CRM-PB Entrevista: dra Catarina Nóbrega Lopes

As Unidades Básicas de Saúde (UBS) são a porta de entrada do paciente que procura atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo destes postos é atender a maioria dos problemas de saúde da população, para que não haja sobrecarga nos serviços de emergência e hospitais. No entanto, a realidade é bem distinta e grande parte das UBS sofrem com problemas estruturais, falta de equipamentos básicos, medicamentos e profissionais, como revelam os relatórios das fiscalizações realizadas pelo Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB).

 

“O maior desafio como médica é entregar um bom trabalho com pouquíssimas condições”, afirma a médica Catarina Nóbrega Lopes, que trabalha na USF Mangabeira Integrada, em João Pessoa. Formada pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Paraíba, em 2021, logo no mês seguinte a jovem médica de 26 anos foi trabalhar e conhecer a realidade das unidades básicas.

 

Na entrevista a seguir, ela fala da sua rotina de trabalho, dos desafios e dificuldades, da importância do médico da família e comunidade, além da necessidade de melhorias nas UBS, muitas vezes motivadas pelas vistorias do CRM-PB. “A fiscalização do CRM é essencial para expor as condições de trabalhos, a realidade médica e da saúde”, afirmou.

 

Como é sua rotina de trabalho em uma unidade básica de saúde? E quais os principais desafios?

Trabalho cinco dias na semana, tendo 1 turno de estudo disponível. A maioria das USF em João Pessoa funcionam dessa forma, com média de 30 atendimentos por dia, baixa complexidade, mas com uma importância altíssima para manutenção da vida do usuário da saúde pública diretamente. Hoje, na realidade da USF Mangabeira Integrada, o maior desafio é entregar um bom trabalho médico com pouquíssimas condições de trabalho. Falo isso abrangendo tanto a parte estrutural física, como equipamentos e dinâmica da própria unidade por parte de todos que a fazem. Ainda existe um abismo enorme entre resolutividade e funcionalidade, prejudicando, na maioria das vezes, o engajamento do usuário na continuidade do seu tratamento.

 

Qual a importância do médico de família para a comunidade?

O médico da família deveria ter todos os aparatos, até simples, para conseguir cuidar de um paciente de forma contínua. O médico da família é aquele que o usuário consegue chamar de “seu”. Fazendo uma analogia, é como um pediatra, que desde o nascimento está junto, ultrapassando, até mesmo os 18 ou 21 anos de idade, acompanhando o envelhecer saudável de cada usuário e suas famílias.

 

Como o médico atua na unidade básica de saúde? Como é o trabalho em equipe com os demais profissionais da saúde?

O médico atua de forma generalista nas necessidades do paciente e de forma continuada, idealmente prestando uma assistência integral e longínqua. O médico especialista em saúde da família atua nessa frente de serviço abrangendo o indivíduo de forma holística, com o cuidado centrado na pessoa. Por isso é fundamental a residência em saúde da família. O atendimento é essencial que seja feito com toda a equipe caminhando na mesma direção. Todos que compõe a USF e/ou ESF são igualmente essenciais para um cuidado verdadeiro ao paciente.

 

Quais são os principais problemas enfrentados pelo médico nas unidades básicas de saúde para conseguir oferecer um atendimento digno e de qualidade?

Acredito que para um atendimento ser digno, o mínimo que devemos ter é privacidade, é tempo de conversa, é um ambiente limpo e calmo. A maior dificuldade, para mim, nas unidades de saúde, são os ambientes tumultuados, despreparados e em condições anos luz de distância da dignidade e de higiene que deve ser um ambiente de saúde.

 

O CRM-PB tem fiscalizado diversas unidades de saúde na Paraíba. Em João Pessoa, no ano passado, todas as UBSs foram vistoriadas e um relatório completo foi entregue à Secretaria Municipal de Saúde. Para a sra, após estas fiscalizações, há melhorias reais nas unidades?

A fiscalização do CRM é essencial para expor as condições de trabalhos, a realidade médica e da saúde. São funcionais, pois, agilizam um processo de reparos e reformas, mas, basta uma chuva, e alguns problemas voltam. Infelizmente, a reforma, muitas vezes, é um disfarce.

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