Por Dr. João Modesto Filho – CRM 973/PB
Presidente do CRM-PB

Desde a descoberta da penicilina em 1928, a utilização dos antibióticos, uma das grandes descobertas do século vinte, tem salvado milhões de vidas e, juntamente com as vacinas, aumentaram a expectativa de vida em vinte anos. Os antibióticos são, sem dúvida, a principal arma que temos contra infecções causadas por bactérias. Lamentavelmente, essas substancias combatem não apenas as bactérias chamadas patógenas, que provocam doenças, mas também as comensais, as que concedem benefícios ao organismo. Assim, os antibióticos afetam nosso ecossistema e podem trazer consequências negativas para a saúde tanto a curto como a longo prazo. Nesse sentido, temos a disbiose, que é um desequilíbrio na composição da nossa microbiota e que predispõe a inúmeras doenças, e a preocupante resistência aos antibióticos. Por isso, muitos cientistas entendem que essa resistência pode comprometer um século de progresso médico. Em suma, podemos estar diante de uma verdadeira bomba-relógio.

Nesse sentido, desde 2015, a Organização Mundial da Saúde – OMS – organiza a “Semana Mundial de Conscientização sobre o Uso de Antibióticos” no mês de novembro. Com isso, procura mostrar que os antibióticos, que foram concebidos para curar, estão se tornando menos eficazes e deixando de curar certas infecções, o que nos leva a um futuro que pode ser sombrio. Estima-se que a resistência aos antibióticos poderá ser responsável por cerca de 1.2 milhões de mortes em nível mundial todos os anos, segundo um estudo recente publicado na revista médica “The Lancet”. Por isso, a importância de informar aos pacientes sobre os riscos de disbiose associada a utilização excessiva e inadequada dos antibióticos. Já é fato bem conhecido, por exemplo, que antibióticos de largo espectro usados para tratar infecções pulmonares, são considerados um dos principais responsáveis por esta resistência, particularmente nas populações ocidentais.

 

Percentualmente, o impacto dos antibióticos nas microbiotas do organismo mostra que 35% dos pacientes apresentam diarreia; 10 a 30% das mulheres desenvolvem candidíase vulvovaginal; 60% daqueles tratados para acne mostram germes resistentes a um tipo de antibiótico – os macrolideos; antibióticos para tratar infecções do trato respiratório superior aumentam a incidência de otite média por um fator de 2.6; e, ainda, em longo prazo, alterações da microbiota induzidas por antibióticos podem representar um fator de risco para doenças alérgicas, autoimunes e metabólicas. Desse modo, está claro que os antibióticos salvam vidas, mas afetam bactérias benéficas para o organismo, apresentam efeitos secundários, podem desenvolver efeitos crônicos quando usado inadequadamente em fases precoces da vida e, enfim, é responsável pela não desejada resistência. Por fim, os antibióticos são uma arma poderosa na luta contra infecções bacterianas, mas uma utilização inadequada pode trazer malefícios incalculáveis, o que é um alerta não só para os médicos mas também para os pacientes e a população em geral.

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