O CRM-PB possui trabalhos de artistas locais renomados que estão integrados à sua sede, como a escultura em cerâmica esmaltada de nome “Xamã”, autoria de Miguel dos Santos; um tríptico em pintura acrílica de 3m x 5,4m, e um painel cerâmico de 1,4m x 7m, esses dois últimos autoria de Rodolfo Athayde.
Em seu trabalho, desenvolvido especialmente para a sede do Conselho Regional de Medicina da Paraíba, em João Pessoa, o artista e também médico, Rodolfo Athayde, foi buscar alento junto aos elementos decorativos do mosteiro São Francisco, memória histórica, artístico e arquitetônica, do nosso mais expressivo exemplar de arquitetura barroca.
A azulejaria presente no claustro parece revisitada e serve de base para uma pesquisa simbólica onde a técnica e a preocupação estética são constantemente interrogadas. Assim, para o autor, nas primeiras investidas, experimenta-se aquilo que se decanta no sentido inverso, do fundo à superfície. O que se vela, mas que se revela mais tarde.
As cerâmicas dispostas lado a lado constroem uma narrativa visual composta de elementos cujos movimentos em espiral dão ritmo e fluidez à composição. O retorcimento das formas das conchas, volutas e grafismos circulares ressoa em melodias não premeditadas, em uma partitura musical/visual. A musicalidade se soma o contraste entre o amarelo e azul, curiosamente o verde da medicina.
Numa linguagem contemporânea, o artista se utiliza da mesma característica da estética barroca, a ruptura com a narrativa linear, para mais uma vez decompor os códigos originais. Deste modo, o jogo de imagens, assim como um jogo de palavras é utilizado para enfatizar, exaltar uma única mensagem. A ornamentação artística introduzida por Rodolfo Athayde na arquitetura sóbria de traços contemporâneos de Gilberto Guedes, se transforma em alegoria, em estímulo às sensações, com propósitos reais de humanização.
Texto: Maria Botelho – Diretora do Casarão 34 Curadora de Artes Visuais