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CRM-PB Entrevista: Dr Fernando Martins Chagas

 

De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil vem apresentando uma diminuição no número de casos de Aids desde 2021. No entanto, a infecção pelo HIV vem crescendo entre os jovens de 15 a 24 anos e estes já são os principais afetados pela doença. O Carnaval, portanto, é um período importante para alertar adolescentes e jovens adultos sobre a necessidade de prevenção não apenas do HIV, mas de todas as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

 

Para o infectologista e diretor geral do Complexo Hospitalar Dr Clementino Fraga, em João Pessoa, Fernando Chagas, as ISTs são um problema de saúde pública, que precisa ser discutido durante todo o ano. “A geração atual não foi impactada pelas mortes de pessoas públicas pela Aids e ficam com a falsa sensação de que a Aids não mata, nem há outras ISTs com impacto tão grande. Mas a sífilis, por exemplo, pode se tornar uma doença complicada”, afirma.

 

Formado em Medicina pela Universidade de Pernambuco (UPE) e em Farmácia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), fez residência médica em Infectologia pela UFPB e, além de dirigir o Clementino Fraga, é também coordenador da comissão de controle hospitalar do Hospital geral da Paraíba Hapvida e staff de Infectologia da FCM/Afya. Na entrevista a seguir, ele fala sobre as ISTs, a importância dos alertas e discussões, além de falar sobre os serviços do Hospital Clementino Fraga para os pacientes com HIV/Aids.

 

De acordo com o Ministério da Saúde, os casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) têm crescido no Brasil, sobretudo entre os jovens de 15 a 29 anos. Como convencer este público sobre a importância da prevenção?

As ISTs já têm como problemática associada, o rótulo. São infecções que acabam sendo rotuladas pela via de transmissão. Então, é muito difícil discutir estas infecções, principalmente, na população mais exposta, que são os adolescentes e adultos jovens. Outro problema é que a atual geração não foi impactada pelo surgimento da Aids, como as anteriores. Até 1996 não tinha tratamento para a doença e ela representava, de fato, uma sentença de morte. Após 1996, com o surgimento dos coquetéis, os portadores do HIV passaram a ter uma condição de vida melhor, na qual a pessoa toma a medicação e vive normalmente. Como a geração atual não foi impactada pelas mortes de pessoas públicas, conhecidas, como Cazuza, Renato Russo, Fred Mercury e tantos outros, há uma sensação de que o HIV, a Aids não mata e de que não existe mais doenças com um impacto tão grande. No entanto, a sífilis, por exemplo, pode acometer órgãos, pode se tornar uma doença complicada, assim como outras que podem ser porta de entrada tanto para o HIV, como para hepatite B. Então, é muito difícil a discussão sobre essas IST até mesmo em ambientes educacionais. Mas a gente precisa discutir, porque os números do ano passado mostram o impacto, que houve um aumento de fato, sendo os mais jovens os mais acometidos.

 

As ISTs aumentam no período do Carnaval? Os médicos têm alertado os jovens, no início de sua vida sexual, sobre a importância do uso de preservativos e os riscos das ISTs?

A gente tem percebido uma diminuição dos alertas, uma diminuição da discussão a respeito disso, tanto que a gente tem discutido mais nestes períodos, pré-carnaval, por exemplo, como se não fosse um problema que está conosco durante todo o ano. É um problema de saúde pública. Estamos agora em uma epidemia de sífilis que começou lá atrás, em 2015, quando ficamos desabastecidos com penicilina benzatina, e se estende até hoje por falta de discussões a respeito da doença. Claro, a sífilis é mais um problema dentre do universo de IST, e precisamos discutir sobre todas elas e prevenção.

 

Quais são as principais ISTs?

As principais ISTs são as infecções que causam úlceras genitais, como herpes e sífilis. A herpes como uma úlcera dolorosa e a sífilis como uma úlcera silenciosa, que não dói, com diagnóstico mais difícil. Há também as doenças que causam descarga uretral, inflamação na uretra, que seriam, principalmente, a gonorreia e a infecção por clamídia. Há ainda a hepatite B, que não é classificada muitas vezes como uma IST, mas é, e pode cronificar, além da hepatite C, que é mais difícil de transmitir sexualmente, mas pode. E, claro, o HIV, que pode destruir a imunidade, levando a pessoa a sofrer da Aids.

Na Paraíba, o Complexo de Doenças Infecto Contagiosas Clementino Fraga é a referência no tratamento das ISTs ou há outros serviços? Como é o trabalho realizado pelo hospital?
O Clementino Fraga não é referência para o tratamento de IST, ele é referência para o tratamento de HIV e da Aids. Para as ISTs, temos serviços em todo o estado, nas unidades básicas de saúde, que recebem preservativos e kits de testagem. Inclusive, estas testagens não precisam de requisição médica para ser feita. Basta chegar na unidade de saúde e manifestar o desejo de fazer a testagem para sífilis, hepatite e HIV. Em João Pessoa, há também a Clínica Municipal, no PAM de Jaguaribe, que oferece acompanhamento com infectologia geral e tem o tratamento das ISTS. Reforço que o Hospital Clementino Fraga oferece para todo o estado a PrEP (Profilaxia Pré-exposição). Qualquer pessoa que tenha vida sexual ativa, pode se dirigir ao Clementino Fraga e externar o desejo de fazer parte do programa. A gente acompanha esta pessoa liberando para ela medicações que são de uso continuo, que evitam que adquira o HIV, mesmo que tenha relação sexual com alguém que possa transmitir o vírus para ela. Este é um serviço que precisa ser descentralizado, já conseguimos oferecer também em Campina Grande e, ainda no início deste primeiro semestre, será implantado na 3ª microrregião de saúde, no Sertão. Também queremos expandir o PEP (Profilaxia Pós-Exposição do HIV), pelo qual qualquer pessoa que tenha relações sexuais de risco, tenha 72 horas para buscar o serviço, tenha acesso a medicação e, mesmo tendo contato com o HIV, não pegar o vírus.

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