Dr. João José de Sousa
(Médico Sanitarista)

Nas horas “mortas” da madrugada, enquanto a imensa maioria dos cidadãos usufrui de seu merecido repouso, alguns velam a madrugada, num combate feroz contra a dor, a morte e o sofrimento humano.

Em meio a gemidos, reclamos, desespero e agonia, exercitamos o duro ofício de oferecer remédio, alívio, resgate e, quando necessário, consolo.

Pagamos um preço muito elevado: envelhecemos mais cedo, nosso sono é desregulado, a alimentação desregrada, o stress elevado. Nossas famílias se privam de nossas presenças, nossas camas ficam vazias. Ostentamos elevados índices de distúrbios orgânicos e emocionais pelo rigor de nossas batalhas nem sempre vencidas.

Mas escolhemos este caminho por amor à vida. Sabíamos que seria difícil e desgastante. E, embora alguns destroem ou tentam destruir os nossos ideais e nos envergonham com suas posturas e condutas antiéticas; a esmagadora maioria luta em suas pelejas com devoção e dignidade.

Embora soubéssemos que a medicina seria um árduo caminho, não tínhamos consciência plena de que também sofreríamos com a incompreensão e a ingratidão de muitos, gestores e pacientes e tampouco poderíamos, nem em nossos piores pesadelos de jovens idealistas, imaginar que seríamos alvos preferenciais de uma terrível campanha ideologicamente concebida e orquestrada, com o único objetivo de nos desmoralizar e nos demonizar frente àqueles que precisam de nosso trabalho e da nossa singular dedicação à vida.

Mas continuamos, apesar de tudo, acreditando na importância e na beleza de nosso ofício, e vencendo a maioria das batalhas contra as doenças e as mortes evitáveis. E continuaremos a nos emocionar com uma vida salva, uma dor aplacada ou mesmo com a dor da perda por parte de um completo estranho.

Continuaremos, todos os dias e o dia todo, em prontidão para combates que nunca são simulados, e faremos o melhor que pudermos.

Não, não somos nem deuses e nem semideuses e sim representantes da Infinita

Inteligência Superior, para aliviar a dor humana daqueles que sofrem. Somos pais, mães, filhos e filhas, cidadãos, gente, seres humanos. Precisamos de descanso, de compreensão, de apoio. Precisamos de ética e dignidade para trabalhar com a plenitude de nossas capacidades.

Podemos errar, mas nunca por ser esta a nossa intenção, mas porque nosso trabalho nos dá, às vezes, uma janela de poucos minutos ou mesmo segundos para tomar decisões gravíssimas.

E quando ouvimos um agradecimento ou um gesto de reconhecimento, cada vez mais raros nestes dias de valores corrompidos e distorcidos, sentimos que tudo valeu a pena.

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