O descaso com o Sistema Único de Saúde (SUS), o subfinanciamento do setor e a importância da conscientização da população sobre esses problemas antes das eleições deste ano foram os principais temas discutidos no último dia do I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina 2014 (I ENCM), em João Pessoa. O evento foi encerrado com um grande debate entre os conselheiros, que expuseram suas preocupações diante da proximidade das eleições e da necessidade da mudança na política brasileira, com a valorização do trabalho médico e a implantação de um sistema de saúde adequado à população.

            “O mais importante deste encontro foi a participação de cada um de vocês, conselheiros, que sairão daqui motivados a mudar a nossa realidade e transformar o nosso país em um lugar melhor e mais justo. Agradeço a presença de todos e ao presidente do CRM da Paraíba, João Medeiros Filho, que soube nos receber tão bem”, afirmou o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto Luís D’Ávila.

            O presidente do CRM-PB agradeceu a confiança do CFM em realizar o evento na Capital paraibana e destacou que as palestras e debates foram muito produtivos para o engradecimento do trabalho médico. “Quero ainda reforçar o nosso papel como médico, como formadores de opinião. Nós podemos e devemos informar aos nossos pacientes o caos da saúde pública. Encerro esse evento com a tranquilidade do dever cumprido e de braços abertos para recebê-los novamente”, disse.

            O debate sobre “Eleições 2014: Movimento médico, estratégias e conscientização da sociedade”, realizado na sexta-feira (21), foi coordenado por Roberto D’Ávila, teve João Medeiros como secretário e os expositores foram Carlos Vital (1o vice-presidente do CFM) e Aloísio Tibiriçá (2o vice-presidente do CFM). Vital apresentou um panorama da realidade brasileira, enfatizando o descaso com o SUS, o subfinanciamento da saúde, além dos demais problemas do país, como redução do PIB, ineficiência do transporte, da segurança e da educação. “Estamos vivendo um momento de desastrosa administração pública”, afirmou o 1o vice-presidente.

            “Mas as razões da nossa esperança é que estamos em um ano político, que merece ser chamado de ‘ano novo’. As eleições trazem incertezas e anseios, por isso temos que ser objetivos e ousados. Precisamos desempenhar nosso papel e buscarmos a dignidade do nosso trabalho, pois temos a responsabilidade da manutenção da vida”, encerrou Vital.

            O 2o vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá, destacou em sua apresentação o Plano Nacional dos CRMs, traçado no início do mês de janeiro, e o que já foi realizado. Ele reforçou que é preciso uma atuação conjunta das entidades médicas quanto à elaboração de uma plataforma dos médicos em defesa da saúde brasileira, dirigida aos candidatos das próximas eleições. “A partir de abril vamos iniciar mobilizações dos médicos. Temos que reforçar as fiscalizações e divulgar os resultados, buscar parcerias complementares e potencializar nossa comunicação”, disse.

            Tibiriçá destacou ainda que no Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, será uma data de advertência e protestos contra os planos de saúde. As atividades serão prolongadas durante uma semana e, no dia 8, haverá na Câmara dos Deputados um debate sobre o financiamento da saúde. “Queremos que o Dia Mundial da Saúde ecoe por todo o país”, afirmou.

            O último dia do encontro contou também com a presença do senador paraibano e médico Vital do Rêgo e da deputada federal Nilda Gondim. “A profissão médica precisa ser mais valorizada. Ano passado não foi fácil para a categoria, mas o CFM e o CRM da Paraíba podem estar certos que podem contar com um médico no Congresso Nacional”, disse.

Trabalho Médico no SUS

            Outro debate relevante no último dia do I ENCM foi sobre o Trabalho Médico no SUS, com exposições do presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremebe), Abelardo Meneses, e do 1o secretário do CFM, Desiré Carlos Callegari. Abelardo iniciou mostrando a situação caótica dos hospitais públicos da Bahia e do trabalho atuante do departamento de Fiscalização do Cremebe.

            “Temos uma parceria com o Ministério Público e, no ano passado, foram instauradas nove ações civis públicas contra o Governo do Estado. Infelizmente, a saúde na Bahia está enfrentando um verdadeiro caos”, disse o presidente, apresentando fotos das unidades de saúde fiscalizadas, que refletem o cenário de descaso.

            Desiré Carlos apresentou a situação dos hospitais conveniados com o SUS, mostrando a importância das unidades sem fins lucrativos e que prestam assistência gratuita à população, como as Santas Casas. “Essas instituições são muito importantes para os usuários do SUS e contribuem de forma significativa. Mesmo assim, a saúde continua no caos, com a quantidade de leitos diminuindo”, disse, acrescentando que, nos últimos sete anos, o país perdeu 15 mil leitos.

Saúde em Portugal preocupa médicos

            O bastonário da Ordem dos Médicos de Portugal (OMP), José Manuel Silva, foi um dos conferencistas do último dia do I ENCM. Em sua explanação, ele ressaltou que a qualidade da saúde em seu país também está em risco. “Cerca da metade dos jovens médicos que estão se formando em Portugal estão migrando para países que pagam mais e oferecem melhor qualidade de trabalho”, afirmou.

            Segundo ele, seu país possuía um dos melhores sistema de saúde do mundo, com baixa taxa de mortalidade infantil, excelentes profissionais, formação médica adequada e investimento. No entanto, o orçamento geral do país vem sofrendo restrições, principalmente na saúde. “Com isso, estamos enfrentando superlotação nos hospitais, falta de medicamentos e profissionais e crise nas urgências e emergências. Nós, médicos, não podemos aceitar isso. É nossa obrigação ética lutar contra esta situação”, afirmou. “Sem recursos financeiros, técnicos e médicos não há a verdadeira humanização da saúde”, concluiu.

           

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