29 de agosto de 2011

Estresse, sobrecarga em um membro, predisposição e, na maioria das vezes, um trauma. Essas são algumas das causas que levam um paciente a sofrer fratura de osso, incidente muito comum, sobretudo quando se trata de membros superiores. Para se ter uma ideia, somente este ano, até a primeira quinzena de agosto, foram registrados 3.109 atendimentos a fraturados no Sistema Único de Saúde (SUS), na Paraíba. Isso significa que, mensalmente, mais de 380 pessoas precisam de algum procedimento para realinhar ossos.

Os dados são do Ministério da Saúde (MS) e representam 35,50% do total de casos notificados no ano passado, que foi  de  8.757. As estatísticas incluem as fraturas de crânio, de ossos da face, do pescoço, costelas, esterno e coluna torácica. Foram computadas ainda as fraturas de coluna lombar e da pelve, ombro e braço, antebraço, punho e mão, fêmur e perna, incluindo tornozelo. Embora o MS não tenha detalhado o número de fraturas por membro, o ortopedista e traumatologista Adriano Leite contou que os membros superiores são os mais afetados.

Ele enfatizou, ainda, que “as pessoas geralmente pensam que fratura é algo menos severo que um osso quebrado, mas fraturas são, na realidade, ossos quebrados. Uma fratura óssea é uma situação em que há perda da continuidade óssea, geralmente com separação de um osso em dois (fraturas simples) ou mais fragmentos (fratura cominutiva)”.

Ainda conforme o médico, as fraturas podem acontecer por inúmeras causas, sendo a mais comum o traumatismo. “O trauma resulta da aplicação de uma força sobre o osso que seja maior que a resistência dele”, comentou, explicando que os traumas podem ser indiretos e diretos. No primeiro caso, a descontinuação óssea acontece em um membro distante daquele que sofreu um trauma.

“Uma queda sobre a mão pode causar, por exemplo, uma fratura na clavícula”, disse Adriano. Já as fraturas diretas são as mais comuns e afetam o membro que sofreu o impacto. Acidentes automobilísticos e as quedas da própria altura (quando alguém tropeça e cai, por exemplo) são as causas mais recorrentes dos traumas. Há cerca de quatro anos, a funcionária pública Robervânia Cristina Lopes, 44 anos, sofreu fraturas múltiplas após ter sido atropelada.

Em uma única perna, a esquerda, foram seis fraturas, mais uma na perna direita, além da clavícula e da bacia. “Só lembro que eu iria atravessar a rua e desmaiei. Passei 13 dias no hospital e fiz duas cirurgias na perna e na clavícula”, contou Robervânia, acrescentando que teve que colocar vários pinos para manter o osso realinhado e, no ano passado, passou por mais outro procedimento cirúrgico para a troca de um dos pinos.

Após o traumatismo, Robervânia ficou impedida,  por um período de um ano e meio, de realizar atividades laborativas. “Fiquei sem trabalhar, fazendo fisioterapia, hidroterapia, tomando medicamentos e sendo acompanhada por um médico. Meu tratamento durou em média três anos”, revelou. Apesar do longo processo de ‘cura’, Robervânia conseguiu voltar à rotina normal e atualmente trabalha e estuda.

 Doenças como osteoporose fazem aumentar o perigo de ter fraturas

Patologias como a osteoporose (em que a quantidade de massa óssea diminui deixando os ossos mais sensíveis) e o tumor ósseo são fatores de risco para as fraturas. Conforme o ortopedista e traumatologista Adriano Leite, nesses casos, geralmente não há evidência de traumatismo que justifique a fracção, que acontece porque o osso já está fragilizado. Mulheres, após a menopausa, período em que acontece a diminuição da densidade do osso, além de motoqueiros ou ciclistas também podem ser enquadrados nos grupos de risco.

Nos dois últimos, a predisposição não é genética, mas existe pelas atividades que esses grupos realizam. “É muito frequente fraturas envolvendo motociclistas acidentados”, apontou o médico, acrescentando que também há incidência de fraturas por estresse e sobrecarga de um membro. “A aplicação repetida e frequente de pequenas forças sobre um osso pode levar a uma fadiga que condiciona a fratura”, explicou, acrescentando que a gravidade da fratura pode variar bastante. “Algumas se resolvem de forma espontânea, sem chegar até  a ser diagnosticadas, enquanto outras acarretam risco de morte, pelas complicações, e são emergências médicas”, completou.

Tratamento

Quanto ao tratamento de uma fratura, Adriano Leite que disse ele também depende da avaliação de diversos fatores, como o nível do desvio, se é exposta ou não, se foi dentro ou fora da articulação – que é onde se desenvolve o movimento, entre outras questões. “Não se pode generalizar, pois cada fratura tem uma perculariedade própria. Até a idade influencia no tratamento e nas repostas dele”, comentou o médico.

