Autor: Francisco Orniudo Fernandes (Médico) – orniudo@uol.com.br
Veiculação: Portal CRM-PB
No início deste mês, atendi um paciente que me foi encaminhado por plantonista de um hospital, para investigação diagnóstica. Tratava-se de um senhor que veio de Porto Velho, havia poucos dias, para curtir suas férias com a família. Encontrava-se muito apreensivo com a sua doença, que tinha como principais sintomas, a febre elevada, acompanhada de calafrios e tremores.
Durante a anamnese informou que reside na capital de Rondônia; nos finais de semana, costuma freqüentar sua chácara, localizada próxima a floresta amazônica. Indagado se já foi acometido de malária, respondeu positivamente afirmando que fora tratado duas vezes, com malária pelo plasmodium vivax e falciparum. Facilitado pela história do doente, solicitei alguns poucos exames, dentre eles, o específico para o diagnóstico de malária, a gota espessa, método oficial preconizado no Brasil.
Orientei-o em seguida, procurar o órgão governamental, a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), antiga Sucam (Superintendência de Campanhas), instituição preparada para a realização das pesquisas e controle da doença no País. A Sucam era num passado próximo, um dos órgãos na área da saúde de melhor desempenho. No dia seguinte a consulta, o paciente retornou extremamente ansioso e revoltado relatando toda sua peregrinação. Na Funasa foi informado que o exame não está sendo realizado naquela repartição. Um funcionário encaminhou-o para o Lacen, (Laboratório Central) do Estado, no Bairro de Cruz das Armas, afirmando ser o local indicado para o seu atendimento. No Lacen, o responsável pelo setor de coleta do órgão, comunicou-lhe que o Laboratório não estava apto para a análise de pesquisa de malária, sugerindo-o buscar o PAM de Jaguaribe. Este último estabelecimento público também não estava adequado para atendê-lo.
Desesperado, seguiu a sua maratona, percorrendo três laboratórios da rede privada, conseguindo em um deles, colher o sangue, ouvindo em seguida, a decepcionante informação que o resultado só seria liberado cinco dias após, porque o material é encaminhado para fazer o exame em outro estado.
A gota espessa é um exame simples para a sua execução e de resultado rápido, consiste na visualização do parasita, no sangue periférico do paciente, através da microscopia ótica, após coloração com corante, azul de metileno e Giemsa.
Diante da gravidade da situação, sugeri ao paciente para ir a Recife, mas ele preferiu viajar para Maceió onde aproveitava para visitar familiares. Em Maceió foi acolhido no Hospital Escola Hélvio Auto da Universidade Federal de Alagoas, onde prontamente foi atendido e confirmado no mesmo dia o diagnóstico, iniciando imediatamente o tratamento.
O mais dramático deste caso é que o paciente exerceu durante vários anos cargo de chefia na Sucam do Estado de Rondônia, sabe da eficiência do imediato diagnóstico em seu estado.
A malária é reconhecida como grave problema de saúde pública no mundo. No Brasil, a região amazônica é considerada a área endêmica do país. Aproximadamente 97% dos casos se concentram em seis estados da região amazônica: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Os outros três estados, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão foram responsáveis por menos de 3% da malária no território brasileiro. A maioria dos casos ocorre em áreas rurais, mas há registro da doença também em zonas urbanas (cerca de 15%), segundo dados coletados no Guia de Bolso, editado pelo Ministério da Saúde, edição 2010.
A malária é uma doença febril aguda com paroxismos que se apresenta com febre elevada, dor de cabeça, calafrios, sudorese, fadiga ou esgotamento e tremor, relacionados com a espécie de parasita (Plasmodium), determinante da infecção. Alguns casos necessitam a internação hospitalar devido a gravidade.
Devido ao aumentado fluxo migratório e turístico é preciso atenção reforçada para o diagnóstico da malária nos demais estados, pois a doença é de notificação compulsória.
Quem é ou quem são os responsáveis por tamanho descaso?. A sociedade exige uma resposta dos órgãos envolvidos com a saúde nas esferas federal, governamental ou municipal. A cidade está repleta de turistas que espera encontrar como se noticia, um Estado rico de belezas naturais, de povo acolhedor, mas, que tenha também a garantia de dispor de serviços de saúde qualificados que respeite o cidadão no que é mais elementar, o bom atendimento, oferecendo também, segurança para desfrutar de conforto e lazer.
A Paraíba tem a obrigação de receber bem os seus visitantes.