar o público adicto em nicotina.

 

Em suma, os cigarros eletrônicos representam uma evolução no mercado da nicotina, oferecendo um produto semelhante, em nova roupagem. Os riscos à saúde associados ao seu uso, especialmente entre os jovens, exigem atuação por parte dos reguladores e da comunidade médica para garantir saúde pública e prevenir o surgimento de uma nova epidemia de tabagismo – e de doenças relacionadas ao mesmo.

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