Ainda segundo ele, a cirurgia surge como última opção, geralmente aplicada nos casos de fraturas expostas ou quando o tratamento conservador não é eficaz. “Esse último tenta otimizar as condições em que ocorre o processo natural de reparação do osso, sem infligir traumatismos adicionais, geralmente associados a uma cirurgia. O processo varia conforme o osso atingido e o tipo de lesão e causa”, detalhou.

Já na cirurgia, conforme Adriano, “via de regra, busca-se uma redução anatômica (trazer o osso o mais próximo possível do que era antes) e uma fixação estável (manter essa fratura parada ou estável o maior tempo possível para haver uma consolidação óssea). Permite também corrigir algumas lesões das partes moles que ficam envoltas aos ossos, em especial vasos sanguíneos e nervos, que possam ter rompido”.

Após o alinhamento da fratura, o membro afetado é estabilizado utilizando meios como a tala gessada e o gesso fechado. “O tempo em que é mantida a imobilização varia conforme o osso fraturado e a região do osso atingida, podendo variar de três a oito semanas, ou até mais”, declarou. 

Trauma fez 291 cirurgias em seis meses 

De janeiro a julho deste ano, somente o Hospital de Emergência e Trauma  Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, notificou 291 procedimentos cirúrgicos em pacientes com fratura exposta, sendo junho o mês com mais ocorrências: 61. Em seguida, aparece janeiro, com 51 casos, período de férias e em que a capital recebe muitos visitantes.

Conforme o ortopedista e traumatologista Adriano Leite as fraturas expostas apresentam maior risco para os pacientes do que aquelas internas. Isso porque, no primeiro caso, há perfuração da pele e o osso fica em contato com o meio ambiente, suscetível a contaminação por bactérias e consequente infecção. “Já nas fraturas fechadas o osso continua isolado do meio externo por seu invólucro de tecidos moles”, comentou o especialista. A assessoria de imprensa do Trauma não informou o número de atendimentos ou procedimentos cirúrgicos envolvendo fraturas internas. 

ASSISTÊNCIA

Conforme o  coordenador da gestão hospitalar de João Pessoa, André Sassi, a rede gerida pela Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa (SMS) oferece assistência aos fraturados em três locais: Hospital Ortotrauma de Mangabeira (referência para as situações cirúrgicas), Centro de Atendimento à Saúde (Cais) de Jaguaribe (que funciona 12h por dia de domingo a domingo, no pronto-atendimento às fraturas mais simples, sem desvio de ossos) e ainda a Central de Fraturas, clínica conveniada que também realiza os atendimentos de pesquenas fraturas e entorses.

“A central funciona semelhantemente ao Cais de Jaguaribe, sendo que 24 horas”, comentou o  coordenador da gestão hospitalar de João Pessoa, André Sassi. Já no Estado, um dos hospitais de referência é o Trauma, de João Pessoa, e os regionais distribuídos pelo Estado. A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA procurou a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde (SES), a fim de saber mais detalhes sobre as unidades de referência mantidas pela gestão na Paraíba. Contudo, até o fechamento desta edição, não obteve resposta. (CA) 

Dieta balanceada deixa ossos resistentes

Dieta balanceada, com elementos como cálcio, prática regular de exercícios físicos adequados, além do não desenvolvimento de vícios, compõem a receita para desenvolver ossos mais resistentes. Entretanto, o ortopedista e traumatologista Adriano Leite alertou que mesmo ossos saudáveis irão “quebrar se a força aplicada sobre eles tiver intensidade o bastante para tal. Ossos enfraquecidos por doenças ou por pouco uso, contudo, podem quebrar mais facilmente do que os saudáveis”.

Por isso, pessoas incluídas em grupos de risco, como os idosos, que têm os ossos mais fragilizados, devem ficar ainda mais atentos e evitar desenvolver atividades que ofereçam algum tipo de risco: como subir em escadas, bancos, além de caminhar sem cuidado. As mulheres devem ingerir cálcio   de maneira reforçada, além de realizar exercícios de peso, para garantir que os ossos fiquem fortes o bastante para ‘atravessar’ a menopausa sem problemas.

O médico também orientou que ao perceber sintomas como dores habituais, incapacidade de mexer o membro e deformidade, a pessoa deve procurar um especialista e seguir as recomendações dadas por ele. “Embora os sinais variem de acordo com o tipo e localização da fratura”, completou Adriano Leite. (CA) 

Fonte: Camila Alves (Jornal da Paraíba)

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