CRM-PB Entrevista: Dra Janaína de Almeida Japiassu Alves
“Os cuidados paliativos precisam assumir uma posição de destaque em nossos serviços médicos, por abordarem o paciente em sua totalidade física, mental, espiritual e emocional”, afirma a anestesiologista Janaína Japiassu. Segundo ela, os profissionais de saúde são treinados para resguardar as pessoas da morte, mas quando uma patologia tem seu curso voltado para a terminalidade, é preciso cuidar do paciente, evitando danos pela obstinação terapêutica.
Médica anestesista com pós-graduação em Dor e Cuidados Paliativos, Janaína Japiassu trabalha atualmente no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), no Hospital Infantil Arlinda Marques e no Hospital da Unimed, em João Pessoa. É também uma das organizadoras do Curso de Cuidados Paliativos que será oferecido pelo Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), através do Programa de Educação Médica Continuada, a partir de janeiro de 2023.
Na entrevista a seguir, ela fala dessa necessidade em inserir os cuidados paliativos no ensino da Medicina, inclusive nas faculdades, afirma que na Paraíba, assim como no restante do país, o desenvolvimento destes cuidados ainda é incipiente, fala das dificuldades, principalmente, por conta da desinformação, além da importância do bom senso no uso do tecnicismo.
Como a sra define os cuidados paliativos do paciente?
Cuidados paliativos não é um tema novo, mas vem ganhando mais espaço nas discussões de saúde nas últimas décadas. Tem como enfoque o cuidar dos pacientes diagnosticados com doenças que ameaçam a continuidade da vida, proporcionando-lhes uma melhor qualidade do viver, através do controle rigoroso dos sintomas, como a sua dor em diversas dimensões (física, emocional, espiritual, mental), fazendo também com que o paciente seja trazido para a condição de protagonista na trajetória de sua doença, tenha autonomia de informação e decisão. As atividades de quem trabalha com cuidados paliativos são complexas e desafiadoras, área multiprofissional que exige integração entre as equipes e um comprometimento com quem é cuidado. Especialidade importante para lidarmos com o processo de luto com mais leveza e preservarmos o direito de viver de uma forma digna.
Como os hospitais paraibanos, atualmente, tratam destes cuidados?
Infelizmente, no Brasil e também na Paraíba, o desenvolvimento dos cuidados paliativos ainda é bastante incipiente. A maior dificuldade que enfrentamos é a desinformação tanto dos outros profissionais não especializados como da população em geral. Geralmente as pessoas apoiam-se em crenças ou preconceitos para defini-lo. Nos hospitais de nosso estado não existe o serviço de cuidados paliativos, apenas comissões que atuam empregando os princípios paliativistas. O objetivo do início de nossas aulas em educação continuada, que será oferecido pelo CRM-PB, é que possamos sensibilizar os gestores da urgente necessidade para esse enfoque de cuidado médico.
Quais especialidades médicas podem atuar nos cuidados paliativos? E quais outros profissionais de saúde devem fazer parte das equipes?
As especialidades médicas que podem atuar em cuidados paliativos são: Anestesiologia, Cancerologia, Oncologia clínica, Cirurgia oncológica, Cirurgia de cabeça e pescoço, Clínica médica, Geriatria, Mastologia, Medicina da família e comunidade, Medicina intensiva, Nefrologia, Neurologia, Pediatria. Os outros profissionais que compõe uma equipe de cuidados paliativos: enfermeiro , técnico em enfermagem, odontólogo , psicólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta , fonoaudiólogo , nutricionista , farmacêutico.
As faculdades de Medicina têm preparado seus alunos para se tornarem profissionais que sabem lidar com patologias que estão fora da possibilidade de cura?
Poucas são as faculdades que abordam esse enfoque médico centrado no paciente com seus alunos. A tendência é que o ensino dos cuidados paliativos seja implementado com a maior urgência possível.
Como encontrar o equilíbrio necessário entre o conhecimento científico e o humanismo na Medicina?
O ideal é que haja o bom senso em relação ao uso do tecnicismo, que é de extrema importância para o tratamento de uma doença quando este consegue obter resultados terapêuticos. O humanismo estará sempre presente em todos os estágios de uma doença. Quando uma patologia ameaçadora da vida progride e tem seu curso voltado para a terminalidade, os recursos humanos preponderam sobre qualquer forma de tecnologia e impulsiona o cuidar do paciente evitando danos através da obstinação terapêutica, a distanásia.