CRM-PB Entrevista: Dra Alana Abrantes Nogueira de Pontes
O Dia Mundial da Obesidade é 4 de março, mas a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) realizam durante todo o mês a campanha de conscientização sobre a doença. Neste ano de 2023, o tema é “Um outro jeito de olhar”, que pretende mudar a perspectiva, ampliando a visão sobre a obesidade, de forma mais atenta e empática.
Eleita para presidência da SBEM Regional Paraíba neste biênio 2023/2024, a endocrinologista Alana Abrantes ressalta também que “o preconceito e o estigma perante os obesos precisam ser abolidos e que a empatia com o paciente deve ser colocada em prática por todos, desde os médicos, até familiares e amigos”. Ela reforça que os médicos devem estar sensibilizados e preparados técnica e psicologicamente para lidar com o paciente obeso.
Formada em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Alana Abrantes possui Registro de Qualificação de Especialidade (RQE) em Clínica Médica e Endocrinologia e Metabologia, além de ser administradora hospitalar. Atualmente é professora e médica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e no Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC), em Campina Grande, onde reside. Na entrevista a seguir, ela fala da obesidade como doença crônica, da campanha, de tratamentos e de seus planos na presidência da SBEM-PB.
A obesidade é uma doença crônica e um problema de saúde pública?
A obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo de gordura corporal, que é medido através do IMC (índice de Massa Corporal) e que acarreta ou piora várias outras comorbidades, levando até à morte. A cada década vem aumentando o número de pessoas obesas em todo mundo. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020), mais da metade dos adultos apresenta excesso de peso (60,3%, o que representa 96 milhões de pessoas), com prevalência maior no público feminino (62,6%), enquanto o sobrepeso tem maior prevalência no público masculino. Portanto, diante desses números aviltantes e que tendem a crescer, a obesidade, hoje, é considerada um problema de saúde pública em todo o mundo e todas as faixas etárias.
A obesidade é fator de risco para quais doenças?
A obesidade é fator de risco para outras enfermidades, como: doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, osteopatias, dislipidemias e alguns tipos de câncer. Além das questões sociais e psicológicas.
A obesidade tem causas profundas e complexas, que envolve diversos fatores. A população em geral e, às vezes, até mesmo os médicos não entendem completamente a obesidade? Como informá-los melhor?
A campanha para o Dia Mundial da Obesidade (4 de março) deste ano teve como tema “Um outro jeito de olhar”. O que isto nos reporta: que a doença deva ser vista por outra perspectiva, desde o seu diagnóstico, que deve ser rápido. Também diz que o preconceito e estigma que existe perante os obesos e, até com sobrepeso, sejam abolidos e que a empatia com o paciente, seu modo de vida e as suas introspecções sejam colocadas em prática por todos, desde médicos, até familiares, amigos e equipe multidisciplinar. Os médicos, esses sim, mais que os demais, devem estar sensibilizados, preparados tecnicamente e psicologicamente para lidar com o paciente obeso, que muitas vezes não só depende dele para ter a doença, mas de vários outros fatores. Para que este jeito de olhar mude, são necessárias mais campanhas para sensibilização das pessoas e ampliar a preparação dos profissionais envolvidos, formando equipes multiprofissionais. Além, de um trabalho junto ao paciente, familiares e a própria sociedade, valorizando o entendimento de que o obeso, não é obeso porque ele quer. Vamos começar a olhar diferente e melhor, só assim poderemos ajudar.
Quando a cirurgia bariátrica se torna um recurso terapêutico para a obesidade? A sra observa que muitos pacientes têm banalizado este tipo de cirurgia, solicitando que seja realizada, antes mesmo de uma avaliação médica?
Normalmente, após uma completa avaliação pelo médico, diagnosticada a obesidade, tende-se a tratar o paciente clinicamente, com mudança do estilo de vida (dieta + atividade física), medicamentos e orientação psicológica. Se após um ano, não se observa perda de peso (no mínimo 10% do peso total) e as comorbidades começam a aparecer, nova avaliação criteriosa é realizada pelo profissional médico, com uma abordagem mais ampla, clínica, psicológica e até social. Diante disto, é traçado um perfil do paciente e definida sua nova terapêutica, que poderá ser revisão da dieta, terapias medicamentosas combinadas, aumento da atividade física e acompanhamento psicológico, além das mudanças de alguns hábitos domiciliares. A cirurgia bariátrica é um recurso terapêutico importante para o paciente que preenche seus requisitos. Na prática diária observa-se um aumento do número de pacientes que solicitam a cirurgia bariátrica, mesmo antes de avaliação pelo médico especialista e tentativa de outras formas de tratamentos.
A sra assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional Paraíba (SBEM-PB) para o biênio 2023/2024. Quais as metas da sua gestão?
Assumi a presidência da Regional da SBEM-PB para o biênio 2023 – 2024, juntamente com um grupo de colegas. As nossas metas são:
– Valorização e visibilidade da nossa especialidade;
– Incentivar à titulação de novos especialistas;
– Realizar o Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CBAEM 2023) – segundo maior congresso da nossa sociedade, que será realizado de 6 a 9 de setembro em João Pessoa;
– Levar para a população informações sobre os reais efeitos do uso dos hormônios, quando utilizados de forma incorreta e para fins estéticos, através das mídias sociais;
– Realizar campanhas de orientação e prevenção de algumas doenças endócrinas como diabetes, obesidade e osteoporose, também, através das mídias sociais e presencial;
– Auxiliar às secretarias de saúde dos municípios e estado, na produção de protocolos menos complexos, mais modernos e mais viáveis para que os pacientes tenham acessos às medicações especiais, de forma contínua e menos burocrática.