Autor: Fernando Lianza Dias (Cardiologista  – CRM-PB/2547)

Veiculação: Jornal do CRM-PB Nº 71 – Jan/Mar 2007


Um ser vestido de branco e que só “existe” em consultórios e hospitais, mas depois despido das “fraqueza humanas” esta e a figura ideal para sentar ao lado de Deus.E ela é, por acaso, um médico.Porém como nossa sociedade não há direitos, nem deveres, o médico como “ser superior”, paga um preço muito alto – aliás, sempre pago pelo poder.Exemplo disto é jamais transparecer qualquer preocupação com o dinheiro- como se a inflação o  poupasse. Seria ele então um mito?

O fato é que atitudes de tomada de posição, como, entre outras, os movimentos de classe no sentido de se fazer mais atuante, reivindicando melhores salários ou realizando greves, tornam patente que esta imagem se encontra em um processo de desmitificação. Difícil de ser encarada tanto pelo médico como pelo paciente a desencarnação do mito levanta a seguinte questão: pode o homem viver sem mitos?

Pacientes idosos, adolescentes, ou em situação crítica de estado grave – estes são os que ainda mantém a imagem do “ser especial”, levados por carências e inseguranças e reagindo das formas mais bizarras, como beijar a mão do médico em sinal de respeito.Parece então, difícil viver sem o mito ou mesmo abdicar do papel de sumo-sacerdote, ou seja um semideus.

À parte essa posição mítica, o médico pode e deve tentar manter com seu paciente. A influência que exerce sobre eles é necessária na medida em que envolve uma confiança depositada mutuamente.Desta forma, se consideramos realmente como ultrapassado o “poder”, afigura-se possível ao clínico, mais do que qualquer outro, voltar a assumir este papel.Afinal, a conversa prévia à consulta propriamente dita, pode além de estreitar o relacionamento, evitar alguns inconvenientes ou mesmo erros.

Assim começa a esclarecer-se a questão: “o poder” não se perdeu no tempo, embora tenha se modificado um pouco em seu aspecto, este delicado e importante assunto foi objeto de trabalho que escrevemos, “ Poder Médico:  a queda do mito?”. E  os motivos são simples nem o médico, nem o paciente desejam vê-lo perdido.Tal afirmativa encontra respaldo, por exemplo na opinião do grande Fernando Magalhães, “príncipe das letras médicas”, ao sentenciar que: “muitas vezes o tratamento de um paciente não se faz utilizando-se drogas mais sim através da convocação de parentes na tentativa de contornar situações de conflito familiar”.Nós acabamos atuando de forma preponderante no campo da psicanálise, ainda que alguns de nós não tenhamos sólidos embasamentos nessa área, porém o médico em nosso ponto de vista pessoal tem que abrigar amplos conhecimentos das mentes humanas, daí assertiva de que o médico é antes de tudo um psicólogo.Para os que não possuem tais aptidões, a prática da vida, a experiência profissional adquirida ao longo dos anos e o bom senso são paradigmas na orientação do paciente no bojo deste contexto.

Finalizando, fazemos uma indagação e uma reflexão em torno do assunto em questão para ser  respondida e refletida ao longo do tempo: Será que essa aura, este poder, este mito em torno do médico acabou por completo? . A resposta virá naturalmente revivendo o nosso apostolado hipocrático: a partir do juramento que prestamos no momento mais grandioso de nossas vidas, quando embevecidos por sonhos ideais e grandes esperanças, esculpimos indelevelmente em nosso âmago, a sublime missão de ser médico.

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