Os ministros da Saúde, Saraiva Felipe, e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Matilde Ribeiro, participaram no dia 01/12 da solenidade alusiva ao Dia Mundial de Luta Contra a Aids, que este ano, no Brasil, tem como tema Aids e racismo. O Brasil tem que viver sem preconceito. O evento foi na sede do Ministério da Saúde, em Brasília. O tema foi escolhido a partir da perspectiva de que a população negra nunca foi alvo de campanhas de prevenção da aids, embora represente 47,3% dos brasileiros, de acordo com o IBGE. Além disso, os negros são 65% da população de baixa renda, que tem acesso precário a informações sobre prevenção e aos serviços de saúde. No Brasil, apesar da tendência à estabilização da epidemia, os casos de aids vêm aumentando entre os mais pobres. “Resolvemos ter um olhar especial para os brasileiros afrodescendendes porque verificamos um aumento do número de casos de aids entre essa população. Decidimos junto com ONGs, com a Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial e com celebridades negras dar um enfoque chamando atenção para a vinculação entre racismo, pobreza e aumento dos casos de aids nesse segmento da população brasileira. São pessoas que, por estarem no extrato mais pobre da sociedade, têm menos acesso às informações e aos serviços de saúde, dentro do contexto de pobreza e discriminação racial no país”, disse o ministro Saraiva Felipe. Homenagens – Durante a solenidade, a cantora Daniela Mercury e a primeira diretora do Programa Nacional de DST/Aids, Lair Guerra, foram homenageadas pelo engajamento na luta contra a doença. A cantora baiana estrelou a última campanha de carnaval do Ministério da Saúde e têm defendido com coragem e determinação o uso do preservativo como forma de proteção contra o HIV. Lair Guerra, por sua vez, destacou-se pelo pioneirismo na formulação das primeiras políticas nacionais de resposta à epidemia. Ela afastou-se do cargo em 1996, em decorrência de um acidente de trabalho. Cinco organizações não-governamentais, quatro universidades, quatro ativistas (dois deles in memoriam) e a coordenação estadual de DST/aids de São Paulo também foram homenageadas por se destacarem em ações para diminuir o preconceito e a vulnerabilidade dos negros à epidemia. “As campanhas de saúde pública no Brasil só dão certo quando a sociedade as abraça. E, dentro da sociedade, as ONGs e os artistas têm tido um papel fundamental, não só em relação à aids, mas em relação a outras ações de saúde executadas no país”, declarou o ministro da Saúde. Na solenidade foi lançado o carimbo comemorativo ao Ano Nacional de Promoção da Igualdade Racial, produzido pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. O evento foi transmitido em tempo real pelo site do Programa Nacional de DST/Aids (www.aids.gov.br). Outras atividades oficiais marcam o Dia Mundial de Luta contra a Aids. À noite, às 20h, o ministro da Saúde e a secretária fazem pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV sobre o tema. Em Salvador, será realizado um show para 5,5 mil pessoas, com o objetivo de promover a inclusão racial e enfrentar a epidemia. O evento reunirá 13 artistas na Concha Acústica da capital baiana. O Programa Nacional de DST/Aids aproveita a data para publicar na internet o resumo dos artigos científicos que foram selecionados em resposta à chamada realizada em junho deste ano. Os textos são assinados por especialistas e ativistas, e os temas são relacionados à prevenção, ao diagnóstico, ao tratamento, e aos direitos humanos das pessoas com HIV/aids. Vulnerabilidade – Não existe evidência científica de que a população negra apresente especificidades biológicas que a tornam mais suscetível à infecção pelo HIV. No entanto, condições sociais, econômicas e racismo são fatores que podem gerar ou aumentar a vulnerabilidade ao vírus e à doença. O Boletim Epidemiológico 2005 mostra, que nos casos notificados com a variável raça/cor, houve queda proporcional entre as pessoas que disseram ser da cor branca e aumento proporcional entre aquelas que se auto-referiram como sendo pretos ou pardos, especialmente entre os pardos. Em 2003, os homens que disseram ser da cor branca responderam por 60,7% dos casos registrados com a variável raça/cor. Naquele ano, as mulheres que se disseram de cor branca responderam por 58,3%. Em 2004, o percentual entre os homens caiu para 56,6% e entre as mulheres, para 52,8%. Ações afirmativas – O Programa Estratégico de Ações Afirmativas: População Negra e Aids é uma iniciativa dos ministérios da Saúde e da Educação, em parceria com a Seppir e com a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH). O objetivo é combater a discriminação racial e étnica, promover a igualdade, a eqüidade e os diretos humanos da população negra. A primeira ação do programa, em dezembro de 2004, foi o lançamento do Afroatitude, que distribui bolsas de iniciação científica para alunos cotistas de 11 universidades brasileiras. A verba é destinada para pesquisas sobre a epidemia de HIV/aids na população negra. Fonte: Agência Saúde
Aids e racismo. O Brasil tem que viver sem preconceito
05/12/2005 | 00:00